Falcão: “O Bahia é mais profissional”

O técnico Falcão volta a conceder entrevista, agora a Bruno Deiro, do Estadão. Confira a entrevista na integra.

Depois de uma saída conturbada do Internacional, em julho no ano passado, Falcão retomou no Bahia sua segunda investida na carreira de treinador (a primeira foi no início da década de 90). Mesmo com um elenco menos estrelado e jogando nos péssimos gramados do Campeonato Baiano, o ex-jogador garante que encontrou no clube nordestino algo que não tinha no Sul: autonomia para trabalhar.

O que fez você aceitar o convite do Bahia?
Quando resolvi voltar ao futebol como técnico não fiz exigências, mas pensei que teria de ter um mínimo de condições de trabalho. Recebi algumas propostas depois que saí do Inter no ano passado, mas resolvi não aceitar. Apareceu o Atlético-PR, chegamos a conversar, mas o acordo não foi para a frente. O presidente do Bahia me apresentou um projeto profissional, sem interferência, em que a responsabilidade caberia a ele, a mim e ao time.

Há um planejamento de metas no clube?
Não posso pensar a longo prazo porque meu contrato é até dezembro. Neste momento, minha preocupação principal é fazer o Bahia voltar a ganhar o Campeonato Baiano, que não vence há mais de dez anos (desde 2001). Será um título muito importante.

Qual a principal diferença que sentiu em relação ao seu último trabalho no Inter?
O pano de fundo é o mesmo, mas são situações, exigências e maneiras de trabalhar diferentes. O Inter, como a maioria dos clubes do País, não tem uma gestão profissional. Lá, há o presidente, diretores escolhidos por votação, a figura do homem do futebol e conselheiros que acompanham os treinamentos e entram no vestiário.

Há menos interferência no trabalho?
O Bahia é mais profissional. Antes do jogo desce apenas o gestor de futebol, Paulo Angioni. Não desce o presidente e vários diretores. São maneiras diferentes. Aqui, meu contato com o presidente é muito raro, o Angioni faz o meio de campo.

No Sul, você treinou um clube em que era ídolo. O que mudou agora?
Fui muito bem recebido aqui, os torcedores me respeitam. Para mim isso não foi problema. Minhas férias normalmente eram no Nordeste e não imaginava trabalhar por aqui. Mas agora não estou de férias.

Como tem sido a experiência de disputar o Campeonato Baiano?
Os campos de futebol, em geral, são terríveis aqui. Não dá para jogar futebol e prejudica os times. O gramado duro, como os médicos atestam, deixa os atletas mais suscetíveis a lesões. Parecem com os do Rio Grande do Sul há 30 ou 40 anos atrás, quando eu era jogador. Assim, cai o espetáculo. Não se pode sair jogando porque a grama é cheia de irregularidades, então o zagueiro tem sempre de dar um chutão para a frente.

Mantém a ideia de armar times ofensivos?
Penso sempre em um time ofensivo, mas às vezes não dá. Não tem sido possível, tenho sempre de mexer na estrutura por conta de lesões no elenco ou necessidade de segurar um resultado.

Como viu a demissão do colega Toninho Cerezo no Vitória após ter ficado apenas quatro meses no cargo?
É difícil julgar, sou amigo dele e vou sempre defendê-lo. Mas ele mesmo disse que foi uma decisão muito mais política. A equipe já estava classificada no Campeonato Baiano.

No Inter, você ficou três meses. Como vê essa instabilidade da profissão de técnico no País?
Vejo que já mudou um pouco. No Corinthians, o Tite foi mantido mesmo após um momento difícil no ano passado, quando o time foi eliminado logo na pré-Libertadores. Aos poucos, os dirigentes estão vendo que se você acredita no profissional tem de apostar nele. Dizer para a imprensa: “Não adianta fazer pressão, que ele não vai sair e pronto.”

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