Uma verdade inconveniente

Quero interromper minha série de textos sobre o Memorial do Vitória, textos que considero importante não só para a melhor compreensão desta proposta, mas também para apoiar a construção de uma imagem valorizada sobre a história do clube, para falar, mais uma vez, sobre uma verdade inconveniente: o aluguel do Barradão.

Quando escrevi sobre o assunto anteriormente até recebi algum apoio, mas, de longe, fui muito mais repugnado. Isto porque opinei favoravelmente ao aluguel da arena. Mas, não avalio quantitativamente este balanço. Qualitativamente, as mensagens de apoio foram bem fundamentadas, enquanto as contrárias, na maioria, eram baseadas apenas em xingamentos e palavras odiosas.

Não estou aqui para condenar ninguém (nem moral teria para isto), mas quero voltar ao assunto para uma nova tentativa de fazer mais pessoas refletirem sobre isto que considero um desafio não para as pessoas como torcedores, mas como seres humanos.

Quando vejo guerras baseadas na intolerância, seja ela religiosa, política ou étnica, fico sem entender a dificuldade dessas pessoas em ceder à uma nova realidade. Antes que pensem que quero comparar o Barradão a Faixa de Gaza, digo que, daquela triste história, retiro apenas a lição de como idéias que não conseguem mudar podem trazer dificuldades.

Todos os avanços civilizatórios exigiram cooperação e inteligência entre os homens. Além disso, estamos em uma realidade que até podemos optar por não ver, mas ela está aí: violência, crescimento da população das cidades, devastação dos recursos naturais. O mundo nunca esteve tanto sobre pressão. O ser humano também não.

Sei que não vamos dar jeito no mundo, mas penso que devemos dar nossa contribuição. Porém, cedendo ou não nossa arena, sinto tristeza em ver esta voz quase que unânime. Raiva e revanchismo passam a se confundir com amor ao clube a ponto de excluírem e coagirem quem se coloca em posição discordante.

Vou reafirmar que baseio minha posição não de uma forma moralizadora. Entendo que devemos negociar em todos os aspectos possíveis o aluguel, pensando numa forma de tirarmos proveito financeiro de nossa posição como clube, coisa que foi conquistada com trabalho e, não, por sorte.

Salvador é onde nossa história acontece no mundo. Tudo de bom ou ruim passamos aqui e é aqui que devemos agir para promover aquilo que o homem necessita para viver e continuar vivendo: cooperação e inteligência.

Assim, penso que devemos e podemos continuar “tirando sarro” dos adversários, mas apenas de uma maneira esportiva e o que está acontecendo extrapola isto. Sei que pode parecer inconveniente, mas esta é a minha verdade: se seremos um clube melhor com o que proponho, não sei, mas que seremos melhores como seres humanos, disso tenho certeza.

Ricardo Azevedo
Barradão Online

Formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e associado da American Marketing Association (EUA). É autor do livro “Eu sou um nome na história – A história do Esporte Clube Vitória”.

E-mail: rico.azevedo@globo.com

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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