Bahia: A importância da esperança

O futebol é uma coisa mágica. O
torcedor do Bahia contou os dias para voltar para casa, mas jamais poderia
imaginar o tapa de mão aberta que ia tomar da vida. Foi como se o futebol, em
90 minutos, quisesse mostrar que a mística da Fonte Nova nunca existiu. Ou que
a mística só se manifesta através de bons jogadores. 

Hoje se celebra a missa de sétimo
dia do Ba-Vi de reinauguração (pode chamar lavagem) do estádio. Eu não sou
especialista em Igreja Católica, mas, até onde sei como católico pouco
praticante, a missa de sétimo dia é um momento de solidariedade. É quando
parentes e amigos se reúnem para fazer a entrega definitiva nas mãos de Deus da
pessoa chamada deste mundo. É delimitar o período de resguardo do momento
fatídico. Missão cumprida, agora a pessoa já pode descansar em paz. 

No caso do Bahia, é o momento de
se livrar do clássico – ficam as lembranças. É o momento de o torcedor se
reencontrar com o time que começa mais uma temporada no estilo vivo-morto ou
morto-vivo. É o momento de se reencontrar com a Fonte Nova e renovar as esperanças.
Sim, esperanças, afinal futebol é uma coisa mágica. 

Já torcedor é uma palavra rica em
significados, mesmo nos clubes pobres de projeto. Torcedor quer dizer esperança
acima da razão. Torcedor quer dizer compromisso, até com uma administração irresponsável
e endividada. Torcedor apoia com o bumbum na arquibancada, com o olho vidrado
na televisão ou com o ouvido no rádio do celular. Torcedor que é torcedor, se
pega pensando no clube amado. E acreditando que vai dar certo. Torcedor perdoa
todo tipo de traição. 

Tem muito torcedor já
crucificando o técnico Joel Santana, mas bastará o time vencer o Vitória da
Conquista e o Papai ser iluminado com uma boa frase de efeito, para a teimosa
esperança começar a aparecer. Também vai ter torcedor botando fé em Omar como
novo paredão, especialmente após ter pegado um pênalti (aprende, Marcelo
Lomba!) e ter garantido a vaga na Copa do Brasil. Torcedor que é torcedor, tem
necessidade de canonizar os jogadores. E também de mandá-los para o quinto dos
infernos. 

O torcedor do Bahia é um dos mais
bipolares que eu conheço. A dupla personalidade é parte integrante do DNA
tricolor. É, aliás, a característica que mais irrita os torcedores do Vitória,
que também são passionais, mas  vira e
mexe tomam uma dose de racionalidade quando a alucinação aperta. 

Pois o que tem mantido o Bahia
vivo nos últimos anos de vexame é, justamente, a esperança. É a esperança de um
dia, nem que seja por obra do Espírito Santo, alguém puxar o freio de arrumação
no clube. É a esperança de ver o Esquadrão, apesar de ano após ano e técnico
após técnico, o time ser montado por linhas tortas. É a esperança em ter um
clube melhor. 

Trabalho, choque de gestão,
trabalho, respeito às raízes, trabalho, alinhamento com sua cultura, trabalho,
transparência, trabalho, democracia. Falta muita coisa no Bahia. Sobra
esperança no torcedor. Eu vou ficar com medo é no dia que o torcedor do Bahia
perder a esperança. Aí não vai ter nem mágica ou Senhor do Bonfim que dê jeito.

Por Marcelo Sant´Ana/Correio

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