Luz no fim do túnel? É um trem…

REZA A LEI DE MURPHY que “se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará”. O Bahia sabe muito bem disso. Em crise há mais de uma década, o Tricolor parece alongar seu calvário a cada ano. Quando surge uma “luz no fim do túnel”, não passa de um trem. O fundo do poço fica mais difícil de enxergar a cada campeonato disputado, decepção acumulada e desculpa esfarrapada oferecida aos fanáticos pelo time.

Na arquibancada ou não, o certo é que o torcedor do Bahia cansou mesmo. A trégua inicial dada à atual diretoria acabou. Sete meses depois da posse de Marcelo Guimarães Filho, o “saldo” é desolador: mais um vice-campeonato baiano, outro fracasso na Copa do Brasil e um começo preocupante no Brasileirão. O “presidente da renovação” começa a enfrentar os protestos da torcida. E a autoproclamada competência do “todo-poderoso” Paulo Carneiro, diretor de futebol do clube, está em xeque.

Preocupação com a estrutura

Em sua defesa, a diretoria do Bahia apela para a famosa “herança maldita”, alegando que encontrou um clube acabado. Apesar de não admitir publicamente – o que seria uma crítica ácida às antigas administrações, inclusive a do próprio pai –, Marcelo Guimarães Filho deixa a avaliação nas entrelinhas.

O dirigente sempre faz questão de ressaltar o trabalho feito fora de campo. E nisso, tanto ele quanto Paulo Carneiro têm demonstrado competência. O Fazendão, enfim, tem cara de centro de treinamento de time grande – os campos foram reformados, a concentração virou canteiro de obras e os jogadores ganharam uma academia digna e não precisam mais sair do clube para fazer os trabalhos físicos.

A mudança no Fazendão foi tamanha que algo impensável há alguns meses pode acontecer este ano. Com o jogo da Seleção Brasileira em Pituaçu, no dia 9/9, é bem provável que o time do técnico Dunga realize seus treinos no Alto de Itinga.

Campanha ‘público zero’

Nem a primeira vitória fora de casa na Série B, dia 18/7, fez parte da torcida esquecer a campanha ‘Público Zero’ para o jogo de amanhã, contra o Vasco, em Pituaçu. “Nós, torcedores do Bahia, somos o maior patrimônio do clube. E, antes que seja tarde, precisamos mobilizar toda a massa para mostrar que merecemos MAIS… É hora de dar um apito final nessa situação”, diz o texto de autoria desconhecida que circulou na internet. Mas, no início da semana, a direção da Bamor garantiu presença no jogo. A torcida organizada divulgou nota dizendo que “não concorda nem participa das ideias de alguns falsos torcedores e falsos ‘profissionais’ de imprensa que vêm tentando esvaziar o clássico”. Postura diferente da adotada em 2007, quando campanha idêntica foi apoiada pelas organizadas.

Planejamento ineficiente

O planejamento ainda é um dos pontos fracos. À frente do Bahia desde o início do ano, Alexandre Gallo não conseguiu dar um sistema de jogo capaz de passar confiança ao torcedor. Juntamente com o diretor de futebol Paulo Carneiro e o presidente Marcelo Guimarães, ele participou da maioria das 40 contratações feitas até agora, com alto percentual de erro.Com o Baianão em andamento e a corda no pescoço, a bomba está nas mãos de Paulo Comelli. O novo treinador promete mais dispensas e contratações. Mais uma amostra de que o planejamento do final de 2008 ficará, mais uma vez, em uma das gavetas do Fazendão.

O Bahia em números

Jogadores contratados: 40
Jogadores dispensados: 11
Jogadores em vias de dispensa: 5
Folha de Pagamento (2008): cerca de R$ 350.000,00 mensais
Folha de pagamento (2009): cerca de R$ 900.000,00 mensais
aumento de cerca de 160%

Paulo Carneiro: erros nas contratações

O nome de Paulo Carneiro nunca foi unanimidade entre os tricolores. Mas, quando foi anunciado como diretor de futebol, o ex-presidente do Vitória contou com o apoio da maioria, mesmo depois de, torcedor “roxo” do Rubro-negro, ter feito diversas declarações ofensivas ao rival. Agora, sete meses depois de muito dinheiro gasto e pouco (ou nenhum) resultado, o dirigente já é contestado pela maior parte dos torcedores.

Paulo Carneiro e Marcelo Guimarães Filho prometeram nomes de peso no Bahia. Até agora, nada. Muito pelo contrário – Carneiro chegou ao clube vetando nomes esperados pela torcida, como o meia Ramon e o atacante Marcelo Ramos, alegando que os dois estavam “velhos demais”. Ele não mostra a competência de outras épocas nas contratações. Fora do futebol, iniciou o trabalho em conjunto com o empresário Orlando da Hora. Mas a parceria não deu tão certo assim.

Com os jogadores que já saíram,mais Evaldo, Alex Terra, Alex Maranhão, Lima, Joelson, o Bahia chegará à marca de 16 jogadores dispensados em apenas um semestre. Sem contar com a última “barrigada”. Adriano Pimenta foi garantido pelo diretor, mas, por questões financeiras, não deve mais vestir a camisa tricolor.

Truculência e ‘barracos’ históricos

Famoso pelo estilo truculento, Paulo Carneiro protagonizou “barracos” inesquecíveis. Já agrediu jornalistas, radialistas, desafetos e até jogadores do próprio clube que presidia – quem lembra da acusação de racismo feita pelo goleiro Felipe, hoje no Corinthians? Também tentou partir para a agressão física contra o radialista Noel Tavares, num dos elevadores da Justiça do Trabalho.

Aliás, Carneiro entrou com uma causa trabalhista contra o Vitória exigindo indenização de R$ 10 milhões, exatamente o mesmo valor que o presidente Alexi Portela, após mandar auditar as contas do clube, disse que ele havia desviado. Este ano, já no Bahia, Paulo Carneiro foi expulso do conselho deliberativo do Vitória. Não sem antes protagonizar mais um “barraco” – desta vez, troca de agressões verbais, numa rádio de Salvador, com o deputado federal José Rocha (PR). A discussão acalorada foi sobre a “paternidade” do Barradão. Embora Carneiro tenha modernizado e estruturado a praça esportiva, é bom esclarecer que o estádio foi construído no governo João Durval, sob as bênçãos de Antonio Carlos Magalhães e quando Rocha presidia o clube.

Lua-de-mel vira ‘lua-de-fel’

Agora, com a situação delicada, Paulo Carneiro revive uma famosa frase de sua lavra quando presidia o Vitória: “O que não presta aqui, eles pegam no Bahia”. Foi assim com Nadson e quase seria desta forma com o meia Ramon. A incipiente lua-de-mel com a torcida tricolor começou a acabar quando Carneiro decidiu aumentar o preço dos ingressos em Pituaçu e instituiu a cobrança para crianças menores de 12 anos.

No início do ano, quando a torcida ainda aceitava os valores inflacionados e a equipe ia bem em campo, Paulo Carneiro gabava-se de ter montado um bom time. “Há cinco ou seis anos que o Bahia não começa uma temporada contratando assim”, afirmou em um programa de televisão. É verdade. Como também é fato que, há cinco ou seis anos, o Bahia não aumentava tanto seus gastos com jogadores para fazer uma campanha tão mediana quanto as outras. Raphael Carneiro Jornal da Metrópole

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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