Fonte Nova: Aluguel baixo e despesas altas

O mesmo borderô que maltrata a Fonte Nova é generoso com uma extensa lista de beneficiários de suas rendas.

O Estádio baiano, onde morreram sete pessoas no domingo por um acidente causado ao que tudo indica por suas péssimas condições, é, entre os grandes estádios públicos do país, o que tem o valor do aluguel mais baixo (cobra 6% da renda bruta, contra 10% ou 12% da maioria dos outros campos).

Em compensação, tem uma imensa lista de taxas. Isso significa que na Fonte Nova o valor do aluguel, o dinheiro que efetivamente deveria ser gasto na sua manutenção, responde por só 17% do total das despesas de um jogo com casa cheia.

Em outros estádios públicos essa marca varia dos 19% do Mineirão, em Belo Horizonte, aos 36% do Machadão, em Natal. Estádios particulares usados por terceiros também valorizam mais o aluguel –no último clássico entre Corinthians e Palmeiras a locação do Morumbi respondeu por um quarto das despesas.

“Fizemos de tudo para ajudar o Bahia, por isso cobramos um aluguel barato”, diz Bobô, ex-ídolo do clube e hoje diretor da Sudesb (Superintendência dos Desportos da Bahia), que administra a Fonte Nova.

O borderô dos jogos do Bahia na terceira divisão mostram bem o quanto o valor destinado diretamente à Fonte Nova é pequeno quando comparado com outros descontos. Os 14 jogos com portões abertos do clube pela competição renderam R$ 301 mil para a Fonte Nova.

A Federação Bahiana de Futebol teve direito a R$ 251 mil para praticamente nada, já que até para mandar alguns funcionários encarregados de funções como afixar o regulamento da competição a entidade faz cobranças extras –no trágico jogo contra o Vila Nova-GO foram quase R$ 5.000 para isso.

“Não sei por que o Bahia paga taxa de quadro móvel para a federação se ele leva o seu próprio quadro móvel”, diz Bobô. “Os funcionários da federação servem para nos fiscalizar”, afirma Claus Dieter, gerente operacional do Bahia.

Salvador é uma das raras cidades que cobram ISS no futebol nacional –isso não existe em São Paulo, Rio e Porto Alegre. A alíquota é de 2,5%. Só na Série C isso representou uma sangria de R$ 50 nos borderôs.

Uma federação de jogadores profissionais morde 1% da renda bruta, o que acontece em praticamente todo o país (São Paulo é uma rara exceção). Quem joga na Fonte Nova ainda precisa pagar pelo policiamento e até pelo lanches dos agentes –no último domingo, foram quase R$ 5.000 para saciar a fome dos policiais.PAULO COBOS

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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