Notícia x Negócio

Afinal, o que vale mais para uma empresa de comunicação? O negócio ou a notícia? Na última quarta-feira tivemos um exemplo de o quanto esse dilema ainda não ficou bem resolvido na cabeça de torcedores e até mesmo de profissionais do esporte.

Entre Bragantino x Corinthians pela Série B do Campeonato Brasileiro e LDU x Fluminense, na primeira decisão da Copa Santander Libertadores, a Globo preferiu o jogo da Segundona. Jornalisticamente a atitude é condenável. Mas e em termos do negócio da Globo?

Primeiro de tudo é preciso entender que futebol, para a emissora, é um entretenimento. É um produto como uma novela, em que tem de existir promoção e apelo para que as pessoas acompanhem. A Globo, quando vende por mais de R$ 40 milhões uma cota de patrocínio do futebol, sabe que a entrega do produto tem de ser impecável. E isso significa alto índice de audiência com boa cobertura do evento.

Partindo desse princípio, fica um pouco mais fácil resolver colocar na balança um jogo da Série B com uma final de Libertadores. Afinal, apesar de na transmissão o Galvão Bueno dizer que o Fluminense é Brasil, todos sabem que não é bem assim que a coisa funciona.

E aí entramos no segundo ponto de discussão para ver qual é a melhor maneira de pensar. O noticiário todo tem de ser do Fluminense, que pode se tornar mais um campeão da Libertadores. Mas não dá para desprezar a força de entretenimento que tem o Corinthians.

É só comparar. Um tem a segunda maior torcida do país, com 24 milhões de torcedores segundo a pesquisa LANCE!-Ibope de 2004. E o outro é a 12ª massa do futebol nacional, com 2,2 milhões de pessoas.

Está cada vez mais fácil entender a escolha… Ainda mais quando você tem pela frente o principal mercado comercial do país, que é São Paulo, e uma concorrência cada vez mais surpreendente da Record.

Comercialmente a escolha da Globo faz sentido. Ela não vende publicidade extra para os jogos de futebol que exibe. Nenhuma outra empresa além dos seis cotistas da emissora está autorizada a exibir sua propaganda durante a transmissão. Dessa forma, não é o grau de importância do jogo que vai aumentar o faturamento.

Além disso, quando assinou o contrato com os anunciantes, a Globo prometeu manter uma média mínima de audiência. E isso, sem dúvida, o Corinthians tem muito mais a dar do que o Fluminense. Pelo menos na cidade de São Paulo e região.

Não foi à toa, portanto, que a emissora teve uma média de 26 pontos no Ibope com o jogo, como a Máquina do Esporte revelou no dia seguinte à partida. O valor não significa um estouro na audiência, mas mantém a média da emissora nos últimos anos, assegurando visbilidade a seus anunciantes.

A notícia é uma coisa, mas o negócio também é importante. A transmissão do futebol é um produto de entretenimento. Não só na Globo, mas em todas as emissoras do mundo. E, aí, a lógica do negócio supera a lógica da notícia. Mesmo num jogo pavoroso como o de Ribeirão Preto, o faturamento publicitário foi justificado.

A memória costuma ser curta. Mas vale lembrar que, em 2003, com Palmeiras e Botafogo na Série B, a Globo abriu mão de exibir a Segundona ao vivo. Perdeu no Ibope para a Record, tanto no Rio quanto em São Paulo. Agora, com o Corinthians, a emissora se preveniu. Mas também só exibe os jogos do Timão para os paulistas. É a mesma lógica aplicada com o Atlético-MG e o Grêmio em anos anteriores.

O negócio fala mais alto, não tem jeito. Erich Beting

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