19/02/1989 – O dia da estrela

Se há uma manifestação cultural capaz de unir os brasileiros e, em particular, os baianos, está é o futebol. Não podia ser diferente naquele 19 de fevereiro, há exatos 20 anos, quando o Bahia estava em Porto Alegre para jogar por um empate diante do Internacional. Tudo pela conquista da Copa União, lembrada hoje por quem enfrentou a ansiedade do confronto histórico.

O ambiente no grupo era de tranqüilidade. Prova disso é que, um dia antes, no modesto hotel próximo à rodoviária, onde os tricolores se concentravam os cantores Ricardo Chaves e Jorge Zarath e outros torcedores conversavam e brincavam com os jogadores. O meia Bobô, que vivia uma lua-de-mel com a torcida, principalmente pelos gols decisivos contra o Fluminense e o próprio Inter, na partida de ida, na Fonte Nova, lembra o bom estado psicológico da equipe: “No hotel era só alegria. Muitos baianos tricolores batendo papo com a gente, era uma descontração total”, recorda.Evaristo não tratava do assunto “jogo” no sábado. Tudo para não criar um nervosismo extra entre os jogadores. Na época com 20 anos, o atacante Charles ia para sua primeira decisão. O friozinho na barriga acompanhava a revelação. “Rapaz, era uma tensão muito grande, uma expectativa danada. Todos tentavam passar tranqüilidade, mas eu sabia que só ia passar quando começasse a final”, comenta o ex-jogador e ex-técnico, hoje secretário de Esporte de Itapentiga, sua cidade natal. A importância do jogo tinha tudo para deixar o clima ainda mais nervoso. A edição de 19 de fevereiro de 1989 do Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, trazia um recado que mostra bem o “respeito” com o adversário: “Colorados, comprem o boné do Inter e venham comemorar”. Quem gostava era Evaristo de Macedo que usava o oba-oba nas conversas com os tricolores.O zagueiro Claudir jura não ter sentido nervosismo: “Dormir bem um dia antes das final. A ficha da importância desse jogo só foi cair depois”, fala o número 4 do Bahia, no Beira-Rio. Um dos principais jogadores daquele time do Internacional, o meio campista Luis Carlos Martins, lembra que a torcida estava muito esperançosa, principalmente porque não conhecia a força do Bahia. Se deram mal. “Na época não tinha televisão a cabo para o torcedor saber como eram todos os adversário”, recorda o jogador. “Antes do jogo, o torcedor tinha como certo o titulo” conclui por telefone, de Porto Alegre. Com informações do Correio.

Quais as conseqüências da conquista do título de 1988 para o torcedor baiano? Nos tornamos mais bonitos? Finalmente chegamos a excelência intelectual? O trabalho pagou o que merecemos depois do título de 1988? A resposta a estas perguntas poderiam sugerir nenhum valor para o título de 1988. Mas é exatamente essa falta de utilidade da conquista do título de 1988 que está a sua grandeza e a necessidade de exaltá-la. A arte também não tem nenhuma utilidade. O advogado pode lhe dar um retorno financeiro sobre a demissão arbitrária, mas o título de 1988 e a arte continuam sem nos proporcionar nenhuma utilidade prática para o nosso dia a dia. Por que então a arte e o futebol exercem sobre todos nós um fascínio que se traduz em títulos lembrados como se fosse uma fortuna que ganhamos na loteria?

Tem ganhos que transcendem a nossa cotidianidade. São ganhos que representam a grandeza de um povo ou um clube. O título de 1988 é tão importante para os baianos como o dia da independência da Bahia. Simboliza a vitória da esperança sobre o medo e o preconceito. Abriu o título de 1988 uma nova geografia no futebol brasileiro. O Bahia transmitiu uma mensagem óbvia para toda a Bahia: acredite que você é o melhor, e você será. Nosso arquiinimigo no campo esportivo teve também depois do título de 1988 seus momentos em que quase chegou lá inspirado no co-irmão. A partir do título de 1988 do Bahia, só um clube fora do eixo sudeste-Rio Grande do Sul teve a audácia de chegar a ser campeão. Chamo atenção, em especial, que depois de 1987 houve uma revolução no futebol brasileiro. Os clubes que disputavam a divisão principal eram em menor número e o nível técnico mais elevado. Depois do Bahia, só o Atlético-PR, fora do eixo Sudeste-Rio Grande do Sul, conseguiu ser campeão brasileiro.

Existiu algo de extraordinário naquele grupo. O mestre Evaristo de Macedo em recente entrevista nos encantou com suas lembranças vivas. Segundo Evaristo de Macedo, Paulo Rodrigues foi um dos bons jogadores brasileiros que nunca jogaram na seleção. Nós tínhamos em 1988 jogadores, como: Bobô, Zé Carlos, Paulo Rodrigues, Paulo Robson, Pereira, Sidmar, Marquinhos e Charles. Jogadores excepcionais que desequilibravam qualquer jogo. Por pouco, muito pouco, não chegamos a conquista da Libertadores. Todos lembram da arbitragem tendenciosa do árbitro no Beira Rio favorecendo o Inter, que valia uma vaga nas quartas de final da Libertadores. O Inter depois foi desclassificado. A verdade que todos nós vivemos era clara: o Bahia podia ter chegado ao título da Libertadores se o opressivo sistema de favorecimento aos sulistas não prosperasse. O sonho da Libertadores morreu, mas ficou a lembrança de um futebol que não vai morrer nunca.

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