O retrocesso da divisão de base do Esporte Clube Bahia

O último jovem bem vendido pelo clube foi o atacante Júnior Brumado

Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia

Não tenho muito conhecimento do que se passa no trabalho das divisões de base do Bahia, por não estar por dentro do métier do dia a dia do clube, numa época em que os cartolas cercearam o trabalho da imprensa esportiva, principalmente, daqueles profissionais tidos como setoristas do clube e que cobriam in loco e diariamente, suas atividades, mantendo seus torcedores informados. Infelizmente, para esses profissionais que garimpavam a notícia na fonte que é o centro de treinamento, mas, como está na moda, treinos fechados, secretos e entrevistas coletivas coordenadas e manipuladas pelo assessor de imprensa ou qualquer aspone do clube, ficou difícil para o repórter informar e quase impossível para o torcedor ficar a par do que acontece no dia a dia do seu clube.

 

A famigerada Lei Pelé desestimulou e, muito, um clube fazer grandes investimentos em suas divisões de base, haja vista que a aludida lei veio para ferrar os clubes, e beneficiar jogadores e empresários. Hoje em dia, um garoto quando se submete às tradicionais “peneiras” realizadas pelos clubes para selecionar e captar novos talentos, o garoto que é aprovado, já não é mais “dono de si”, porque, não basta somente ter os pais como responsáveis, mas, mais que isso, há o detalhe do garoto já ter um procurador ou empresário com tudo devidamente assinado, para gerir sua carreira e, muitas vezes acontece o pior, após o clube levar anos e anos, investindo dinheiro na formação humana e profissional do garoto, há algum problema de relacionamento entre jogador, clube e empresário e este, amparado pelas inúmeras brechas existente na Lei Pelé, consegue afastá-lo do clube e o coloca em outro e o clube formador é quem sai no prejuízo.

Pelo que tenho observado nos últimos anos, o Bahia vem deixando de formar atletas oriundos das categorias inferiores de base e tem optado em contratar jovens oriundos de outros clubes, já quase prontos para jogar no time de cima ou no sub-23 que em função da pandemia, teve que ser desmontado esse ano. Foi assim com Marco Antônio, Flávio, Saldanha, Fessin, Ramon, Fábio Alemão, Lucas Rodrigues, Caíque, Pará de outros menos votados, jogadores que iniciaram e desenvolveram carreiras na base de outros clubes, já chegando aqui com uma boa quilometragem rodada.

Imagino o alto custo que um clube tem para manter uma divisão de base, quando a maioria dos jogadores chegam, ainda na pré-adolescência o que demanda muito tempo para sua formação profissional, com o clube arcando com alojamento, educação, alimentação e outras despesas, um investimento aleatório que, no final, pode dar certo ou não, pois, quando chegar à colheita da “safra”, vai aparecer atletas que podem dar retorno técnico e financeiro ao clube, mas, jamais deixará de surgir os “feijões” da vida cheios de gorgulhos, para contaminá-la, mas, é assim que funciona uma divisão de base, faz-se uma grande semeadura, para colher poucos frutos aproveitáveis.

Nos últimos anos, houve muitas mudanças de comando nas divisões de base do Bahia e, se essas mudanças objetivavam um salto de qualidade ou crescimento nesse importante seguimento do clube, se houve crescimento, foi aquele inverso, típico de rabo de cavalo que só cresce para baixo. Além de não ter um bom histórico técnico nas competições que disputou ou, vem disputando – na última quarta-feira, o Bahia estreou no Brasileirão do Sub-20, perdendo para o Fluminense por 2×0 -, não tem revelado jogadores aptos nem para lançar no time profissional e muito menos para serem negociados para gerar receita aos cofres do clube, o último que rendeu um bom dinheiro foi o atacante Júnior Brumado, vendido por R$ 9 milhões, enquanto que Eric Ramires despertou o interesse de um clube suíço para sua aquisição, mas, após um ano de empréstimo, o negócio gorou e o jogador retornou.

Outro grande problema que vejo na divisão de base do Bahia é o protocolo ou o “cuidado” que se tem para um jogador estrear no time principal, se constituindo numa verdadeira ladainha, para não “queimar” o jogador numa eventual, atuação ruim. Em contrapartida, vejo constantemente e fico morrendo de inveja, outros clubes lançando garotos de suas divisões de base no time principal e em poucos jogos se tornam destaques e, consequentemente, além de qualificar ou requalificar seu time, podem ser negociados por vultosas quantias. Temos como exemplo recente, o menino Gabriel do Palmeiras, que além de ter sido decisivo na conquista do Paulistão, já foi convocado para Seleção Brasileira principal é já está na vitrine para o Verdão faturar uma boa grana, em esquecer que seu companheiro de posição é outro jovem da base, e que também se destaca, Patrick de Paula.

Para finalizar, imagino que torna-se imperativo que os gestores do Bahia, repensem à divisão de base do clube, contratando profissionais do ramo que tenham um olho clínico e outro cirúrgico no momento das “peneiradas” que sempre ocorrem tanto na capital como no interior do estado, para escolher ou selecionar bons talentos que no futuro, tragam retorno técnico e financeiro ao clube, o que não vem acontecendo ultimamente.

José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.

 

Autor(a)

José Antônio Reis

Torcedor Raiz do Bahêa, aposentado, que sempre procura deixar de lado o clubismo e o coração, para analisar os fatos de acordo com a razão. BBMP!

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