Impasse entre Ligas atrapalha avanço do Futebol Brasileiro

Ednaldo Rodrigues, apoia as mudanças, contudo quer consenso entre os clubes

Foto: Rodrigo Corsi/FPF

Finalmente alguém descobriu que os atuais campeonatos estaduais, sempre deficitários pelo natural desinteresse do grande público, precisam ser reavaliados e depois descontinuados, como também, limitar o papel da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) marcada no longo dos anos por uma enorme variedades acusações de corrupção. E talvez, o mais importante nesta iniciativa é reconhecer que são os clubes e seus torcedores os verdadeiros donos do futebol e como tal devem ter um papel preponderante para definir seu destino.

Em artigo publicado no Jornal “Estadão de São Paulo”, com assinatura do jornalista Eugenio Goussinsky, nesta segunda-feira, o assunto é tratado de forma clara quando joga uma luz do que pode se transformar o Futebol Brasileiro após a criação das Ligas e os obstáculos que precisam ser vencidos.

Segundo a matéria, o atual presidente da CBF, o baiano Ednaldo Rodrigues, apoia as mudanças, contudo quer consenso entre os clubes; além disso, quer que o novo modelo traga mais recursos para todos os envolvidos, sendo assim, a CBF abre mão de organizar os regionais e regulamentar a arbitragem, algo até pouco tempo seria impensável. Restaria à CBF a Seleção Brasileira e o registro das documentações dos atletas.

Porém, a questão agora reside no impasse entre dois grupos, a Liga Libra (Liga Brasil) e a LFF (Liga Forte Futebol), para a formação de uma Liga única que impede a própria CBF de definir qual será o seu papel após a implementação desta Liga (única).

“A relação da CBF é com clube e não com o investidor da Liga. Estou aberto a discutir e implementar a Liga, por se tratar de um desejo dos clubes e um avanço para o futebol. Vou completar um ano como presidente da CBF e desde então aguardo que os clubes unidos me apresentem um projeto, que acrescente para o futebol brasileiro como um todo”, declarou ao Estadão o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.

Nos bastidores da CBF, há expectativa de uma definição para que a própria entidade possa planejar suas atribuições no futuro. Dependendo do modelo da Liga, a entidade cuidaria ou não da arbitragem, por exemplo, entre vários outros assuntos administrativos. O desejo é ficar apenas com a seleção.

Ainda de acordo com a reportagem, é provável que, por um bom tempo, a CBF continue sendo a responsável pela inscrição dos atletas, seguindo os trâmites da Fifa, cuja hierarquia é baseada na comunicação com entidades continentais, nacionais e estaduais, pela ordem. Para Rodrigues, é fundamental que os clubes encontrem uma solução para o impasse. No momento, 18 clubes compõem a Libra e 26, a LFF.

“Ofereci a sede da CBF para que os clubes se reúnam e conversem, cheguem a um entendimento e me apresentem uma proposta concreta, que represente a união dos clubes, de todas as séries, e não a divergência”, completou o dirigente.

O próprio modelo da Liga também vai definir pela continuidade ou não dos campeonatos estaduais. Questionada pelo Estadão sobre essa possibilidade, a FPF apenas enviou uma mensagem com a seguinte frase: “A Federação Paulista de Futebol apoia a criação da Liga”.

MAIOR COMPETITIVIDADE

Do ponto de vista comercial, a expectativa é de que uma Liga mude o conceito de gestão do futebol, com os clubes potencializando suas receitas. A intenção é fazer do Campeonato Brasileiro, por exemplo, um dos mais rentáveis do mundo, a ponto de, com mais recursos, os participantes conseguirem manter os melhores jogadores por mais tempo no Brasil. E atrair outros, como fez nesta temporada com Suárez, no Grêmio, e Marcelo, no Fluminense.

E assim fazer as competições nacionais se aproximarem, no que diz respeito à competitividade, do nível das grandes ligas europeias, como a Premier League, na Inglaterra. “O futebol brasileiro pode ser um ótimo negócio, desde que seja 100% profissionalizado, com mudança na gestão, inclusão de governança fiscal e financeira, ou seja, modernização das práticas antigas”, afirma Luciano Wajchenberg, consultor financeiro com MBA na BBS/University of Richmond.

Em termos financeiros, a ideia é acessível, já que, neste momento, a economia brasileira é a 9ª do mundo, enquanto a do Reino Unido ocupa a 5ª colocação. Em 2011, no entanto, o Brasil chegou a ultrapassar o Reino Unido, alcançando o 6º lugar entre as maiores economias do mundo e demonstrando seu potencial competitivo.

Neste sentido, mais do que as cifras, é a forma de gestão nas últimas décadas que colocou o futebol brasileiro em um patamar mais baixo, em termos de valores de mercado. O consultor, no entanto, ressalta que se trata de um bom sinal, grandes fundos estrangeiros terem voltado suas atenções para o futebol brasileiro.

São os casos dos fundos Fundo Mubadala, dos Emirados Árabes, acertado com a Liga Libra, do Serengeti Asset Management, fundo americano, e da Life Capital Partners, dispostos a investir na LFF.

A LFF defende uma distribuição que considera mais equitativa dos valores, reduzindo a diferença entre o primeiro e último clubes nesta lista. Outros pontos exigidos pela LFF é que 20% das receitas sejam destinadas às Séries B e C do futebol nacional (a Libra propunha 15% para a Série B) e o fim da necessidade de unanimidade para aprovações na mudança do estatuto da nova Liga, temas que a Libra já se prontificou a analisar.

Nesta última Assembleia, realizada na própria sede da FPF, a Libra abriu mão de algumas posições e aceitou, entre outros itens, que o total distribuído de forma igualitária fosse de 45%, após uma transição de cinco anos, que faria a diferença entre o primeiro e o último cair de 4,88 vezes para 3,24 vezes, similar à da Premier League.

Há, no entanto, diferenças entre os modelos de uma Liga no Brasil e o que sustenta a Premier League, conforme ressalta Wajchenberg. “No caso da Premier League, pela legislação, o direito de venda das transmissões pertence ao mandante e esse direito é vendido pela Liga. As partidas são organizadas em pacotes, oferecidos ao mercado em leilões e não há transmissão em TV aberta ou gratuita, apenas na TV paga. Dos anos 90 até hoje, os direitos, apenas domésticos, da Premier League, cresceram 231%. A Liga também não é baseada nos recursos de investidores. Eles investem mais nos clubes”, diz.

Após as propostas da LFF e da Libra terem se aproximado, novas reuniões virão. Os próprios clubes, independentemente do grupo a que pertencem, se mostraram otimistas com uma definição para que, a partir de 2025, a Liga possa ser implementada.

É o caso do Goiás, que faz parte da LFF. Para Edmo Mendonça Pinheiro, presidente do conselho deliberativo do clube, não haverá Liga enquanto não houver um consenso. “O objetivo da LFF é que a gente encontre um caminho comum, também não existe Liga com parte de um grupo e parte de outro, entendemos que todos temos de estar dentro do mesmo barco, fico torcendo para que esse entendimento, essa união, sejam obtidos o quanto antes.”

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