Roberto Rebouças – a muralha baiana

O Bahia acostumou-se a conquistar títulos importantes na década de 60 e antes dela. Assim foi com a Taça Brasil de 1959, quando os baianos derrotaram o Santos, com Pelé e tudo na Vila Belmiro (1 x 0, gol do cearense Alencar), e ficaram com o título.

Os títulos nacionais impulsionavam o Bahia a procurar sempre os melhores jogadores da região. Assim foi com Carneiro, maranhense que por três anos defendeu o tricolor baiano. Foi assim com Zé Eduardo, com Bobô, com Alencar, com Beijoca como fora com Nadinho, Léo, Biriba, Henrique, Jesum.

Ter os melhores zagueiros sempre foi uma proposta do Bahia. Quem não lembra do Leone, do Henrique? Pois, foi em 1963 que o Esporte Clube Bahia foi buscar no seu mais ferrenho adversário, Esporte Clube Vitória, o zagueiro Roberto Rebouças, considerado pela maioria baiana como o melhor zagueiro daquele futebol em todos os tempos.

Nascido na cidade baiana de São Félix, Roberto Rebouças iniciou carreira de profissional do futebol defendendo as cores do São Cristóvão. Mudou para o rubronegro Vitória e, quando o Bahia precisou dele em 1963 para compor sua melhor zaga, investiu o necessário e o contratou. Além de pagar um bom dinheiro, o clube baiano de Osório Vilas Boas ainda incluiu na negociação o atacante Didico, que começava a se destacar pelo time tricolor no campeonato estadual.

Como todo craque que se preza e é inteligente, Roberto Rebouças nunca foi de levar desaforos para casa. Também entendia que, num clube de futebol, se o treinador não sabe mais que o jogador ou não sabe se impor, quem acaba sendo o patrão é o presidente. E assim era Roberto, a muralha baiana.

Em 1964 Roberto Rebouças já andava fazendo das suas. Conseguiu se impor em campo, como verdadeiro líder e capitão do time, jogando dois anos sem qualquer problema. No começo da temporada de 65, resolveu brigar, logo com o patrão. Não chegou aos finalmente com o presidente Osório Vilas Boas porque a “turma do deixa disso” interferiu.

No turno final do campeonato de 1965, apenas o Bahia dificultava a vida do Vitória, que contava com Mário Sérgio em excelente forma. Ao Bahia faltava a liderança de Roberto Rebouças e um atacante capaz de enfrentar os zagueiros do Vitória, em todos os sentidos. Os dirigentes do tricolor fizeram tudo para contornar a briga entre Roberto Rebouças e Osório e convencer o jogador a voltar ao clube e ao time para tentar resolver a situação.

E, pasmem, Roberto Rebouças foi convidado para voltar e para jogar como centroavante, que era o setor fraco do Bahia. O tricolor de aço tinha que ganhar o segundo turno para tentar decidir o título com o Vitória, campeão do primeiro. Roberto Rebouças, meio que desajeitado, enfrentou a zaga vitoriense e o Bahia ganhou o jogo por 2 a 1, ganhando também o segundo turno.

Mas o Bahia acabaria ficando sem Roberto Rebouças na decisão. Houve até quem afirmasse, na época, que os “santos baianos” contrariaram João Saldanha, que costumava dizer que, “se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado.” Pois, no jogo em que o Bahia ganhou por 2 a 1 e ficou com o título do segundo turno, e o direito de decidir o título do campeonato, Roberto Rebouças, muito voluntarioso, acabou fraturando a tíbia e o perônio, e ficou fora da decisão. O Vitória ganhou o jogo – o Bahia sem Roberto Rebouças – e foi campeão estadual daquele ano.

Roberto Rebouças, zagueiro de excelente estatura (1,86 m) era capitão e líder do Bahia. Dono de futebol refinado (lembrando muito Damasceno, do Ceará e Roberto Dias, do São Paulo), jogava com classe e categoria, mas, quando era preciso, chegava junto. Com ele, passava a bola ou o jogador adversário. Nunca os dois juntos.

Roberto ainda chegou a jogar no futebol paulista, mas por muito pouco tempo. Voltou ao seu Bahia, mas não teve muita sorte e acabou sofrendo uma nova grave contusão, ficando quase um ano fora dos gramados. Mesmo assim, ainda foi bicampeão baiano em 1970 e 71; pentacampeão baiano em 1973, 74, 75, 76 e 77, quando resolveu parar de jogar, aos 39 anos de idade.

“ Eu sempre tive uma ligação muito grande com a torcida tricolor, que sentia minha vontade e garra de jogar, e ganhar”, afirma Roberto Rebouças Boas lembranças e histórias ele tem muitas para contar. Como a decisão de 1976 contra o rubronegro Vitória: “Eles ganhavam de 1×0. Tinham um pênalti à favor e Romero tinha sido expulso. Eu estava na reserva, entrei e ajudei o time a virar o jogo, partindo para a conquista do título estadual daquele ano”.

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