Barradão: Coloque-se a tranca

Depois de arrombada a porta, coloca-se a tranca… O ditado batido vale perfeitamente para a situação ridícula a que foi submetida a torcida do Vitória durante o clássico passado.

Não sei se a pura e simples setorização do Estádio Manoel Barradas, defendida por mim há muito tempo e já explicitada em artigos aqui nesse espaço, resolveria a repetição dos graves problemas verificados na partida citada. Mas, sem dúvida, amenizaria o impacto.

Não sou apologista do “quanto pior, melhor”. Fiquei muito triste ao saber que houve um princípio de tragédia, com irmãos rubro-negros quase sendo mortos pela avalanche humana, incluindo aí meu próprio irmão de sangue, Rogério. Porém, vejo que o triste episódio em nossa casa foi positivo no sentido de alertar os torcedores sobre a necessidade de mudança na forma de tratar a torcida visitante, especialmente do time colorido, no Barradão.

Agora, mais vozes se levantam em favor dessa necessidade premente. Como está, não dá para continuar. Confesso não conhecer outro estádio no mundo onde o torcedor visitante é tratado de forma tão graciosa, relegando um tratamento indigno para nós, habituais freqüentadores.

É ridículo, patético, surreal e imperdoável. Tem que limitar, sim, o acesso deles. Até base legal há para tanto: Estatuto do Torcedor, que fixa em 10% a reserva de entradas para torcida adversária. O que falta para colocar em prática, coragem ou uma nova vergonha?

Já falei, mas não custa repetir, a lista de prejuízos decorrentes da política atual de tratamento dos forasteiros no Barradão. Primeiro, o prejuízo técnico: não restringir o número de lugares destinados aos visitantes é deixar o acesso livres para mais pessoas torcerem contra o Leão em sua própria casa; aquela de ceder o fundo de um dos gols para os sofredores do time da fila foi o cúmulo do absurdo…

Prejuízo da segurança: não só das instalações do estádio, a exemplo dos banheiros que os marginais coloridos destruíram, como da torcida do Vitória, que ficou espremida em um setor do estádio, dada a superlotação.

Por fim, o prejuízo financeiro, pois não se cobra mais caro pelo ingresso dos oponentes, medida adotada em quase todo o planeta. Não presenciei o vexame do ba-Vi, mas o sentimento de indignação também tomou conta de mim, ouvindo o jogo pela internet em Pernambuco.

Não falo da derrota, algo possível em um jogo e facilmente recuperável, por conta da fragilidade do adversário e sua conhecida tremedeira e incompetência na reta final de campeonatos, características marcantes nos últimos anos. Falo pela forma como a situação se desdobrou, especialmente fora de campo.

Espero, de verdade, que a direção do clube, que começa a gastar os créditos adquiridos com o soerguimento do Vitória, chegue à óbvia conclusão de que é preciso mudar essa política. E que não seja necessário um mal maior ocorrer para ajustar o quadro. Todo mundo sabe que a final do campeonato será contra eles. Portanto, haverá mais um clássico no Barradão esse ano, seja na ida ou na volta.

É inadmissível a repetição do que ocorreu naquele dia, um dos mais vexatórios de nossa história. Caso nada seja feito, terei certeza que o Vitória também integra a ampla coligação política, midiática e esportiva existente para que o time da fila saia do jejum, amenizando o sofrimento de sua massa entristecida e humilhada.

José Raimundo Silveira/ Barradão Online
Militar, jornalista e rubro-negro desde os tempos de Ricky.
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