Um pouco da história de glória do Esporte Clube Bahia

Esta semana faz 35 anos do histórico jogo entre Bahia e Santa Cruz, sem dúvidas, os times das duas mais fiéis torcidas do NE, que mesmo nos momentos mais difíceis nunca abandonaram e sempre incentivaram seus times. 

É sempre bom lembrar do histórico 5 x 0 que o Tricolor enfiou na Cobra Coral no Campeonato Brasileiro de 81, na época este era o maior clássico do NE, e os dois tricolores eram os maiores times da região, tanto que em 86, o Bahia foi um dos fundadores do Clube dos 13, e o Santa um dos 3 convidados, ao lado de Coritiba e Goiás, para formar os 16 do módulo verde do Brasileirão de 87. Ao contrário do que muitos dizem, este confronto não se deu numa fase de mata-mata, era um grupo de 4 formado também por Ponte, a famosa Macaca, e o Corinthians. No jogo de ida, no Arruda, o Santa ganhou de 4×0, porém na última rodada do grupo, o Esquadrão precisava e conseguiu fazer 5×0 passando para a terceira fase do campeonato, esta sim um mata-mata, fomos eliminados pelo Flamídia, empate 0x0 na Fonte e 2×0 para eles no Maraca. 

Antes de falar do jogo, peço licença para abrir uma chave, um colchete e um parêntese para contar minha experiência neste clássico. Todo torcedor tem seu jogo inesquecível e nunca apaga da memória sua primeira experiência num estádio. Mas, estar na Fonte, em 04/04/81, apagou da minha mente qualquer lembrança de experiência anterior em uma campo de futebol, tenho certeza que já tinha ido ao Lomantão algumas vezes e até mesmo na Fonte, contudo quando falo sobre o futebol, a primeira lembrança que me vem é o 5×0 e explico.

 Na década de 70 em Conquista, era mais fácil saber o resultado de Olaria x Madureira pelo Cariocão do que o de um BaVice pela final do Baianão, canais de TV eram dois ou três que transmitiam os jogos do Rio, a rádio local quando não passava o jogo do Conquista, passava os jogos do Rio, também não era fácil sintonizar uma rádio de SSA, somente a Globo, a Tupi e a Nacional, adivinhem o que elas transmitiam. Mesmo assim, eu já torcia para o Bahia, mas dividia minha atenção com o Fluminense. Em 80, fui morar em SSA, ficou mais fácil acompanhar o tricolor, assim a paixão foi crescendo e fui abandonando o Flu, o que aconteceu definitivamente na semi de 88. 

Veio o Brasileirão de 81, e o histórico jogo, ao qual fui acompanhado por meu pai e meu irmão, lembro que a Fonte não estava cheia, mas com um bom público, e sentamos atrás do gol da ladeira. Infelizmente, 34 anos depois, não lembro de detalhes, mas lembro que meu pai me tirou do estádio após os 4×0, devido ao meu estado de nervo, quando subíamos a ladeira, o quinto veio, e lá fora mesmo, eu comemorava como um louco. Posso afirmar que este confronto marcou minha vida, e transformou meu amor pelo Bahia, nesta paixão que dura até hoje. 

Com relação ao jogo, o mesmo começou no desembarque da Cobra Coral, quando o irreverente Dadá afirmou que faria o gol baianada, provocação que teve o efeito contrário, pois inflamou a massa tricolor. O Bahia entrou pilhado, logo aos 4 minutos, o excelente ponta esquerda Gilson Gênio, um dos atacantes do meu Bahia dos sonhos, marcou em cobrança de falta ensaiada. Repetindo a façanha aos 13 com uma bomba da entrada da grande área, golaço. No final do primeiro tempo, o centroavante Dirceu Catimba fez o seu, num excelente cruzamento do Craque, com C maiúsculo, Léo Oliveira. 

Diz à lenda que no intervalo a Fonte encheu, eu que estava lá não lembro disto, mas cada torcedor passou a vibrar por dois, e a torcida Povão que sempre ficava à direita das cabines de rádio, gol do Dique, se mudou para a esquerda em frente às cabines, pressionando Wendel, o goleiro deles. A vibração e a pressão da torcida deram resultado, antes de marcar o 4º, metemos uma na trave, depois em uma jogada de gênio de Gilson, fazendo jus ao apelido, o Bahia marcou com Toninho Taino, bom meia direita. 

Na sequência, Gilson, sempre ele, quase marca de voleio, mas Wendel salvou. O jogo se aproximava do final, o clima ficava tenso, meu pai me tirou do estádio, mas nada evitou o quinto que veio numa braga da defesa coral que tentou deixar nosso ataque em impedimento após um lançamento/chutão de Zé Augusto, Léo Oliveira e Toninho Taino apareceram livres na cara do gol, e após conclusão do primeiro, Taino pegou o rebote e marcou o quinto gol, mostrando que para o Tricolor nada é impossível, fazendo nossa estrela brilhar. No final, como era tradição naquela época, a torcida invadiu o gramado e comemorou junto com seus ídolos. 

Alguns jogadores daquele time seriam titulares com o pé nas costas do atual Bahia, destaco os craques Léo Oliveira, um meia clássico daqueles que não se encontra mais no futebol brasileiro, e Gilson Gênio, um ponta que entortava os laterais com a mesma facilidade e categoria que concluía ao gol, além de fazer o impensável, substituir à altura o inesquecível Jesum. Vale lembrar também do inteligente Emo, jogador que encaixava em qualquer esquema tático, fazendo como poucos o papel do 4º homem do meio-campo. Fecho com Toninho Taino, meia direita goleador, com breve, mas marcante passagem pelo esquadrão. 

Para encerrar, relembro os 11 que entraram em campo: Renato (bom goleiro), Edinho Jacaré (este tem história), Zé Augusto (zagueiro limitado, mas que caiu nas graças da torcida), Edson Soares (zagueirão estilo passa a bola ou o jogador, os dois juntos nunca), e Ricardo Longui (não deixou saudades); Washington Luis (jogava com razoável desenvoltura nas 10), Léo Oliveira (craque, jogador de nível europeu), Toninho Taino (rápido, goleador e lutador) e Emo (jogador que todo técnico gostaria de ter no elenco); Dirceu Catimba (um Roger da década de 80) e Gilson Gênio (já falei e repito, craque, jogaria fácil em qualquer time da Série A). Treinador Aimoré Moreira, campeão mundial em 1962, e irmão de Zezé Moreira. Os dois juntos com Titio Fantoni formaram a tríade de velhinhos que muita alegria deu à Nação Tricolor.

Miguel Leite é torcedor do Bahia que em breve fará parte do BLOG como parceiro sem prejuízo para o funcionamento do seu BLOG SOBAHÊA, onde o assunto do Esporte Clube Bahia é tratado com zelo, carinho e atenção.

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