Oráculo do Barradão

Neto Baiano tem quase tudo o que um jogador de futebol precisa para ser feliz: carrão, mulher bonita ao lado e vaga de titular. Artilheiro do Brasil na temporada, homem-gol do Barradão e candidato a ser o maior goleador do Vitória em todos os tempos.

Neto Baiano tem quase tudo o que um jogador de futebol precisa para ser feliz: amigos no vestiário, moral com funcionários e desfruta de uma imprensa carente de pessoas autênticas. Está sempre sorrido pelas ruas, bares e festas de Salvador e também no noticiário esportivo.

Neto Baiano tem quase tudo o que um jogador de futebol precisa para ser feliz: falta o carinho da torcida. Este detalhe, justamente o principal entre todas as coisas do futebol, é o que marca para sempre os jogadores.

O carinho da torcida torna mais difícil a decisão de parar. Muitos viram ex-jogadores em atividade porque são viciados na energia dos estádios. Entram em campo sem qualquer condição. O carinho faz com que muitos jogadores, mesmo aposentados, sigam presentes nas conversas de arquibancada. O carinho da torcida mantém o jogador vivo mesmo após a morte.

No passado, não se cobrava ao atacante que fosse craque, embora os craques sempre tenham sido mais respeitados. Hoje, além dos gols, cobram-se de Neto Baiano boas partidas. Que saia da área, que se desloque, que dê passes, que não seja apenas um cone. Mesmo que seja o
cone o jogador que mais vezes fez a torcida gritar gol no Barradão.

Conta-se que Dadá Maravilha, certa vez, afirmou: “Nunca aprendi a jogar futebol, pois perdi muito tempo fazendo gols”. É também de Dadá outra frase famosa: “Não existe gol feio. Feio é não fazer gol”. E Neto Baiano tem seguido à risca os mandamentos, seja de bola rolando ou pênalti. Aliás, o Brasil foi campeão do mundo em 1994 batendo pênalti, a Itália copiou em 2010, mas não se aceita que Neto seja artilheiro assim.

Neto Baiano até já fez gol de título em Ba-Vi e nem assim tem moral com a torcida. Foi em 2009, quando o Bahia abriu 2×0 e 99,9% dos rubro-negros temiam que o time perdesse o título dentro de casa, tendo, para completar o roteiro, o ex-presidente como diretor do rival. Muita gente ia enfartar. Neto evitou uma tragédia coletiva.

Neto Baiano passou por quase tudo no Barradão. Foi titular, reserva, fez gol, golaço, entrou para o Inacreditável Futebol Clube, foi expulso, vaiado e aplaudido. Sabe todas as respostas do Barradão. Exceto como ser compreendido.

Marcelo San’ana/Correio

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