As lições que deixaram o vexame do Esporte Clube Bahia

Claro que há explicações para esse vexame. Só não acho que possam estar em um só lugar, muito menos numa só pessoa.

Mas é possível, sim, apontar um momento em que foi fixado o script da consumação desse fracasso. Refiro-me à troca amadora do técnico Sergio Soares pelo projeto (duvidoso) de técnico Charles Fabian, na trigésima rodada do campeonato. O time não vinha bem, é verdade, e até poderia não conseguir o acesso (vivia oscilando entre a cauda do G4 e o sexto lugar) mas era um time e não o bando de baratas desorientadas, como vimos nos três últimos jogos, quando o time adquiriu realmente a marca (ou a ausência de marca) do anjo 45.
Não quero crucificar Charles, cuja folha pregressa de serviços e atual dedicação ao Bahia são indiscutíveis. Mas são também indiscutíveis a sua falta de tarimba profissional para dirigir o time em momento tão crucial como também o seu temperamento complicado, afeito a um padrão “super-sincero” que amplificou, em vez de amenizar, os evidentes problemas internos de relacionamento no elenco.

Se Sergio Soares já não tinha o pleno controle do mesmo, exatamente por problemas com alguns jogadores, pior ficou quando o substituto realçou esse fato, invertendo o sinal do contencioso para em seguida agir com uma biruta, com gestos contraditórios com o que havia dito e feito nos dois primeiros jogos. Jogos, aliás, em que o time não foi melhor (nem poderia ser, como um toque de mágica) que o de Sergio Soares, apenas mais aguerrido, refletindo uma expectativa psicológica positiva, devidamente turbinada pela imprensa. Mas bastou uma derrota – plenamente justificável – para o Botafogo, fora de casa, para que o treinador mostrasse que não tinha qualquer rota, a não ser o “vamos que vamos!”. Foi-se por aí e aqui estamos, procurando rota para Caxias do Sul, Londrina, etc..E de modo vergonhoso, humilhante e não disputando até o fim, como poderia ocorrer se essa opção amadora não houvesse sido feita.

A medida desastrosa decorreu do recuo, após lúcida e prolongada resistência, do presidente do clube às pressões de boa parte da torcida, pressões fomentadas e amplificadas pela banda da imprensa baiana saudosa dos tempos de Marcelo Guimarães et caterva e que repercutiram também no âmbito dos conselheiros do clube, por variados motivos e sob também variadas intenções.

Democracia presidencialista em clube de futebol é faca de dois gumes. Se é boa para dar transparência e espantar malfeitores, pode ser uma armadilha quando se adota, como se adotou, um modelo de gestão compartilhada ao lado de um regime estatutário excessivamente responsabilizador do presidente. Essa combinação permite que conselheiros atuem nos bastidores sem assumir de público suas responsabilidades, as quais, para a grande massa, recaem sobre o presidente, mesmo quando ele e lavado a agir contra as suas preferências, como foi o caso. O resultado é perverso, porque o presidente gere em equipe e responde quase solitariamente pelo sucesso ou pelo fracasso.

Creio que é preferível ter um presidente escolhido por um conselho, este sim, eleito democraticamente, direta e secretamente, em urna, pelo conjunto dos sócios, com chapas fazendo campanha aberta e transparente, para que cada sócio saiba e decida a quais diretrizes e plano de trabalho o seu futuro presidente irá servir. O modelo eleitoral adotado após o bem sucedido período de intervenção  foi equivocado porque a torcida votou no presidente praticamente ignorando a composição do conselho, na ilusão de que o presidente “mandaria”, uma vez que as “chapas” para o conselho não tinham importância na campanha, embora tenham influência grande durante a gestão. Por mais que Marcelo Santana avisasse o contrário, que dirigira em equipe, isso não o exime agora de ser o alvo fácil das críticas passionais da torcida e do bombardeio da parte da imprensa interessada no seu fracasso.

Essas são, a meu ver, as lições futebolísticas e político-administrativas que devemos aprender dessa experiência dolorosa do segundo semestre de 2015. Sem esquecer dos sucessos administrativos e futebolísticos que a precederam.

Saudações tricolores


Torcedor do Bahia – Paulo Fábio Dantas Neto 

Autor(a)

Fellipe Amaral

Administrador e colunista do site Futebol Bahiano. Contato: [email protected]

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