A década de 70, até hoje, é considerada por muita gente como a “década de ouro” do Esporte Clube Bahia! Por que? Porque no período, em dez campeonatos disputados, o Esquadrão de Aço conquistou oito, o de 1971 e o inesquecível e inédito hepta sequencial: 1973-1974-1975-1976-1977-1978-1979. Mas, para mim, a “década de ouro” do Bahia foi a de 80 quando, com todos os méritos, o Esquadrão de Aço conquistou o Bi-Campeonato Brasileiro de Futebol. Mesmo assim, ainda imaginam que os anos 70 contribuíram para uma memorável década, numa época em que o meu querido Esquadrão de Aço passou sete anos consecutivos voando em “céu de brigadeiro”, sem ter adversários à altura para atrapalhar seus planos de voo. Era um tempo em que à comunicação em tempo real resumia-se ao rádio, isto é, tempo real para o ouvinte, porque, quando se tratava de transmissões longínquas de Salvador, o era um verdadeiro “voo cego” para o narrador, ele só sabia se a transmissão foi realizada com sucesso ou não, quando chegava no hotel em que estava hospedado, quando recebia uma mensagem por telégrafo ou um telefonema da emissora.
Era, um ciclo tão favorável ao Esquadrão que, após o encerramento de uma partida do Bahia no então estádio da Fonte Nova, quem estivesse no entorno do estádio sem a companhia de um radinho de pilha, ao invés de nos perguntar o placar do jogo, perguntava-nos de quanto o Bahia vencera o jogo.
O grande detalhe desse hepta foi que, além do Bahia manter a regularidade de jogar bem durante esses sete anos consecutivos, teve cinco jogadores que atuaram no jogadores que atuaram no tricolor durante às sete temporadas, foram eles: Romero, Baiaco, Sapatão, Douglas e Fito, este último, protagonista de um dos mais polêmicos lances do futebol baiano que foi o gol marcado já no segundo tempo do jogo que tirou o placar do zero e carimbou o título do Hepta do Esquadrão de aço, um gol feito da intermediária que o goleiro Gelson “aceitou”, a maioria da torcida do Vitória o acusou de ter se “vendido”, enfim, um lance que rendeu uma enxurrada de comentários nos bares, botecos e botequins da cidade, fato ou fator que culminou com o precoce encerramento da carreira do atleta.
Seria uma injustiça de minha parte se, independentemente, desses jogadores citados que participaram do título, omitir o nome de outros grandes jogadores que brilharam não só durante a escalada do hepta, mas, também, durante toda aquela década: Zé Augusto, Roberto Rebouças, Jésum, Tyrson Chiquitinha, Mikey, Beijoca, Caio Cambalhota, Alberto Leguelé, Cristóvão [Borges], atual técnico do Atlético Goianiense e ex-treinador do Bahia, e muitos outros jogadores importantes, sem esquecer de Jorge Campos, um excelente ponta direita oriundo das divisões de base do Clube que se destacou e se valorizou muito, quando em 1978 seu “passe” foi vendido ao Atlético Mineiro e boa parte do dinheiro foi utilizada para compra do terreno e instalações do Fazendão sem esquecer, também, de citar os treinadores que contribuíram com tal façanha: Paulo Amaral, Evaristo Macedo, Carlos Froner, o “titio” Fantoni e Zezé Moreira.
O início desse ciclo vitorioso do meu querido Esporte Clube Bahia, coincidiu com o surgimento e/ou consolidação de excelentes profissionais do rádio esportivo da Bahia. Além daqueles cronistas da “velha guarda” citados no meu comentário anterior que permaneceram na “crista da onda” fazendo sucesso, o grande narrador esportivo e apresentador de resenha Marco Aurélio Magalhães que já trabalhava no rádio a algum tempo, começou a se destacar, a ocupar espaços, se consolidando, passando a ser mais um ícone do rádio esportivo da Bahia, já querendo ou tentando até, ameaçar a grande liderança e audiência do mito e carismático França Teixeira que ainda se mantinha na Rádio Cultura da Bahia.À essa altura do “campeonato”, França Teixeira que, como já dissera no meu comentário anterior, tinha um olho clínico para avaliar talentos, descobriu e contratou Armando Oliveira, na época, funcionário do Banco do Brasil, mas, um exímio conhecedor de futebol, o qual, com sua linguagem simples, seus inteligentes comentários e sua maneira de enxergar e analisar o futebol, acabou caindo nas graças do torcedor, sendo considerado, senão o melhor, um dos melhores comentaristas do Brasil.
A partir dos meados daquela década, o rádio esportivo da Bahia estava em plena efervescência. Naquela época áurea do rádio, o radialista que tinha muita audiência ou tinha “conteúdo”, como se adjetivava na época, era muito cobiçado no mercado e, muitas vezes, a emissora concorrente oferecia um aumento considerável no salário e ainda, “luvas”, para tê-lo em sua equipe. A verdade era que o rádio permanecia forte e absoluto e continuava a surgir outros valorosos radialistas a exemplo de Mário Freitas, Chico Queiroz, o “Imperador” Júlio César Santana, Juarez Oliveira, Manoel Messias, dentre outros. Enquanto acontecia todas essas movimentações no rádio, o Bahia reinava absoluto no futebol baiano e em 1978 o Esquadrão de Aço já carimbava o Hexacampeonato e foi, exatamente, nesse ano que França Teixeira juntamente, com seu sócio “Ovaro” Martins, fundaram a Rádio Clube de Salvador, uma emissora AM que começou a operar num modesto estúdio na Gamboa e em pouco tempo, se transferiu para suas novas instalações num prédio no bairro de Nazaré, próximo ao Colégio Severino Vieira.
