Flamengo quer peitar a Rede Globo

Do Blog Conversa fiada – Paulo Henrique Amorim

O Flamengo realizou uma pesquisa que mostra que o monopólio da Globo na transmissão dos campeonatos de futebol prejudica o crescimento das receitas dos clubes brasileiros

O presidente do Conselho Fiscal do Flamengo e responsável pela pesquisa, Leonardo Ribeiro, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim na segunda-feira, dia 12, que o modelo atual de negociação dos direitos de futebol beneficia a Globo .

“Televisão aberta, pay per view, jogo de quarta-feira, jogo de domingo, TV à cabo, TV fechada, aberta, eles botam tudo num produto só e vendem de uma vez só. Este valor fica muito elevado e somente a Globo pode pagar. Então, quando ela entra na concorrência ela entra para levar tudo ou nada. E se empatar, se ela tiver uma proposta muito alta e vier uma outra emissora e cobrir, se ela empatar ela leva. Ela joga pelo empate”, disse Ribeiro.

A proposta de Leonardo Ribeiro é que esses “produtos” sejam vendidos separadamente. Ele acredita que essa nova forma daria mais lucro aos clubes.

“Por exemplo, a ESPN pode pegar o jogo de quarta-feira, pode ir lá e concentrar a sua força econômica ali e aí a Globo vai ter que brigar ali com ela. Um outro produto qualquer, um jogo de clássico de domingo, esse aí a Record já briga só para esse jogo de domingo. Se você conseguir fracionar, e nós provamos isso no estudo, nuns cinco ou seis produtos, subprodutos, sai de R$ 200 e poucos, que é o contrato hoje, R$ 260 milhões, e pode chegar a R$ 750 milhões”, disse Ribeiro.

Leonardo Ribeiro disse que os dirigentes dos clubes brasileiros têm um misto de “falta de coragem” e dependência económica da Globo. Segundo ele, a Globo já adiantou o pagamento dos campeonatos de 2008 e 2009 aos clubes.

Leia a íntegra da entrevista de Leonardo Ribeiro:

Paulo Henrique Amorim – Eu como tricolor sou obrigado a lhe dar parabéns pela a magnífica vitória de ontem. Eu faço isso com uma certa dificuldade, mas não podia deixar de fazê-lo.

Leonardo Ribeiro – Flamengo, agora, nós temos que fazer um jogo… Você é tricolor em São Paulo, não é?

Paulo Henrique Amorim – Não, não! Tricolor do Rio, por favor.

Leonardo Ribeiro – É que nós temos que fazer o jogo com São Paulo para ver quem fica com a taça, porque são dois penta campeões.

Paulo Henrique Amorim – Nesta causa eu também dou apoio ao Flamengo, eu sou um tricolor democrata. Vamos lá, é o seguinte, eu li aqui na Folha de São Paulo que você fez um estudo provando que é mau negócio para os clubes de futebol esse monopólio da Globo em transmitir os jogos do Brasileirão. Como é que é isso?

Leonardo Ribeiro – É muito simples, Paulo, existe um sistema de renovação automática. Eles pegam todas as propriedades, todos os produtos e conteúdos e colocam em um único contrato e vendem em bloco aquilo. Botam vários produtos: televisão aberta, pay per view, jogo de quarta-feira, jogo de domingo, TV à cabo, TV fechada, aberta, eles botam tudo num produto só, num contrato só e vendem de uma vez só. Este valor fica muito elevado e somente a Globo pode pagar. Então, quando ela entra na concorrência ela entra para levar tudo ou nada. E se empatar, se ela tiver uma proposta muito alta e vier uma outra emissora e cobrir, e ela empatar, ela leva. Ela joga pelo empate.

Paulo Henrique Amorim – A Record fez uma proposta para levar o Brasileirão, não foi?

Leonardo Ribeiro – É, mas se a Globo empatar, leva a Globo. Nunca vai conseguir sair desse ciclo, dessa amarração. A Record vai fazer a proposta, a Globo vai igualar e vai levar. E mesmo assim, a Record tem um limite, o portfólio maior é da Globo. Então, nós fizemos um estudo e provamos através do estudo. Se fracionar os produtos, pay per view para um lado, TV fechada para outro, jogo de quarta-feira para outro, jogos principais, os clássicos, a Globo vai ter que disputar leilões com várias outras emissoras, com vários outros grupos que podem concentrar a sua ação numa coisa só. Por exemplo, a TV fechada, a ESPN pode pegar o jogo de quarta-feira, pode ir lá e concentrar a sua força econômica ali e aí a Globo vai ter que brigar ali com ela. Um outro produto qualquer, um jogo de clássico de domingo, esse aí a Record já briga só para esse jogo de domingo. Se você conseguir fracionar, e nós provamos isso no estudo, nuns cinco ou seis produtos, subprodutos ali, sai de R$ 200 e poucos, que é o contrato hoje, R$ 260 milhões, e pode chegar a R$ 750 milhões.

Paulo Henrique Amorim – E por que é que os clubes não parecem inclinados a fazer isso?

Leonardo Ribeiro – Essa é a pergunta-chave.

Paulo Henrique Amorim – É interessante isso, não é?

Leonardo Ribeiro – É interessante, por que é que os clubes não fazem isso? Em geral, muitos têm temor, os dirigentes…

Paulo Henrique Amorim – Tem medo da Globo.

Leonardo Ribeiro – Os dirigentes ficam constrangidos e tal. No final eles perguntam, quanto é que eu tenho aí para fazer o campeonato? Aí o cara fala, tem tanto. Aí vai e leva. Existe outro sistema perverso aí. Como há um sistema de adiantamento de recursos, o contrato que termina em 2008 a turma já está pegando grana de 2009. Aí fica fragilizado na negociação. Agora tem que pagar o décimo terceiro, aí a Globo vai e diz, “então eu não libero, se não assinar o contrato de renovação eu não libero”. Então tem um misto de dependência econômica e um misto dessa fraqueza dos dirigentes de peitar. Eu estou propondo aí, dentro dos sites independentes, abrir para o debate.

Paulo Henrique Amorim – É o que estou fazendo aqui agora.

Leonardo Ribeiro – Você com sua coragem e com sua independência…

Paulo Henrique Amorim – E com o espírito tricolor, que me anima e inspira!

Leonardo Ribeiro – É um rubronense, você quase.

Paulo Henrique Amorim – No momento eu sou rubronense.

Leonardo Ribeiro – O Fluminense vai ser beneficiado.

Paulo Henrique Amorim – Claro, é evidente.

Leonardo Ribeiro – Todos vão ser beneficiados se a gente conseguir. E agora o negócio está interessante porque parece que amanhã vai ter eleição no Clube dos 13. E logo depois que tiver a eleição, vai se montar uma comissão de negociação. O contrato atual vai até 2008, então é a partir de primeiro de janeiro de 2009. Mas todo mundo já pegou dinheiro antecipado, está todo mundo duro, pô. Olha só que problema. Então, nós estamos nessa luta. Eu tenho certeza de que se a gente conseguir despertar um debate sobre isso o contrato no mínimo vai ter que dobrar, eu desconfio. Só no debate, só no susto que vai se dar na turma o contrato já dobra. Se for mais adiante, pode chegar a R$ 750 milhões

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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