O Esporte Clube Bahia segue encampando campanhas além das fronteiras do futebol e por isso tem sido reconhecido e festejado nacionalmente e até fora do país. Na noite desta terça-feira, quando enfrenta o Imperatriz, pela 2ª rodada do Copa do Nordeste, volante Flávio, do Bahia, não usará a sua tradicional camisa de número 5 e sim, a de número 24 em uma ação contra a homofobia. A ação também serve como homenagem ao ídolo do basquete Kobe Bryant, falecido no domingo (26) em um acidente de helicóptero nos EUA. Ele atuava com a camisa 24. O número, que Deus sabe lá por que se transformou no símbolo no Veado no Jogo do Bicho, e depois acabou sendo associado aos Gays, foi “banido” do futebol por clubes e jogadores. Recentemente, aconteceu uma polêmica envolvendo o diretor do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, que fez um comentário homofóbico durante a apresentação do meia Cantillo: “24 aqui não”. O jogador colombiano sempre usou a camisa 24 em seu país, no entanto, foi orientado a não usar tal número.
VEJA A NOTA DO BAHIA
O esforço acontece para debater o respeito no futebol e discutir um símbolo da agressividade em torno do número 24 entronizado com o lançamento do jogo do bicho, em 1892, como o “número do veado”, animal associado pejorativamente à homossexualidade. Historicamente, o número não existe nos uniformes de futebol masculino numa manifestação implícita de discriminação.
A omissão não acontece só no futebol. Em 2015, o gabinete nº 24 foi suprimido no Senado Federal e transformado em 26 sem qualquer explicação. Ambiente predominantemente masculino, com baixa representatividade, o fato destacou a institucionalização do preconceito. Com a troca de mandato, em 2019, a sequência das salas retornou à numeração normal.
Em setembro de 2019, o Bahia divulgou manifesto a favor da igualdade e respeito, dividindo seu público entre apoiadores e críticos:
“Diversas camadas de compreensão nos conduzem à conclusão de que futebol e sociedade se misturam. Portanto, não há equívoco em compreender nossas virtudes, limitações e desafios sociais a partir do futebol. No panorama social, a homofobia nos estádios é apenas uma pequena expressão do que acontece fora deles. A homofobia mata, oprime, deprime e provoca muitas feridas. Talvez essa realidade explique o afastamento das pessoas LGBTQI do ambiente do futebol”
O jogo desta terça-feira será contra o Imperatriz, do Maranhão, em Salvador, pela segunda rodada da Copa do Nordeste.
“O mito em torno do número 24 é uma grande bobagem que já passou da hora de ser ultrapassada. Precisamos desmistificar isso e aproveitar para debater o preconceito e a intolerância no futebol”, disse o volante Flávio.
“O futebol é um canal que pode servir para acentuar o que há de pior na nossa sociedade, como o racismo, as agressões, a violência e a intolerância, mas também pode servir de uma forma diferente – para espalhar cultura, afeto, sensibilidade, melhoria das relações humanas. Achamos que os clubes têm de escolher se serão canais de amor ou ódio. Escolhemos o amor”, afirmou Guilherme Bellintani, presidente do Bahia.
A ação não se limitará a essa partida e terá repetição em mais dois jogos do “Esquadrão de Aço” nesta semana: amanhã (29), contra o Bahia de Feira, e domingo (2), contra o Jacuipense, ambos pelo Campeonato Baiano – que vem sendo disputado pelo time de transição.
?️? O número imortalizado pelo ídolo @kobebryant é tabu no Brasil. No jogo de hoje será usado por Flávio (Copa do Nordeste). No de amanhã, por Ramon (Campeonato Baiano). Mais amor, maior respeito, mais dignidade ➡️ https://t.co/jtjwc3OYun #BBMP pic.twitter.com/pwUZsJDJv1
— Esporte Clube Bahia (@ECBahia) January 28, 2020