E foi ali que França Teixeira deu uma sacudida geral na radiofonia baiana, pois, além da emissora contar com uma programação musical eclética que agradava baianos, gregos, troianos e metropolitanos, o grande mito do rádio baiano teve o cuidado de formar uma excelente equipe de profissionais, principalmente, no esporte que iria funcionar como o grande carro chefe da emissora. Além do comando e atuação dos donos da emissora, França Teixeira e “Ovaro” Martins, ainda formaram àquela grande equipe: o Comentarista Armando Oliveira, José Athayde Costa que apresentava às 7 horas da manhã seu tradicional “Bom Dia Bola”, juntamente com Antônio Tillemont que estava iniciando no rádio esportivo, como repórter setorista do Bahia, os narradores Sílvio Mendes, Juarez Oliveira e Jota Jota, repórteres Martinho Lélis, Zebim Pop e o então iniciante repórter e hoje o “Internacional” Silva Rocha, um respeitado cronista esportivo, um profissional que nunca negou sua preferência clubística, mas que, quando trabalhou na Rádio Sociedade da Bahia, como repórter setorista do Bahia durante quase 20 anos, exerceu à função com muita serenidade, seriedade e imparcialidade.
A década de oitenta, esta sim, na minha opinião, a década de ouro do Bahia, recheada de grandes acontecimentos, com o Esquadrão de Aço começando a brilhar em 1981 num confronto diante do Santa Cruz, quando o tricolor baiano, para se classificar à próxima fase da Taça de Prata, teria que vencer o adversário por cinco gols de diferença, massacrou por 5×0 e passou de fase. Naquele ano o centroavante Dario, o folclórico “Dadá Peito de Aço”, atuava pelo ,”Santinha” e antes do confronto, afirmara que: “Seria mais fácil acertar na Quina da Loto, do que o Bahia vencer o tricolor pernambucano com uma diferença de cinco gols”! Se ferrou, queimou à língua e no ano subsequente, se transferiu para o Bahia.
Durante à referida década, o Bahia conquistou sete estaduais, carimbando o título de Tetra-Campeão Baiano em 1984. Foi outra época em que o Bahia contava com grandes jogadores no seu elenco, fechando a década com a conquista do título de Bi-Campeão Brasileiro de 1988, o qual, em função da bagunça que ainda reinava no calendário do futebol brasileiro, a competição pertinente a 1988, só foi finalizada em 19/02/1989 com o Bahia levantando o “Caneco” em pleno estádio do Beira-Rio após o heroico e pragmático empate de 0x0, sob a o comando do mestre Evaristo de Macedo. No final desta década, também, surgiram novos cronistas esportivos: Dito Lopes, Márcio Martins, Manoel Pititinga, Paulo Gomes, dentre outros.
Ainda se referindo a 1989, Salvador foi escolhida como uma das sedes para mandar jogos da Copa América e como o Bahia continuava em alta após ter conquistado o título de âmbito nacional, o então treinador da Seleção Brasileira Sebastião Lazaroni, convocou o atacante Charles Fabian que fazia gol a todo e, após alguns jogos preparativos realizados na Europa, à Seleção chegou a Salvador para estrear na Fonte Nova diante da Venezuela e ai, para surpresa, revolta e decepção dos baianos, na véspera ou antevéspera do jogo, o “Bastião”, sem nenhum motivo ou, talvez por pirraça ou provavelmente, pelo rotineiro preconceito e ranço do futebol nordestino que sempre predominou nos sulistas, cortou Charles da Seleção, no hotel aonde estava concentrado todo grupo.
Foi o maior “furdunço” que já assisti em Salvador – muito maior até, daquele que à Prefeitura promove todo ano, para abertura do carnaval, quando pipocou protestos e manifestações tanto fora como dentro do estádio: ingressos rasgados, bandeiras do Brasil queimadas, apupos e insultos à comissão técnica, roletes de canas atirados ao banco de reservas dos visitantes, arremesso de copos descartáveis contendo aquele famigerado líquido que ninguém quer receber, enfim, foi um inferno. Na época, a TV Itapoan que já integrava o Sistema Nordeste de Comunicação, tinha um grande “filão” em sua programação que era o esporte e, justiça seja feita, mantinha um programa diário ao meio-dia, que era líder audiência, o “Telesportes” com Chico Queiroz, Paulo Cerqueira, Armando Oliveira, Moisés Bisesti e outros que me fogem à memória e também, o Lance Livre, líder absoluto de audiência no final das noites de domingo, que era apresentado por Chico Queiroz e Raimundo Varela, programas que jogavam ainda mais “combustível” na fogueira do “furdunço”.
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.