A ciranda do torcedor baiano

Engraçado como as coisas mudam de
lado de tempos em tempos e um dia quem era caça vira caçador. Mais engraçado
ainda é que tudo o que era comemorado e defendido simplesmente se esquece, e
tudo que era criticado vira o argumento predileto para zoar o adversário.

Essa tem sido a rotina dos clubes
baianos, e com sérios riscos de ser nossa eterna realidade. Talvez por isso nós
muitas vezes entendemos mais do nosso adversário do que de nós mesmos, afinal a
possibilidade de termos “momentos de alegria” com o futebol parece ser mais
fácil com o fracasso do coirmão do que com o nosso sucesso. Isso é nítido nas
discussões e debates, inclusive aqui mesmo nesse blog nos comentários dos
diversos posts, onde prevalece o adversário pitacando, secando e provocando,
geralmente durante as frequentes decepções que nossos clubes nos impõem.

Há poucos anos o torcedor Rubro
Negro esculhambava o tricolor por esse não conseguir voltar para a elite do
futebol brasileiro, e por passar dificuldades no meio de times com menor
projeção e, principalmente, pior condição financeira. Foram alguns anos penando
para conseguir o acesso sempre sob o olhar de deboche do torcedor Rubro Negro
que se gabava de forma arrogante ser de primeira. A escassez de títulos do
tricolor baiano também foi motivo de exaustiva provocação, principalmente pelo
jejum ser o maior da história do Bahia. E não é que em pouco menos de dois anos
as coisas se inverteram completamente e quem sofre com as gozações que
costumava se deliciar é justamente a torcida do Vitória.

Por sua vez o torcedor do Bahia
ridicularizava o Rubro Negro debochando por ser “apenas” coadjuvante da elite
do futebol Brasileiro já que o “máximo” que conseguia era passar poucas rodadas
como destaque, ainda que fosse entre os primeiros do difícil torneio. E quando
o time se aproximava da zona de rebaixamento, de pronto a torcida do Bahia
atestava que era a única coisa que o adversário conseguiria disputar. A
presença em um torneio internacional também foi motivo de desdém, como se pouco
significasse, e ainda na disputa a zoação era pelo fraco desempenho, com a
desclassificação nas fases preliminares.

E não é que nessa inversão de
papéis o Bahia, que voltou a elite do futebol Brasileiro, fica em uma eterna
luta contra o rebaixamento sem sequer conseguir figurar na primeira página da
tábua de classificação? E a comemoração que foi feita por voltarem ao cenário
internacional, ainda que tenham sido apenas para perderem os dois jogos na fase
nacional do torneio? E o mais incrível é que o que era motivo de orgulho para o
Rubro Negro vira, sem constrangimento algum, o mote das provocações contra o
rival tricolor.

Outro fato a se destacar é a
redução do valor do ingresso em uma tentativa de ver o estádio lotado e que
esse fato seja determinante no momento de grande necessidade para evitar o
rebaixamento. Quando foi feito pelo Rubro Negro não faltou deboche e provocação,
já nesse ano o fato é comemorado e exaltado pelo torcedor tricolor.

Nesse final de temporada estamos
vivendo mais um capítulo dessa torcida inversa como se o fracasso do adversário
fosse mais importante do que o nosso sucesso. Na verdade parece ser mais uma
falta de confiança em nossos clubes sendo mais fácil apostar na desgraça
alheia, o que seria um consolo diante de nossa incapacidade de alcançar nossos
objetivos. E é nessa ciranda que nós baianos vamos vivendo, sem uma perspectiva
razoável de enfim comemorarmos grandes conquistas no cenário nacional.

Ainda é possível acreditar que
nossos clubes decepcionarão as respectivas torcidas adversárias e tenhamos uma
comemoração por nossos objetivos alcançados nesse final de 2012 – estarmos na
série A em 2013. E com isso enfim poderemos ter de volta um clássico baiano na
primeira divisão. Seria muito importante para nosso futebol e representaria um
passo adiante para quem procura algo mais do que ficar em uma ciranda
improdutiva. O momento com a volta do Campeonato do Nordeste é ideal, mas
talvez tenha gente que não esteja nem aí e prefira o clássico em uma divisão
inferior. Beira o absurdo, mas não é com isso que estamos nos acostumando?

Victor Hugo

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