Newton Mota: “Análise de desempenho não entende de divisão de base”

Newton acrescentou ainda que os clubes precisaram modificar a estratégia de encontrar

O processo de formação de novos talentos no futebol brasileiro abrange a capacidade de desenvolvimento dos clubes nacionais, com destaques para alguns que conseguem alimentar o cenário mundial com novos jogadores a cada temporada. Dessa maneira, uma das etapas desse processo é a captação de atletas provenientes do interior do estado. Na concepção do ex-dirigente das divisões de base do Esporte Clube Bahia e do Esporte Clube Vitória, Newton Mota, valorizou o cenário estadual – revelador de jogadores de qualidade -, mas rebateu a ineficácia para preparar os atletas desde a formação primária.

 

“A Bahia sempre foi pródiga em revelar jogadores, em ter jogadores de qualidade. Talvez seja um dos estados que tem mais visita de observadores. Tem clubes (de fora) que colocam observadores no Nordeste, mas com preferência na Bahia. A Bahia tem jogador bom, você citou a região de Juazeiro, mas se for em toda a Bahia, vai ver jogadores, embora hoje a quantidade de jogadores que tem potencial diminui muito por tudo que se apresenta. Não tem futsal, não tem rua, não tem esporte nas escolas. Isso tudo está conspirando para que o futebol decaia na sua iniciação e formação. E os garotos não são talvez bem preparados. Eles estranham o clima, estranham aspectos táticos dos clubes maiores e não estão talvez preparados para mudar radicalmente de uma região nordeste para o sul e muitos deles voltam”, avaliou, em entrevista ao programa BN Na Bola, da Rádio Salvador FM 92,3.

Reconhecido por ser uma das principais referências na construção e aparição de novos jogadores, Newton acrescentou ainda que os clubes precisaram modificar a estratégia de encontrar jogadores com talento encontrados até mesmo nos famosos ‘babas de rua’.

“O que eu percebo é que os clubes, de um modo geral acham que peneiras não funcionam. Eles tem um outro critério de avaliar jogador. Não se pode fazer avaliação para a base igual que se faz para o profissional. Na base, você tem que ir na fonte, você tem que ir na rua, ir em tudo que é lugar e olhar jogador. Hoje, a maneira de olhar jogador é diferente de 30, 40 anos atrás. O jogador de 30, 40 anos atrás, até de 20, já tinha uma qualidade. Rivaldo brinca que: ‘A vantagem que eu tive é que minha rua tinha mais buracos’. Ele jogava bola, tinha muito buraco e com isso, ele se tornou um jogador melhor preparado. Então, como jogador hoje não tem esse buracos para jogar, ele precisaria ser melhor treinado na sua iniciação”.

“A iniciação no Brasil é ruim, é carente. É como se não tivesse ensino bom no curso primário da educação no Brasil e se você não faz uma boa iniciação, você tem uma qualidade técnica do jogador comprometida. Muitos clubes, não quero fazer nenhum endereçamento e nem uma alusão, mas muitos clubes estão preguiçosos na sua busca. Não estão indo atrás de espaços no interior, de grandes trabalhos que tem no exterior e espera com mais facilidade e menos trabalho que surjam os craques e os craques não estão tão férteis assim. Concordo sobre a boa qualidade que tem em Juazeiro e toda região, concordo que os clubes da Bahia estão perdendo jogadores que vão primeiro para outros clubes mais poderosos. Isso tudo somado faz com que nossa formação tenha resultados piores”, completou.

Experiente no ramo de evidenciar novos atletas, Newton Mota entende que o trabalho do analista de desempenho nos clubes deve abranger projeções do que os profissionais podem render no futuro.

“Análise de desempenho não entende de divisão de base. Não entende nada. Eles não deveriam se meter em nada de divisão de base. Acho até que eles erram muito. A grande quantidade de jogadores que Bahia e Vitória contratam para o profissional, será que o departamento de análise não sabe, não referendou o jogador? São pessoas teóricas, são pessoas letradas, ilustradas, não que não entendam nada de futebol. Então, o departamento de análise deveria não se envolver com divisão de base. Divisão de base é talento, é vocação, é você saber olhar o jogador. Hoje você não pode analisar o jogador pelo que ele é e sim pelo que ele pode ser, porque hoje ele não é. É muito difícil achar um jogador pronto hoje, como achava antigamente. Então, não é análise de desempenho, não na teoria que o clube vai achar talentos que podem ser úteis na sua formação”, explicou.

Autor(a)

Pedro Moraes

Jornalista, formado pela Universidade Salvador (Unifacs). Possui passagens em vários ramos da comunicação, com destaques para impresso, sites e agências de Salvador e São Paulo. Contato: pedrohmoraessjorn@gmail.com

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