Não sei se é porque tenho a felicidade de pertencer à uma geração de costumes conservadores e que tem no seu perfil, a exigência de qualidade e perfeição. O fato é que me considero um conservador, sem deixar de ser inovador, mas, em matéria de esportes, é no quesito futebol onde nutro uma imensa e intensa paixão, que confesso ser um eterno saudosista, porque tive o prazer, a alegria e o delírio de conviver com os grandes momentos do nosso outrora futebol-arte que já foi praticado nos estádios nacionais e estrangeiros por grandes craques do passado (craques na acepção da palavra), que existiam em profusão, liderados pelo melhor e mais famoso de todos, o cidadão Edson Arantes do Nascimento, o inimitável Rei Pelé, o melhor jogador de todos os tempos do Planeta Terra, atleta que o saudoso locutor esportivo da Rádio Globo do Rio de Janeiro , Valdir Amaral o denominava em suas brilhantes narrações de “O Deus de todos os estádios”.
Por incrível que pareça, o “reinado” desse citado atleta, iniciou-se em 1958 e terminou em 1973, ou seja, perdurou por 15 anos quando o Rei Pelé, decidiu encerrar sua carreira no Santos, para jogar no Cosmos dos Estados Unidos, pois, além de ter recebido uma milionária proposta do clube americano, já estava cansado de “carregar na cabeça” o time santista por todos esses anos, coincidindo com a fase áurea do futebol brasileiro que num curto período de 12 anos (1958 a 1970), conquistou, três Copas do Mundo no peito e na raça e com todos os méritos, sem falar no monte de títulos conquistados pelo Santos no mesmo período, com o torcedor brasileiro tendo a obrigação e o dever de entender que, embora nesses três títulos conquistados, à nossa Seleção Canarinho tenha encantado o mundo ao praticar um belo futebol, haja vista que naquela época só vestia à “amarelinha” quem era craque de futebol e a seleção teve muitos, mas, temos que ressaltar que o Rei Pelé foi protagonista em todas as copas que disputou, sem esquecer do “Furacão” da Copa do México, o Jairzinho que nas sete partidas do Tri, marcou gol em todas.
Então, como contra fatos não há argumentos, contra números não há contestação e o Brasil é penta, mas, após o Tri de 1970, passou 24 anos na fila para ser Tetra e 8 anos na espera para ser Penta e vai disputar à Copa de 2022 no Catar (tomara que passe pelas eliminatórias), já com 20 anos na fila de espera para tentar conquistar o Hexa. Então, é fato consumado que a fase áurea da Seleção Brasileira está, literalmente, atrelada ao ciclo Pelé.
É verdade que os anos e décadas subsequentes à esse ciclo, tiveram outros craques se destacando no futebol e, consequentemente, brilhando nos escretes canarinhos, como aconteceu na seleção comandada por Telê Santana em 1982. Aliás, muitos analistas de futebol consideram essa seleção do Telê que atuou na Copa da Espanha, como a “melhor seleção brasileira de todos os tempos”! E aí eu pergunto: ganhou o quê? Sabemos que em toda atividade na vida, impera o pragmatismo e no futebol, não é diferente; na minha modesta opinião, a melhor seleção nacional de todos os tempos, foi a Seleção do Tri que uniu o útil ao agradável jogando futebol-show e pragmático e conquistando à Taça Jules Rimet, enquanto o “timaço” de Telê ficou em 5º. lugar.
Para se ter uma ideia da correlação entre essas duas seleções, esse ano comemora-se os 50 anos do Tri, enquanto ainda lamentamos o acontecimento de 38 anos atrás daquela frustração que nos abateu em 1982 e pra ser sincero, não sei escalar o time daquele fracasso, mas, escalo de cor e salteado à seleção do Tri: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivelino; Jairzinho, Tostão e Pelé! Esse time titular levava “sérios” problemas para o Técnico Zagalo escalar o time para o jogo subsequente, em função dos 11 titulares, terem 10 reservas à altura (só Pelé, não tinha reserva à altura), para qualquer substituição, inclusive, o craque Wilson Piazza que jogava no Cruzeiro e que era médio volante de ofício, foi improvisado de quarto zagueiro em função de outro craque, o Clodoaldo que era atleta do Santos e atuava na mesma posição, não ficar fora do time.
