“É hora de ter culhão!” diz zagueiro do Vitória

O Esporte Clube Vitória viverá autênticas batalhas nos três últimos jogos do Campeonato Brasileiro. Quase uma espécie de mata-mata contra adversários distintos com o Internacional, sendo que o rubro-negro baiano, jogando pelo empate já que conta com um ponto além que o adversário gaúcho. A primeira batalha começa nesta quinta-feira, com Vitória enfrentando o Santos fora e o Internacional a Ponte Preta em casa, na seqüência, o Vitória enfrentando o Figueirense já rebaixado no Barradão e o Internacional em São Paulo duelando com o Corinthians e por fim o Vitória encerra sua participação batendo de frente com o Palmeiras, aliás, clube que o Vitória já rebaixou em 2002 quando venceu por 4 x 3 no mesmo Barradão, enquanto o Internacional no Rio de Janeiro confirma ou não sua permanência enfrentado o Fluminense.

O zagueiro Victor Ramos que vira e mexe está envolvido com polêmicas com o torcedor, concedeu entrevista ao jornal A Tarde momento que falou sobre a pressão que o grupo vem sofrendo. A situação do Vitória, erros, MAS lembra: “Nunca rebaixei nenhum clube na vida”


Veja a entrevista

Como está o clima no elenco?

Tem a pressão, né? Mas é normal quando você corre risco de cair num clube grande como o Vitória. Graças a Deus, estamos sabendo e estamos focados e confiantes em sair dessa situação. Ainda mais eu, que tenho uma história enorme no Vitória. Não esperava viver essa situação agora. Nunca rebaixei nenhum clube na vida. Agora, chegou a hora de ter personalidade. É ter culhão mesmo. O clima no Vitória está bom. O professor Argel vem motivando muito o grupo. Vamos, que vai dar! O jogo passado (virada de 3 a 2 sobre o Atlético-PR), viramos assim: na garra e no sacrifício.

Este é o momento mais turbulento de sua carreira?

Está sendo, sim. Mas, tem sido um ano muito proveitoso também. Fui campeão baiano. Infelizmente, a questão é que agora estamos neste risco de degola. Espero que seja a primeira e última vez que brigo contra o rebaixamento. Jogar lá embaixo é complicado. É um vai e vem enorme na zona. Parece que fica uma força ruim te puxando pra baixo. Mas, graças a Deus, tivemos esses 11 dias pra treinar com tranquilidade e estando fora da zona (o jogo com o Atlético-PR foi no dia 6 de novembro. O próximo, contra o Santos, será no dia 17). Está sendo bom para dar uma respirada. Quando você está na zona, aquilo não sai de sua cabeça. Fica o tempo todo pensando: “tenho que sair, tenho que sair, tenho que sair…”.

O clima era mais pesado antes do jogo com o Atlético-PR?

Não tenha dúvida. Mudou tudo depois do jogo. O clima no vestiário, com os funcionários, fisioterapeutas, diretores… Quem está no clube sabe o quanto não ficar na Série A vai afetar a vida de cada um. Pode ter redução de gasto, dispensa… A tiazinha da limpeza, os roupeiros, massagistas, funcionários, ficam todos preocupados. Todos os jogadores sentem isso. Principalmente eu, que comecei no Vitória desde criança, aos 11 anos. Conheço cada tia que trabalha no clube. Me dou bem com todos os funcionários. Fico com receio por eles. Quando a gente perde, no dia seguinte eu chego à Toca do Leão e vejo os porteiros cabisbaixos. Aquilo me entristece. Então, vou dar meu máximo até o último jogo. Todos nós precisamos ficar na Série A, mas eles precisam ainda mais do que a gente. Agradeço ao torcedor, que tem sido paciente e comparecido ao Barradão pra nos incentivar.

 O problema que você viveu com a torcida há alguns meses já virou passado?

