Estrelas no escudo: ter ou não ter, eis a questão

É do costume dos torcedores brasileiros se orgulharem das estrelas que seus clubes ostentam acima dos escudos. Funciona de maneira semelhante às condecorações dos militares, quanto mais condecorações, maior o respeito. Entretanto, qual é o real significado destas estrelas?

Existe um padrão?

Em grande parte da Europa não há interesse em estrelas. Na Itália os clubes só são autorizados a adicioná-las a cada 10 títulos do Campeonato Italiano Série A. Os únicos clubes que conquistaram este direito foram Juventus, Milan e Inter. Neste caso, ter uma estrela é, sem dúvida, motivo de orgulho.

Aqui no Brasil não há padronização. Os clubes as utilizam ao seu bel prazer.

Os clubes paulistas costumam ignorar os títulos nacionais e estaduais. O Santos e o Palmeiras, maiores campeões brasileiros, não usam estrelas para o Brasileirão. O primeiro homenageia “apenas” o bicampeonato Mundial de 62/63. Já o segundo, que até 2002 tinha quatro em homenagem aos brasileiros de 72/73/93/94, não as utilizam mais. “As estrelas no interior do escudo, oito, adicionadas em 1959, representam o mês da fundação do clube, agosto, e o número de títulos paulistas conquistados quando o clube ainda se chamava Palestra Itália.”

O São Paulo, clube vitorioso, é bem rigoroso. Consta no seu estatuto a proibição de inclusões de títulos considerados de menor importância. Conquistas continentais, nacionais e estaduais jamais poderão ser representadas. De acordo com este principio as três estrelas vermelhas são para representar os três títulos mundiais, 92/93 e 2005, e as duas douradas para homenagear os recordes mundiais e olímpicos, no salto triplo, de Adhemar Ferreira da Silva, em 52 e 55. O Corinthians, até 2011, tinha cinco para representar os brasileiros de 90/98/99 e 2005, além do mundial de 2000. Após isso a diretoria resolveu retirar todas.

Os clubes cariocas, considerando seus tamanhos, são, talvez, os maiores desvalorizadores das estrelas. Isso se deve ao fato deles utilizarem estes símbolos para estaduais. O Fluminense possui três para representar os três tricampeonatos cariocas de 1917/1918/1919, 1936/1937/1938 e 1983/1984/1985. O Flamengo já usou quatro douradas para representar quatro tricampeonatos cariocas [1942-1944, 1953-1955, 1978-1979 (bicampeão em 79) e 1999-2001].

Hoje utiliza apenas a do Mundial. O Botafogo possuía quatro para o tetracampeonato carioca de 1932 a 1935, hoje possui apenas a famosa estrela solitária herdada do Club de Regatas Botafogo. Já o Vasco, tem uma verdadeira constelação, oito no total. Elas representam os Campeonatos Invictos de Terra e Mar de 1945, Campeonato Sul-Americano de 1948, Campeonatos Brasileiros de 74/89/97/2000, Libertadores de 98 e Copa Mercosul de 2000.

No Sul do país temos o seguinte. O Grêmio simplificou. Colocou uma bronzeada para os títulos nacionais, uma prateada para os continentais e uma dourada para o Mundial. O Internacional de Porto Alegre, por outro lado, fez de tudo no seu escudo. Já teve duas estrelas douradas para representar o bicampeonato brasileiro de 75/76. Adicionou uma terceira e ramos de louro para representar o tricampeonato brasileiro invicto de 79. Em 92, com a conquista da Copa do Brasil, mais uma dourada entrou para o escudo.

Com a conquista da Libertadores, em 2006, uma quinta dourada(um pouco maior que as outras) entrou para a constelação. O Mundial de 2006 foi representado por uma estrela prateada. O Inter ainda teve uma Coroa para simbolizar a Tríplice Coroa[Libertadores(2006), Fifa Club World Cup(2006) e Recopa Sul-americana(2007)]. Hoje, não utiliza mais estrelas, por se considerar Campeão de Tudo.

O Atlético-MG possui apenas uma dourada, por conta do brasileiro de 1971. Já o Cruzeiro ostenta uma coroa. Ela representa a Tríplice Coroa do Futebol Brasileiro(Estadual, Brasileirão e Copa do Brasil) em 2003.

O Goiás já ostentou seis estrelas. Uma dourada para simbolizar a Série B de 99 e cinco prateadas para o pentacampeonato goiano entre 96 e 2000. Atualmente só utilizam a dourada. O Atlético-GO exibem duas douradas para os Campeonatos Brasileiros Série C de 90 e 2008.

O Fortaleza possui quatro azuis simbolizando o Tetracampeonato Cearense de 2007/08/09/10, e duas douradas para os Regionais de 46 e 70. O Ceará possui cinco na parte interior do escudo, elas representam o pentacampeonato cearense, de 1960 a 1965.

O Bahia expõe duas estrelas douradas com muito orgulho. Estas são, talvez, as estrelas mais valorizadas por uma torcida de futebol. Ou seja, são supervalorizadas. Há quem diga que é por serem raras. Uma representa a conquista da jurássica Taça Brasil de 59(é o único clube que utiliza estrela para esta extinta competição), e a outra o Brasileiro de 88. O Vitória se quisesse entrar no extenso grupo dos desvalorizadores de estrelas, poderia muito bem colocar uma por ser o único Pentacampeão do Nordeste. Outra caberia para o deca campeonato da Copa Norte-Nordeste de remo. Se o negócio for banalizar…

Enfim, as estrelas, definitivamente, não são valorizadas por aqui. Os maiores clubes Brasileiros estão enxugando suas estrelas. E os menores, brigando por migalhas. Bom seria se a CBF regulamentasse o uso destes símbolos. Nem padronização em relação às cores existe. E mesmo assim, há quem encha a boca para dizer que tem estrela. Você ainda acha que elas são grande coisa?

J. Rodrigues

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