Tive que me aprofundar um pouco mais no assunto Pelé e seleção brasileira, por entender que o Rei do futebol sempre teve uma intensa e imensa dedicação, identificação e relação com o escrete canarinho: Pelé & Seleção Brasileira era igual à unha e carne. Mas, a respeito do título que gerou esse artigo, não é nada mais e nem nada a menos do que uma metáfora, utilizando o termo “de Pelé a Gajé” para fazer um comparativo do futebol-arte e pragmático que se jogava na era Pelé com o pífio futebol que tem se praticado ultimamente no Brasil, do Oiapoque Chuí e, mencionei o nome do folclórico Gajé por entender que, embora para muitos torcedores do Bahia tenha sido um grande jogador, para mim, um jogador “feijão com arroz”, do mesmo nível do ponta esquerda Canhoteiro. Sua qualidade técnica era tão questionada que, quando assistimos um atleta tentar fazer uma jogada bonita ou de efeito e erra, a gente diz: “fulano tentou tirar uma de Pelé mas, acabou dando uma de Gajé”!
E esse Gajé que me refiro, foi um ponta direita do Sul da Bahia que “estourou” em torneio intermunicipal, ele mesmo diz que fez onze gols contra Ubatã em uma única partida jogando pela seleção de Ipiaú (deve ter entrado no Guiness), e já jogando futebol profissional, foi campeão pelo Leônico em 1966 e aí, após tanta façanha, o então presidente do Bahia Osório Vilas-Boas achou que era “o cara” e o contratou para jogar no Esquadrão de Aço.
Mas, voltando à vaca fria, o nosso futebol de uns tempos para cá, apesar de movimentar essa dinheirama toda que tem movimentado, com os grandes clubes recebendo polpudas cotas de TV, negociando jogadores por milhões de euros e ostentando em seus uniformes o nome de importantes patrocinadores, não consegue ter craques em seus elencos para atrair seu torcedor a ir aos jogos e, o pior, com suas folhas de pagamentos inflacionadas em função da farra de altos salários praticada por essas agremiações e o grande exemplo dessa bancarrota do futebol brasileiro que veio à tona no final do ano passado, foi o Cruzeiro que, pela primeira vez na sua história, estará pisando na lona da Série B, uma divisão que, se já não é o inferno do futebol brasileiro, já é o início da ribanceira para chegar até ele. E o time mineiro acabou sendo rebaixado com um monte de medalhões, ganhando milhões e que agora, com dívidas impagáveis na praça, terá que se reinventar para tentar retornar à elite do futebol brasileiro.
E para conotar e corroborar com o quê procurei expressar nesse texto não é que, na última quarta-feira o Bahia conseguiu ser horrível sendo, precocemente, eliminado da Copa do Brasil pelo modesto River do Piauí, um time da Série D de dado (um dado que não tem nada a ver com Cavalcanti), quando para o tricolor baiano, um mísero empate, lhe garantiria à classificação? Para ser sincero, se ao invés do jogo ter sido pela Copa do Brasil e fosse pela Copa Sul-Americana e o tricolor tivesse enfrentado o famoso River [Plate], da Argentina, eu ainda ia tentar admitir, mas, com todo respeito ao time piauiense, trata-se de um fiasco inadmissível.
E o pior, já que o presidente do Bahia potencializa os altos orçamentos dos clubes – o próprio Bahia tem um orçamento de 179 milhões de reais para esse ano e uma folha de pagamento que beira 4 milhões de reais -, não sei nem se o River tem orçamento declarado para 2020, só sei que tem uma folha de pagamento de 150 mil reais/mês, ou seja, um valor que representa uns 4% da milionária folha do Esporte Clube Bahia e, se o River tiver orçamento, com certeza, o valor já será modificado porque, imagino que nem o gestor do clube imaginava receber tanto dinheiro na Copa do Brasil, justamente porque, não imaginava passar pelo Bahia, aliás, como o time piauiense já passou para segunda fase, com reais condições de avançar à fase subseqüente porque seu próximo adversário será o América de Natal, seu coirmão da Série D, já vai faturar mais que o Bahia que já deixou à competição, em função da eliminação.
Ademais, ainda continuando com meu conservadorismo e saudosismo, quando se jogava futebol com garra, técnica, seriedade e responsabilidade, o jogador entrava em campo e jogava do primeiro ao último minuto da partida, totalmente focado, concentrado e ligado no jogo. Nos tempos atuais, para minha tristeza e indignação, quando o Bahia toma um gol logo nos minutos iniciais da partida, algum jogador questionado pelo repórter, a respeito do lance, diz na entrevista: “entramos desconcentrado ou desligados no jogo, fomos surpreendidos pelo adversário e levamos o gol”. O outro cúmulo do absurdo, é quando o Bahia leva um gol nos acréscimos, como aconteceu no empate com o Jacuipense e aí, um atacante do Bahia em entrevista, declarou: “Desatenção. A gente ficou disperso. (….). Se estivéssemos mais ligados, poderíamos sair daqui com o triunfo”.(?!). Sem comentários, no mínimo, o autor ou ator de uma declaração tão amadora como esta, deveria ser chamado à responsabilidade pela diretoria.
José Antônio Reis, colaborador do Futebol Bahiano.