Hoje, minha relação com a torcida é tranquila. O que passou passou. No episódio (dias após bate-boca nas redes sociais, em julho, ele foi cercado por torcedores, que o agrediram e danificaram seu carro na saída do Barradão após a derrota por 3 a 2 para o Santos), eu tive o apoio de toda a diretoria, que me acolheu. Mas torcedor vive de emoção. Reconheço que também pequei (no bate-boca nas redes sociais, Victor ofendeu alguns torcedores com palavras de baixo calão). Como jogador, tenho que ter uma postura mais elevada. Se há um jogador que tem mais carinho por este clube, esse alguém sou eu. Sou Vitória de coração desde criança. Quando estava jogando no México (2013), na Bélgica (2009 a 2011), seguia acompanhando o time. Vou ser sempre torcedor. Aquele episódio machucou muito minha família (a mãe também estava no carro). Quem fez aquilo sabe que errou feio, mas passou.

Você sonha em fazer o gol da salvação?

Estou esperando esse gol, viu?! Toda hora que vou à área adversária, penso: “ai, meu Deus, estou precisando desse golzinho”. Espero até o final do ano fazer um ou dois gols. Não por causa de mim, mas pelo Vitória…

Em 2012, você ficou marcado por ter se tornado o zagueiro artilheiro que ajudou a devolver o clube à Série A. Foram cinco gols. Aquela lembrança te deixa ainda mais determinado a marcar agora?

Houve um gol que ninguém esquece, né? Foi em Natal (RN), estava 0 a 0 e eu marquei o gol da vitória contra o ABC aos 50 minutos do segundo tempo. Sinto muita falta de voltar a fazer gol (neste Brasileiro, Victor marcou uma vez, no 1 a 1 com o Botafogo no Rio de Janeiro, há cinco meses). Em outros clubes, também era assim. Até hoje o torcedor do Palmeiras tem carinho por mim por causa dos gols contra o Corinthians (2 a 2 que eliminou o Timão dentro de casa na semifinal do Paulista de 2015) e contra o São Paulo (4 a 0 pelo Brasileiro de 2015). Nesta passagem de agora pelo Vitória, eu não estou sendo tão feliz. Já em 2012 eu cheirava a gol (risos). Marquei contra o ABC, Paraná, ASA, Guarani…

Do fim de agosto a meados de outubro você ficou sem atuar por uma lesão no pé esquerdo (fascite plantar). O processo de recuperação foi angustiante?

Foi difícil. Fiz três infiltrações. Fascite plantar é complicada, pois é uma inflamação embaixo do pé. E o peso todo de seu corpo vai para o pé. Fica difícil recuperar e a dor é insuportável. Não conseguia andar direito. Além das infiltrações, fiz vários outros procedimentos. Levava equipamento para me tratar em casa. Tomei corticoide. Os médicos do clube chegaram a mandar uma carta para a CBF pedindo a autorização para eu tomar corticoide (caso não haja pré-autorização por questões médicas, corticoide é considerado doping).

 Em 12 de setembro, dia que o Vitória contratou Argel como novo técnico, você faltou a um treino e foi suspenso pela diretoria por sete dias. Porém, Argel chegou, disse que teve uma conversa positiva com você e decidiu reintegrá-lo após quatro dias. Como foi a conversa?

Na verdade, eu havia ido a São Paulo para uma reunião com empresários (num domingo de folga para o elenco no dia seguinte à derrota por 2 a 1 para o Flamengo). Terminei ficando lá. Pesou mais porque faltei ao treino da segunda-feira. Não sou de faltar treino. Infelizmente, perdi o horário do voo. Mas nada justifica. Eu falei a Argel: “reconheço que fui errado. Peço perdão. Pode contar comigo para os próximos jogos. Cheguei a ter propostas de fora de país no meio do ano. Minha cabeça ficou balançada. Mas resolvi ficar e estou com a cabeça 100% no Vitória.

Quero tirar o time dessa situação. Prometo nunca mais faltar ou chegar atrasado a um treino”. Nada justifica o que fiz. Eu realmente estava em São Paulo para uma reunião. E aquela história da festa (Victor Ramos foi visto naquele domingo em São Paulo no Vila Mix)… Sim, eu fui lá quando saí da reunião. Mas nem era de noite. Era de tarde ainda. Argel me disse que a festa não era problema, eu estava na minha folga. Sou solteiro e nunca escondi que, na folga, gosto de sair. Não sou padre. O problema foi não ter aparecido no treino de segunda. Me atrasei para o voo, mas não é desculpa. De lá para cá, não houve mais problema. Errar é humano. O problema é persistir no erro. E isso eu não vou fazer.

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