Ex-ministro da saúde não recomenda a volta do futebol neste momento

O retorno do calendário do futebol brasileiro compreensivelmente é incerto em decorrência da crise sanitária que assolou o mundo e neste momento tem seu ápice no Brasil onde já registramos 9.146, Marias, Robertos, Pedros, Felipes, Miras, Larissas, Terezas, Célias e Anas mortos todos vítimas do coronavírus e o pior, com uma expectativa que ainda nesta quinta-feira chegaremos a lamentável marca de DEZ MIL pessoas mortas por uma doença que um dia foi tratado pelo presidente da república Jair Bolsonaro, como uma gripezinha, como um resfriadinho, entre outros delírios.

 

Honestamente é duro às 17h assistir o boletim do Ministério da Saúde pela TV anunciar de forma fria que OUTROS 600, 700 ou 800 pessoas perderam a vida e horas depois agarrar a bandeira do Bahia e sair por aí GRITANDO BORA BAHIA MINHA PORRA ou PEGA LEÃO, isto sem considerar a quebrar do isolamento ou até mesmo assistir pelo TV dando ares de normalidade ao um quadro e um ambiente trágico e antes jamais experimentado e correndo o sério risco de ampliar um quadro já terrível. No meu entender, isto é falta de respeito com os mortos (e com aqueles que ainda não morreram) e um enorme desapreço com suas famílias, apesar dos prejuízos causados ao mundo esportivo.

Alguns clubes tentam forçar a barra e querem FUTEBOL de qualquer jeito, outros se utilizam sorrateiramente das Federações Estaduais para um retorno imediato, no entanto, estes são minorias e não contam com o apoio dos sindicatos dos atletas profissionais e das pessoas sensatas deste país.

Outro, este com certa autoridade no assunto, que se manifestou sobre o retorno foi Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde do atual governo que foi colocado para fora por não aceitar seus propósitos de relaxamento do isolamento social.

“Quando você quer acelerar a volta, um debate que eu tive com vários empresários, você corre o risco de acelerar, em nome da atividade econômica ou do esporte… Esses argumentos são muito fortes, aí a pessoa cai na tentação de acelerar. Essa aceleração pode levar a um quadro de transmissão desordenada, que leva a cidade ao que chamam de lockdown.

“Muita gente está achando que quarentena é aquilo que nós experimentamos nos meses passados. Não! Nós só fizemos a recomendação [do distanciamento social] pelo bom senso, orientação. Mas não paramos ninguém. Quando você determina quarentena ou lockdown, aí é uma coisa muito mais dura. É ficar em casa, sair no máximo para 50 metros da sua casa sob pena de multa ou prisão”, explicou Mandetta entre entrevista concedida ontem à noite ao canal ESPN Brasil.

“É uma coisa impositiva, a força da lei vai lhe colocar dentro de casa. E quando a cidade e os espaços têm de apelar para este tipo de medida, a economia, o futebol, o teatro e a cultura levam muito mais tempo para se recuperar. Basta você ver como está a Itália, que nem pensa em discutir volta de futebol”, destacou o ex-ministro.

Mandetta ainda lembrou que a região da Lombardia, a mais afetada da Itália pela covid-19, tem discutido últimos meses qual seria a parcela de culpa do futebol sobre o crescimento da epidemia; a opinião de muitos é de que o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, demorou a agir na interrupção do futebol e colocou multidões em risco: “A região da Lombardia colocou na conta dele os jogos de futebol como um dos prováveis vilões da proliferação”.

“Tenho acompanhado a discussão na Alemanha sobre a volta da Bundesliga. Eles vão fazer um protocolo muito rígido, tenho pedido qual é o protocolo que vão adotar. A Alemanha é um dos poucos países que tinham capacidade instalada porque trabalha nos hospitais com redundância: tudo o que tem ativo também tem no depósito do hospital em dobro. Quando teve necessidade, expandiu a rede muito rápido e tem profissionais bem formados”, disse.

“O Brasil tem problemas de equipamentos de proteção individual [EPI], respiradores e profissionais de saúde. O que seria razoável seria administrar duas variáveis: velocidade de transmissão, e vulnerabilidade. Melhorando a performance do sistema e controlando ao máximo a transmissibilidade, a gente passaria por esse estresse de maneira um pouco mais lenta. Em dois ou três meses, passaríamos, mas com muito menos perdas”, concluiu.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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