Estamos enfrentando uma perniciosa guerra sanitária que quando terminar, deve deixar um rastro de terra arrasada tanto no campo social como na área econômica, como sempre acontece no final de uma guerra propriamente dita, obrigando que haja uma reinvenção e, por certo, tudo terá que recomeçar do zero, num processo semelhante. E neste contexto, o futebol, não é exceção, pois, a única diferença existente entre o futebol e outros negócios é que, no futebol se lida com vaidades, paixão e coisas abstratas, enquanto que em outros empreendimentos, se lida com a razão, a modéstia e com coisas concretas. E o futebol, vai precisar de competentes gestores que saibam retirar o “s” da crise para encontrar soluções.
Infelizmente, muita gente ainda não tem a mínima noção da importância, relevância e da influência que tem o futebol para o povo de um país, principalmente, o desportista brasileiro que é, sobremaneira, apaixonado por esse fantástico esporte, num Brasil de dimensões continentais, com um calendário repleto de competições estaduais, regionais, nacionais e internacionais, quando no decorrer de uma temporada normal, a bola rola de domingo à domingo, com a realização de jogos pertinentes à cada competição que está inserida no contexto e o fato é que, existe futebol para todos os gostos e camadas sociais.
O negócio, futebol – sem nenhuma associação com o nome de um programa de determinada rede de TV – é fantástico. Além de movimentar, diariamente, uma dinheirama pelo mundo afora e já ter proporcionado independência financeira à muita gente, é um mercado que abrange e abriga em seu campo periférico, uma gama de empreendimentos responsável por um incalculável números de empregos diretos e indiretos, formais e informais. No mercado formal, beneficia o rico comércio e indústria de material esportivo, a mídia esportiva (emissoras de rádio, TV, jornais, sites, blogs), transportes aéreos e terrestres, hotéis, bares, restaurantes, enquanto no mercado informal, foca naquela legião de ambulantes que ficam no entorno dos estádios, em dias de jogos, vendendo cerveja, água, refrigerante, churrasquinho de gato e o escambau de Mussurunga. Então imaginemos, quanto prejuízo acumulado em função dessa pandemia, tanto para o pobre, rico ou mesmo para o remediado?
Como ressaltei no início do texto a respeito desse fenômeno chamado Reengenharia, mecanismo que revolucionou a economia no final do século passado, tenho absoluta certeza que o futebol após passar essa guerra sanitária, Mundo x Coronavírus, os clubes de futebol, necessariamente, serão submetidos a esse processo, se reinventando sob pena de se tornarem ex-clubes de futebol.
Desde o decorrer do mês de março que às competições que estavam em curso foram paralisadas ou interrompidas, oportunidade em que os clubes, federações e CBF vêm estudando e adotando uma série de medidas administrativas, financeiras e técnicas, não só objetivando a sobrevivência dos clubes como, também, tentando preservar vínculos contratuais com atletas e comissões técnicas, até que se vislumbre uma luz no fim do túnel no tocante ao fim da pandemia para que “o rio possa voltar ao seu leito normal”.
Pelo que tenho acompanhado na mídia esportiva, as medidas são duras e austeras, compatíveis com o estado de calamidade pública em que vivemos. Os grandes clubes da Série A e alguns da Série B, anteciparam férias aos seus funcionários e acertaram redução de salários, atitude que nunca agradou nenhum trabalhador do mercado formal de trabalho, imagine jogador de futebol, principalmente, aqueles que fazem parte do topo da pirâmide salarial do futebol profissional, atletas bem remunerados, mas, por mais que ganhem, nunca estão satisfeitos com os saldos das suas contas bancárias. Já com os clubes das Séries C e D, inexiste o fator de altas remunerações salariais, mas, em muitos deles, já houve desmanche do time. Em contrapartida, são clubes de pouca ou nenhuma estrutura financeira, que sobrevivem da modesta receita proveniente da bilheteria ou de patrocínios.
Tenho quase que certeza que, essa estratégia dos clubes de reduzir salários em função da pandemia da Covid-19, tornar-se-á um caminho sem volta, haja vista que, mesmo não se tendo nenhuma previsão da retomada do futebol, os clubes retornarão, uns descapitalizados, outros endividados e alguns, literalmente, quebrados e, diante desse quadro sombrio e desolador que todos projetam, é bem provável que, doravante, haja uma inversão na regra da contratação. Em qualquer inatividade laboral, seja do setor privado ou público, o empregador é quem estabelece o salário que o empregado vai auferir; se este aceitar, tudo bem, se não aceitar, não faltará candidato para pleitear ou preencher a vaga. Mas, o ambiente futebol, é tão vaidoso e surreal que no item principal e decisivo para um emprego ou contratação que é o salário, ao invés do patrão (clube), estabelecer quanto quer ou pode pagar ao empregado (atleta), este é quem faz a proposta salarial ao clube. Parece até piada, mas, infelizmente, é verdade.
José Antônio Reis, colaborador do Futebol Bahiano.