Os riscos do movimento “Bahia da Torcida”

POR PEDRO CARIBÉ

Amante do futebol, torço para que o rival esteja perdendo suas
partidas, mas que jamais sua torcida perco elo de pertencimento à uma
paixão. Futebol é manifestação cultural, vitalidade social, e também
política, por isso a democracia é o caminho a que defendo para que cada
um se sinta ainda mais participante da história ao gritar nas
arquibancadas. Torço para que nas derrotas qualquer torcida não vá para
casa com a sensação de sua inutilidade frente aos esquemas do diretor de
futebol, o mercenarismo dos jogadores e a vaidade do presidente.

No futebol brasileiro se somam nos últimos anos diversas
manifestações para democratizar os clubes, federações e até mesmo os
estádios. Na Bahia o “Movimento Somos Mais Vitória”, por exemplo, peleja
há três anos, e os jornais locais jamais deram espaço superior a notas
de “rodapé”. Já o movimento “Bahia da Torcida”, erguido em poucos dias
tendo a liderança de um publicitário, Sidônio Palmeira, tem mais espaço
do qual qualquer fila de meia hora no ferry-boat.

O movimento aparece como um caminho de salvação, mas desde já
demonstra mais perigos do que se possa imaginar. Sidônio Palmeira é o
principal publicitário do principal anunciante local – o governo
estadual – e também da Arena Fonte Nova. Se engana quem credita a
publicidade mero papel de prestação de serviço, ela é é corpo e alma de
governos e empresários. Por isso, Sidônio é peça chave para que a Arena
se viabilize em termos financeiros e políticos. Tendo parcela
significativa para arquitetar um dos maiores crimes ao imaginário
popular: a transformação da Fonte Nova em Arena Itaipava.

A Arena tem experimentado públicos muito abaixo do previsto. Na
primeira partida da final do campeonato baiano foram apenas 20 mil
presentes. Já contra a Luverdense, a tentativa de púbico zero esbarrou
em ingressos distribuídos gratuitamente pela Arena. O tricolor já passou
por fases piores, nas Séries B e C, mas jamais teve uma rejeição tão
grande a comparecer num estádio que os ingressos mais baratos custam R$
35,00.

A Arena Itaipava também é um dos gargalos econômicos a serem
resolvidos pelo Bahia caso deseje retornar ao posto de destaque no
cenário nacional. Somam-se os textos colocando os problemas presentes e
futuros as receitas do clube, inclusive por comentaristas mais polidos
devido a tribuna que ocupam, a exemplo de Darino Sena e Marcelo
Sant’Ana, ambos da Rede Bahia.

Dessa forma, a Arena Itaipava corre risco de se tornar próximo alvo
dos protestos dos torcedores, e está cabendo a Sidônio evitar isso, ao
lançar o movimento na antiga Fonte Nova.

Sidônio que deve ser o “Secretário” mais forte ao longo dos seis do
governo Wagner. Ninguém frequenta tanto o Palácio sem sofrer qualquer
tipo de crítica pública. Ninguém tem carta branca para fazer campanha
para um deputado aparentado do PSDB enquanto participa do núcleo de uma
campanha de um petistas para governo do estado. Ninguém tem os repasses
de dinheiro público tão preservados pelos Tribunais de Contas e veículos
de impressa quanto as verbas publicitárias manejadas pela Leiaute.

Por isso, corre-se um risco ainda mais grave. Relacionar uma
manifestação cultural de tamanha envergadura com a propaganda de um
governo. Isso, até onde me digam o contrário, é um sinal de relação
totalitária entre Estado e povo. Enquanto eleitor de Wagner, antes mesmo
de ter título de eleitor, espero que isto não se perpetue, não seja
vitorioso, porque ele ainda tem um legado histórico a que respeito.
Aliás, desde que Wagner resolveu se ligar umbilicalmente ao futebol, ao
promover o BaxVi da Paz na antiga Fonte Nova, os espíritos insanos do
esporte trataram de refutá-lo em doses drásticas e nem sempre
homeopáticas.

Pois bem, espero que o Bahia passe por uma revolução democrática, mas
que os torcedores sejam os reais protagonistas. Em 2008, após o
desabamento da Fonte Nova e a iminente reinauguração de Pituaçu, vários
que se dizem opositores de Marcelo Guimarães Filho aceitaram uma vaga no
Conselho do clube. Pessoas das mais diversas matrizes políticas
partidárias se uniram. O time retornou à Séria A após sete anos e foi
campeão baiano depois de 11 anos. Mas a torcida continua a não se sentir
integrante da sua história.

Agora, no primeiro encontro do movimento “Bahia da Torcida” com a
diretoria, estavam presentes: representando Marcelo Guimarães Filho um
sobrinho de Carlos Alberto Dultra Cintra – o Don Corleone do Judiciário
Baiano; e como intermediador do movimento, o irmão do radialista José
Eduardo, o Bocão, reconhecido pelos nobres serviços de chantagem a
gestores e manipulação aos torcedores.

Cuidado torcedores do Bahia, até mesmo os mais “esclarecidos” estão a
fazer de tudo por qualquer triunfo, ou um campeonato nacional não
vexaminoso. Cuidado, os problemas futuros podem ser piores do que duas
goleadas para o Vitória na Arena Avenida Sete 51.

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