Bahia: uma auto-crítica necessária e amarga

Eu vi, tinha 20 anos, quando o Bahia foi Campeão brasileiro. Fui a quase todos os jogos. Os jogos contra o Flu-RJ e o Inter-RS foram inesquecíveis e marcou a minha vida. Na Libertadores também presenciei a poesia do nosso time em campo como hoje o Santos é festajado. Uma injustiça não termos chegado às finais. Faz muito tempo. Ainda éramos o Bahia de Luís Henrique que chegava à semifinal do Brasileirão. Perdemos para Neto. Eu estava na Fonte também no jogo de volta, sempre na arquibancada, anônimo, apaixonado e vivendo os melhores momentos que podia com o Bahia que guardo no coração.

Viajei para Recife em 1992. Nunca mais voltei na Fonte para ver o Bahia, com exceção do jogo do Bahia contra o Vasco numa semi-final na Copa João Havelange. Peguei um avião, antecipei um pouco minhas férias, deixei a família e assisti o Bahia empatar em 3 x 3. Romário, o baixinho, destruindo nossa defesa. Aqui em Recife vi o Bahia ser Campeão da Copa Renner, antes disso vi o Bahia de Lima Sergipano se dar bem no torneio da morte. Em 2000 vi o meu Bahia dar um passeio no Sport, aqui na Ilha do Retiro.

Há 10 anos que não vejo e não boto o pé em nenhum Estádio. Graças a WEB continuei enamorado com o meu Bahia sem estar em Salvador, a presença física hoje é irrelevante. Tempos modernos. Mas, ver a tragédia que se tornou a vida do torcedor do Bahia, apenas com lembranças de façanha é muito triste. Eu ainda vivi grandes momentos. Vi o “hepta” ainda menino e lembro de quase tudo. Nunca meu querido pai deixou passar em branco um jogo do Bahia no domingo sem me oferecer o melhor dos espetáculos: o BaxVi.

O Bahia era festivo, temido, amado e odiado. Até hoje vimos como o Bahia é odiado pelo passado Campeão e o legado de dois campeonatos nacionais. Fomos também grandes na natação, futsal, vôlei e basquete. O lado de lá, do arqui-rival, é que vivia em profunda crise, brigando entre eles numa disputa de vaidades.

O tempo mudou. Acredito que muitos não saberão nada sobre o Bahia que vivi, outros também não saberão o que é ter um grande clube na cidade.

Um clube do qual me orgulho que fazia parte como torcedor, completamente diferente do Bahia que vem se desmantelando ano a ano sem encontrar uma saída política para enfrentar os desafios que estão nos engolindo.

O arqui-rival se fortaleceu, cresceu, ganhou Estádio, tem convênios com o governo, é modelo nos esportes amadores… E o Bahia? O que aconteceu em tão pouco tempo com toda a credibilidade, a natureza vencedora e a brilhante magia que iluminava meus olhos de criança e juventude?

A resposta estão em livros e em sítios na internet que explicitam a decadência do E.C.Bahia. A agonia que vive o tricolor não deixa dúvida: deixaram a “concorrência” nos roubar a glória de ser o time de preferência da juventude. Muitos estão satisfeitos com o passado e de ter participado dele. Eu não aceito só o passado! Mesmo torcendo para que as coisas deem certo não quero mais lembrar que estamos vivendo de passado.

Devemos tomar o Bahia dos seus atuais donos! Nada adiantou até agora, nada fizeram para mudar o rumo do nossso clube, que está em direção ao esquecimento ou a virar peça de museu. O Bahia parece um velho neurótico que usa seu filho como peça para sua vaidade sem tamanho. A descontrução do Bahia passa por essa questão narcísica de quem não consegue se afastar do jogo, dos alcoolatras viciados em bebida e dos sociopatas. Quem hoje ri do Vitória tem na verdade o coração arrasado por tristeza sem fim.

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