Revelado nas divisões de base do Esporte Clube Bahia, o meia Anderson Talisca subiu aos profissionais em 2013 e ficou até meados de 2014, antes de ser negociado com o Benfica, de Portugal, por R$ 12 milhões, valor MUITO abaixo do que poderia ter sido vendido pelo seu futebol, principalmente se o negócio fosse feito pela gestão atual, no entanto, o grande problema era a divisão dos direitos econômicos do jogador. Em um ano e meio de profissional, Talisca atuou em 68 partidas e marcou 11 gols, deixando o clube após o título do Campeonato Baiano de 2014. No entanto, o clube poderia não ter tido lucro nenhum com a transferência do talentoso meio-campista. Vice-presidente do Bahia em 2013 e 2014, Valton Pessoa revelou detalhes da negociação do jogador.
Segundo Valton, Talisca tinha direitos econômicos ligados a seis empresários, cada um com 20%. Ou seja, a divisão de fatias do meia chegava a 120%, o que é impossível. O problema era que o Bahia não tinha direito a NADA e precisou lutar para recuperar 50% dos direitos e não sair de ‘mãos abanando’. A diretoria executiva, na época do então presidente Fernando Schmidt, precisou intervir e sugerir aos empresários a divisão dos direitos econômicos. No final das contas, o Bahia ficou com R$ 6 milhões, enquanto o restante do valor foi dividido entre o empresário Carlos Leite (20%) e mais três grupos de investidores (10% para cada).
“Se não fossemos eu e Sidonio Palmeira, o técnico Cristóvão teria mandado Talisca ir embora há muito tempo, porque era indisciplinado. Eu e Sidonio fomos psicólogos de Talisca durante um bom período. Mas quando chegou uma proposta de 4 milhões de euros, eu então todo feliz fui ver se tinha algum empresário pra ganhar algum valor, porque iríamos ganhar o ano com a venda de Talisca. De repente chega um pessoal do departamento de futebol e me diz: ‘Valton, a gente ainda é devedor de 20% porque foi vendido 120% de Talisca a seis empresários diferentes, cada um com 20%’. Então, o Bahia era credor de 20%”.
“Diante dessa perplexidade, chamei os seis empresários para conversar e falei: ‘recebi uma proposta e não vou vender, porque se vender ainda serei devedor’. Então, falei que só venderia se fosse 50% para o clube e 50% para todos eles dividirem igualitariamente. Algumas pessoas saíram aborrecidas, mas a negociação foi feita nesse patamar e conseguimos recuperar 50%. 2 milhões de euros naquela época era muito significativo e conseguimos fazer a venda”.
Valton relembrou também que o técnico Cristóvão Borges havia demonstrado resistência em escalar o jovem atleta, mas o vice-presidente conversou com o diretor Anderson Barros para falar com o treinador que mudasse o time que não vencia há oito jogos. Os três se reuniram em um jantar e o mesmo pedido foi feito.
“Na época eu conversei com Anderson Barros (então diretor de futebol) para ele falar com Cristóvão Borges para mudar o time, porque todo mundo já conhece o time, tem oito jogos sem ganhar, precisa fazer alguma coisa diferente. Não queria me meter, mas precisava de algo diferente. Fomos jantar nós três (Valton, Anderson e Cristóvão) e eu pedi a mesma coisa. O Cristóvão então perguntou o que eu faria. E eu então disse: ‘colocaria Talisca’. Ele me disse que se fosse ouvir todo mundo, iria montar dez times diferentes. Falei que não era todo mundo, mas sim vice-presidente de futebol do clube e que não estava impondo, apenas sugerindo. Só exigi que fizesse alterações, porque o time estava manjando. Cristóvão me disse: ‘então eu vou colocar, pois é bom que dividimos responsabilidade’. A partir daí, Talisca entrou e o restante todo mundo sabe. Ganhamos aquele jogo contra o Cruzeiro com gol dele no finalzinho. Foi o jogo que assegurou a manutenção na Série A”.