Paulo Carneiro é a atração do Baianão 2009

O Campeonato Baiano de 2009, que começa no próximo domingo, tem tudo para ser o melhor dos últimos anos. E há boas razões para se acreditar nisso: o Vitória, que luta pelo tricampeonato, vem de uma excelente temporada em 2008, os times do interior estão se reforçando e o Bahia vem cheio de motivação com presidente novo e lar, doce lar, novo. Se nas bastasse tudo isso ainda tem Paulo Carneiro agora tricolor. O dirigente apimentou a rivalidade na dupla Ba-Vi e deu motivação nova ao futebol baiano.

É preciso se fazer justiça: com ou sem Paulo Carneiro, o Bahia seria outro em 2009, e melhor. Eleito no final do ano passado, o novo presidente do clube, Marcelo Guimarães Filho, é jovem, talentoso, entende de gestão e o mais importante nesses momentos de mudanças: é ousado, não tem medo de arriscar. A contratação de Paulo Carneiro é prova maior disso. Foi a escolha certa? O tempo dirá.

Mas tem uma coisa que me intriga nessa contratação: como um time que diz ter 4 ou 5 milhões de torcedores, não consegue achar um único tricolor – unzinho sequer – no meio desta multidão capaz de gerir com competência o futebol do clube? Pior: esta espinhosa tarefa foi entregue a um rubro-negro. Muito pior: justamente o rubro-negro que mais maltratou, achincalhou, humilhou, menosprezou, espezinhou e ofendeu a honra e o orgulho do Bahia. Talvez isso explique o tamanho constrangimento que se abateu sobre a Nação Tricolor. Os torcedores, desconfiados, falam de Paulo Carneiro pelos cantos, cochichando entre eles, numa mistura de vergonha e esperança.

E o que teria feito PC aceitar o convite? A recompensa financeira? Acho que não. Carneiro não venderia seu talento, honra e biografia por R$ 45 mil mensais. É pouco. Desejo de reconstruir quem ele tanto odiava (ou odeia) e ajudou a empurrar para o fundo do poço? Ninguém é menino para acreditar nisso. Se vingar de seu Vitória? Pode ser.

Mais uma vez é preciso se fazer justiça: é inegável o talento de Paulo Carneiro. Transformou seu Vitória, deu títulos, dignidade, inúmeras goleadas sobre o arquirival, autoestima, infraestrutura, estádio, projeção nacional, contratações de impacto, algumas das principais revelações do futebol brasileiro. Foi, seguramente, até meados da década de 90, um dos três principais dirigentes do futebol brasileiro. Mas lhe faltou sabedoria para uma coisa: criar um sucessor à sua altura, sair de cena na hora certa para retornar no momento oportuno. Perdeu o rumo, e levou consigo um time inteiro. Com o rubro-negro na terceira divisão, não havia mais clima para continuar: foi quase que expulso do Barradão, saiu pelas portas dos fundos.

Ficou a mágoa, a enorme ferida aberta no peito, a dor. Certamente se sentiu ”injustiçado”, incompreendido. Compreensível que agora queira dar o troco. Tentou através de uma absurda ação judicial. Perdeu de goleada. A oferta do Bahia então caiu como uma sopa no mel.

PC deve, dia e noite, sonhar com a tarde de 3 de maio, um domingo. Final do Campeonato Baiano. Barradão lotado, os rubro-negros são maioria no estádio. O time joga por um simples empate para ficar com o tri. Aos 35 minutos do 2º tempo, o 9 tricolor invade a área e chuta cruzado. É o gol do título! Fim do jejum, fim da agonia. Dá até pra imaginar as manchetes dos jornais do dia seguinte. “Bahia quebra jejum e Paulo Carneiro se vinga do Vitória”, ou quem sabe “Paulo Carneiro faz calar o Barradão”. Tudo isso, por enquanto, é pura ficção. Se virar realidade, PC então conhecerá a glória e o céu. Se a história for outra saberá o que é o inferno tricolor e talvez nem resista.

E os rubro-negros com tudo isso? Não estão indiferentes. Sofreram, sofrem, estão receosos, magoados, indignados, muitos se sentem traídos por PC. Nada mais natural. Se Paulo Carneiro transformou o Vitória, recebeu em troca de sua generosa torcida a justa recompensa. Foi muito bem remunerado, ganhou status, conheceu o mundo, foi eleito vereador, deputado, frequentou as melhores rodas sociais, teve prestígio e poder. Portanto, o tempo dedicado ao clube não foi nenhum favor. Pelo contrário.

Seu retorno ao Vitória era questão de tempo. O tempo de cicatrizar as feridas. Por tudo que fez, ele merecia outra chance. Merecia. Ao aceitar tão honroso convite do Bahia encerrou seu ciclo no Vitória – isso, claro, se o Conselho do clube tiver dignidade. Hoje – inacreditavelmente e para espanto de quem acompanha o futebol – o tricolor precisa de Paulo Carneiro. O rubro-negro, por sua vez, mostrou que pode seguir firme e forte sem ele. Geraldo Bastos/ Jornal a Mídia

Matéria recuperada, publicada originalmente no último dia 14 de janeiro

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