E a noite se fez rubro-negra no Barradão

… E a noite se fez rubro-negra no Barradão. Os fogos vermelhos riscaram o escuro do céu, enquanto João balançava o quarto gol. O Tempo, este senhor de dois anos, tirou a roupa da Verdade e mostrou a beleza de uma nação que volta ao high society da bola.

Não reparem, mas hoje é dia de enxergar tudo rubro-negro. O Elevador, de quem vê lá do Comércio, estará pintado: a parte vertical em preto encontra a horizontal vermelha. O sinal fechado tem seu dia de fazer sentido, com a bolota rubra na moldura negra.
Salvador toda está derramada em vermelho e preto. Imagino como deve ser um dia duro para quem é do contra. Os ônibus, os pássaros, os barcos, não há nada que escape ao derrame de tintas que representa o futebol baiano no Campeonato Brasileiro.Sim, podemos voltar a chamar simplesmente de Brasileiro ou se quiserem dar aquele molho de sensação, que chamem Brasileirão. Passamos a diferenciar a Série B e saber que existe uma Série C quando freqüentamos o subsolo 1 e o rés-do-chão do futebol.
Quem é Bahia e antiVitória, precisa fazer um esforço para entender que não é nada agradável ver o rival voltar à elite, mas valoriza o futebol baiano. Seria exigir demais. Para o ano, podem ser os tricolores a vibrar com a merecida volta, pois também compõem uma nação gigante e é capaz de ser mesmo maior. Mas parece que há algo além de saber contar.
LIBERAÊ
Agora que tudo é festa, o olhar fica benevolente. O Leão oferece uma lição de desportividade que faria o Barão de Coubertin feliz da vida. O clube levou duas pauladas seguras no meio do coco, caiu desacordado num pântano e levantou-se com a maior dignidade, uma dignidade olímpica.
E levantou-se duas vezes seguidas, o que sinaliza ter o clube uma base, um chão, um alicerce humano onde se elevou um edifício que pode sofrer algum abalo, até dois, mas não cai, tipo aqueles arranha-céus que tem em Tóquio com dispositivos anti-terremotos.Agradecer a cada um dos jogadores seria o mínimo. Mesmo quem não jogou, não se acanhe, comemore, ajoelhe, pire aí com seus companheiros, seus torcedores, seus diretores e até, tá, liberaê só hoje, até os penetras nesta hora são mais compreendidos.O presidente Jorginho disse que vai ter helicóptero e cantora na festa contra o Remo. Caprichaê, meu caro, porque é aniversário de dois torcedores mabassos que acompanharam toda a campanha e agora vão poder estudar em paz pra prova final.Para quem não sabe, mabasso é como se diz na Bahia o irmão gêmeo que é de outra bolsa, não é idêntico, geralmente um menino e uma menina. Pode levar o som que quiser pra tocar, o senhor tá merecendo, liberaê arrocha, seresta, pagodão e chama até Edílson. Eu era até de chamar Ivete de novo, é ela mesma outra vez.PRESSÃOVai no pai que mexe com os-que-foram-sem-terem-ido e coloca uma flor rubro-negra na homenagem aos antepassados do jorêi. A madrugada de buzina e tudo, pareceu, assim, que foi mesmo uma Graça. Veja que os perseguidores todos perderam na mesma noite.O Ipatinga matou o Marília e também subiu, junto com Coritiba e Portuguesa. O Paulista assassinou o Criciúma e a maldade fez o São Caetano apunhalar o Fortaleza dentro de seu apêzinho do PV. O Brasiliense se ousou a querer se aproximar, ao vencer o Santa Cruz, mas o Ceará, parece que perdeu também. Tenha fé no Senhor do Bonfim e ‘per ardua surgo’.Parecia que uma Ordem maior mandou o Vitória voltar ao convívio de Zeus. Ou foi a História que, com seu ímã, atraiu aquele que ali havia ficado durante 12 anos sem cair. Nossa visão de história é impregnada por contar o que aconteceu, mas a história viva é a que se constrói todo dia. Tem uma história que pode mofar e outra que se pode fazer.Além de Joãozinho ter marcado, foi massa também um de Apodi, que foi um bravo lateral nesta campanha. Ney pegou muito em vários jogos, não se pode esquecer do valente Vanderson, Bida teve ótimos momentos, cada um botou amor na idéia de subir.Pra quem ainda se engana com a antiga fantasia de um Vitória que não chega junto, vejam em que time Vadão conseguiu subir para a Série A. Mas vale também passar um e-mail de agradecimento a Givanildo e até a Marco Aurélio.A renovação, o poder da carta do morcego, veio com o golaço de William aproveitando a genialidade (deixa, só hoje!) de Jackson, Senhor do Tempo que tocou de calcânho, como se dizia na primeira travessa da rua Lima e Silva, da rubro-negra Liberdade.Ele mesmo abriu o placar, aproveitando o rebote de um chute de Joãozinho. O placar também indica alguma atuação sobrenatural, que é justa, pois o Vitória faz o bem e merece. Mas, 4 a 1, galera, depois daquela pressão toda do CRB na metade do segundo tempo?Não vamos pensar em trabalho agora não. Deixa esse papo de planejamento pra depois. Agora, é fazer do Barradão um dancing, uma borracharia musical, espoucar mais fogos e continuar vendo tudo rubro-negro, sem brincadeira, até o monitor, as letras, tudo…

Blog Paulo Leandro
Créditos Fotos – Agência A Tarde

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