Bahia tem peças para montar uma boa orquestra, falta um grande maestro!

Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia

O que tem diferente do futebol de 88 para que hoje não possamos repetir aquele feito? Segundo os analistas e dirigentes e corroborado pela maioria dos torcedores, que o ponto principal são os recursos financeiros muito desiguais dos grandes clubes do Sul e Sudeste, importante, mas não determinante. Em 88 também tinha esse fator e um outro muito mais desequilibrante que o lado financeiro, existia verdadeiros craques e a disparidade técnica realmente fazia a diferença, Romário, Bebeto, Leonardo, Andrade, Sócrates, ainda tínhamos Zico, Dinamite etc, etc. E tinha um zagueiro uruguaio chamado Aguirregaray, considerado um dos melhores e mais seguro do Brasil até encontrar pela frente Charles.

Mas o objetivo não é saudosismo, é explicitarmos as diferenças. Em minha opinião a grande diferença daquela época para hoje é que o discurso de mudar de atitude dentro de campo não ficava só nas palavras, o desempenho do time dentro de campo é reflexo do que seu comandante transmite a seus comandados. Se perguntarem se o Bahia se preparou para ser campeão em 88, diria que não, existiam muitos jogadores da base e da nossa terra, e alguns jogadores só com contratos até final do ano, mesmo a tabela do campeonato indicando quem avançasse para o quadrangular final jogaria até o próximo ano, ou seja, nem o presidente acreditava nisso tanto, é que muitos torcedores esquecem-se de alguns detalhes.

Sidimar era considerado um dos melhores goleiros do campeonato, emprestado pela Portuguesa só até dezembro, e como o Bahia se classificou para as quartas de final que iria ser disputada no ano seguinte, Sidimar estava muito valorizado e a Portuguesa pediu alto para renovar seu empréstimo. O presidente não aceitou e o reserva Ronaldo assumiu seu lugar.

Outro detalhe foi também importante, num jogo me parece contra o Flamengo dentro de casa o nosso zagueiro Pereira tentou sair com a bola, Bebeto roubou e fez o segundo gol. O Bahia perdia o jogo, no intervalo o presidente entrou no vestiário como fazia comumente e disse que era para tirar Pereira do time que ele não iria mais vestir a camisa do Bahia. Evaristo não era entregador de camisa, era um grande mestre, intercedeu e disse “Quem escala aqui seu eu”, e manteve Pereira.

Pereira foi grande destaque do time tendo seu contrato também se encerrando no final de 88, e como já despertava interesse de muitos clubes, o presidente chamou ele para renovar e jogar o quadrangular final, ele deu o troco dizendo “Enquanto você for presidente eu não visto mais a camisa do Bahia”. A solução foi colocar Claudir que correspondeu mesmo não tendo a categoria de Pereira, em represália nem Pereira nem Sidimar ganharam a faixa de campeão. Eu acho um absurdo, em todas homenagens já realizadas aos campeões, nenhum dos dois são convidados.



São detalhes que se perdem ao longo do tempo, mas, a questão principal é fomentar uma reflexão dessa máxima dos especialistas se baseado apenas no empirismo dos investimentos mais arrojados para êxito no campo. O Corinthians foi campeão em 2017 sem nenhum grande investimento e nenhum craque que se destacasse, coincidentemente depois que o Bahia começou trazer treinadores de segunda e terceira linha nunca mais impôs respeito jogando fora.

Treinador é mais importante que um time caro, seu trabalho com fundamentos táticos fazendo seu time jogar coletivamente, não temendo qualquer adversário, aquele time do Bahia não teve que lutar contra a desconfiança apenas do seu torcedor, principalmente contra toda imprensa brasileira, que tiverem que reconhecer a ousadia do Bahia e atitude jogando contra qualquer time e lugar por música.

Quero levantar um debate bem maior para nós torcedores. Quando fomos campeões, as adversidades eram bem maiores que temos hoje, jogadores fenomenais que desequilibravam nos times adversários, temos depoimentos de vários campeões de 88 dizendo que ganharam o título com salários atrasados, ou seja, hoje temos pagamentos rigorosamente em dia, o que é importantíssimo, hoje temos um time base pertencendo ao clube, hoje nenhum time do Brasil tem um jogador excepcional, então qual a receita?

O Esporte Clube Bahia precisa urgente de um competente treinador para descobrirmos novos protagonistas e reescrever mais uma linda história do clube, que Zé Rafael encarne a elegância sutil de bobô, que Gregore nos faça lembrar a maestria de Paulo Rodrigues, que Edigar Junio seja nosso anjo 45. Diz a máxima que todo time vencedor precisa de um grande goleiro e eu diria também de um grande treinador, temos peças necessárias para montar uma boa orquestra, falta um grande maestro para transmitir um conteúdo rítmico a seus comandados.

Jorge Machado, torcedor do Bahia, amigo e colaborador do Futebol Bahiano.

Autor(a)

Redação Futebol Bahiano

Contato: futebolbahiano2007@gmail.com

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