BA-VI do Barradão! A truculência e a intolerância no seu limite máximo

BANANA DURA para os torcedores tratados como idiotas.

Um dia após, o BA-VI que aconteceu apenas pela metade e que certamente será decidido nos tribunais repercute e repercute muito mal no sul do Brasil, minando o futebol do estado que em tempo de paz nunca despertou grande prestigio. Recentemente o atacante Neymar queixou-se que o futebol estaria ficando CHATO. Ele está coberto de razão. Ontem após o ocorrido no Barradão a entrevista do pessoal do Vitória soou como estivéssemos em estado de guerra.

A comemoração de um gol, algo comum já nos primórdios tempos do futebol transformou-se em crime inafiançável e a penalidade foi aplicada no ato: soco do olho e uma saraivada de pontapés e para completar a revolta, retira-se o time de campo e manda uma BANANA DURA para os torcedores tratados como idiotas.

A instituição Esporte Clube Vitória acabará de ser atingida com golpes de porrete. Essa foi à sensação transmitida pelo presidente do clube com a colaboração do técnico Vagner Mancini, tentando justificar a manobra para encerrar o jogo, surrupiando parte dos valores pagos pelos torcedores que acreditaram que estaria indo de fato assistir uma partida de futebol. Não foram. O que assistimos foi a total falta de respeito para aqueles que sustentam este negócio chamado futebol e para isto não tiveram qualquer cerimônia.

Ah a opinião dos parágrafos acima são de um torcedor do Bahia, logo, não tem valor por está contaminada pela rivalidade local. O exercício da indignação é o puro oportunismo na essência para desqualificar o adversário do Bahia. Assim alguns acreditam. Errado!



Hoje o respeitado jornalista Rodrigo Matos com o BLOG de bandeira UOL, trata do assunto, não apenas focado os tristes acontecimentos do BA-VI como a intolerância que tomou conta do futebol, acredito até, entre as pessoas não importando em qual segmento da vida estamos inserido. “Escreveu não leu, PAU comeu” não esteve tão atual e jamais foi tão usado como ferramenta própria de uma suposta justiça em nome do futebol que continua tendo leis próprias e despreza o básico do razoável. São os justiceiros agora também no futebol.

Como o jornalista não milita no futebol bahiano e não deve ser torcedor nem do Bahia ou Vitória faço o registro abaixo da sua visão da questão, talvez assim ganhe alguma credibilidade e uma reflexão mas apurada da pouca vergonha que presenciamos ontem à tarde no Estádio Manoel Barradas Carneiro.

Veja

Não tem nem dez dias que Vinicius Jr provocou uma desavença (já resolvida) entre Flamengo e Botafogo por causa de uma comemoração provocativa de gol. Neste domingo, o Ba-Vi acabou em soco na cara após um festejo de tento com dança de mais um Vinícius, o do Bahia.

Conclusão: quem faz gol, festa ou piada no futebol brasileiro já corre o risco de apanhar. O resultado de uma era de intolerância que se instalou nos campos nacionais a ponto de qualquer fagulha se transformar em um incêndio. E por que? O que mudou em relação a um futebol que até a década de 90 sabia rir de si mesmo e no qual esse tipo de episódio era mais raro?

Primeiro, nem cabe muito discutir o mérito das provocações. Obviamente que um torcedor ou jogador que é zoado não vai gostar. Mas, no limite, se não houve racismo, preconceito ou ofensa pesada com xingamento, há direito à livre expressão no país, e à brincadeira.

Daí é preciso ter maturidade para entender que um dia você brinca e, no outro, brincam contigo. Como você aprende de criança no play. Se isso já tem que valer na arquibancada, imagine para jogadores profissionais. Mas o que mais falta no futebol nacional é maturidade. Vejamos o caso do Ba-Vi.

Vinícius faz o festejo provocativo e o goleiro Fernando Miguel imediatamente pega no seu cangote. O que queria ali? Poderia ter argumentado, reclamado que seja, meio inútil, mas direito dele. Agora a atitude já é agressiva. Em seguida, o zagueiro Kanu, do Vitória, dá dois socos na cara de Vinícius, mais dois outros atletas do rubro-negro deferem socos nele que está seguro pelo goleiro. Parece covardia e é.

Após a briga, o técnico Vagner Mancini dá uma instrução a Ramon e, pouco depois, Bruno Bispo força a expulsão com um chute na bola. Em entrevista, Mancini diz não ter passado nenhuma orientação sobre o vermelho, provavelmente achando que todos somos tolos. Mais: culpa Vinícius por ter iniciado a confusão, sem nenhuma repreensão a seus jogadores que deram socos na cara do atleta do Bahia.

As duas cenas são reflexo de uma mesma moeda. Um futebol em que a vitória tem que ser obtida a qualquer custo, sem limite para artimanhas ou para a violência. E, se perder, põe a culpa no juiz, tenta parar o jogo, sai na mão ou vai para a Justiça Desportiva para tentar mudar o resultado independente do mérito da questão.

E a brincadeira? Essa é desnecessária e motivo da briga, como vi alguns comentaristas defenderem. Vale o argumento: ”Oh, eu te dei um soco na cara, mas foi você que me provocou.” Ou, então, jogadores e clubes têm que pedir desculpa pela piada como queria a diretoria do Botafogo no meio da semana em relação ao Flamengo.

Por essa lógica, teríamos de fazer uma reunião com os principais clubes para revisar cem anos de provocações mútuas, e todos os dirigentes irão com uma lista imensa: ”Aquela do gol de barriga, foi mal viu”, ”E aquelas embaixadas do Capetinha, ele não teve intenção”, ”Aquela reboladinha do Edmundo foi uma reação de momento, releve”. E por aí vai.

É preciso lembrar que, na década de 90, havia violência na arquibancada, mas os jogadores levavam muito menos a sério as provocações dentro de campo. Sim, houve brigas como no Corinthians e Palmeiras (de Edilton). Mas, no geral, a provocação era aceita desde que não fosse para humilhar o que não foi o caso dessas duas recentes. Atletas como Túlio e Renato Gaúcho passavam a semana inteira tirando sarro e, na maioria dos casos, isso era tolerado.

Estamos transformando um futebol que era motivo de alegria em meio a um país violento em mais um sintoma da intolerância reinante por aqui. Já tinha começado com a torcida única, agora é a repressão às comemorações provocativas, no futuro, teremos bares separados para torcedores de times diferentes.

É preciso que CBF, federações estaduais e Justiça Desportiva prestem atenção a esses sinais e pensem que tipo de futebol querem no país. Por que se um jogador que provoca e outro que lhe dá um soco na cara merecem a mesma punição (o cartão vermelho) há algo de errado aí.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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