E.C Vitória: Um modelo de gestão esgotado

Fim do Campeonato Brasileiro 2010. Com um golaço de voleio do volante Ueliton, já nos descontos da partida, o Vitória faz um a zero no Atlético-GO e se mantém na primeira divisão do futebol nacional. Uma partida dramática, mas com um final feliz! Festa na Toca do Leão nas mesmas dimensões de um título nacional!

E a temporada de 2011 começa da mesma forma que terminou a do ano anterior. O presidente Alexi Portela Jr. segue com o mesmo discurso que sempre caracterizou sua gestão. “Não vamos montar o time que a torcida e nós queremos. Não dá pra fazer mais do que isso! O Vitória, hoje, tem responsabilidade e não vamos meter os pés pelas mãos”, afirmou o mandatário rubro-negro a um programa de rádio local.

Chega o Brasileirão 2011 e após uma campanha pífia, o clube baiano disputará a série B em 2012, após cinco anos.

Pois é, caros rubro-negros, se não caíssemos para a série B esse ano, provavelmente seríamos rebaixados em um futuro não muito distante. Esse roteiro descrito acima poderia ocorrer facilmente no ano que vem. E o Esporte Clube Vitória, enfim, disputará a segunda divisão na próxima temporada. Uma verdadeira crônica de uma morte anunciada. E isso é decorrente, principalmente de um modelo de gestão que veio contaminado com a economia de ousadia desde os tempos da série C (aqui plenamente aceitável) e foi duramente devorado na série A, que não perdoa fragilidade administrativa.

Sabemos o quanto Alexi Portela Jr. é apaixonado pelo Vitória. Pessoa que carrega uma trajetória iniciada através do seu pai nos bastidores do clube, foi um dos poucos que deu a cara pra bater em um dos mais sombrios momentos da história do Leão da Barra. Inclusive, é de conhecimento da maioria, que o mesmo até injetou recursos na instituição que devia a Deus e o mundo e não possuía naquele instante credibilidade para começar a se reerguer. Sua abnegação e amor foram primordiais para o fortalecimento e renascimento do Vitória como um todo e quem se esquece disso tudo, no mínimo é ingrato.

Mas, aí veio a série A e nós continuamos com aquela política de contratação “Tio Patinhas” (leia-se, canguinha) e que acabou por se transformar em ordinária. Não houve renovação administrativa e o barato saiu caro. O elenco do Vitória continuava a ser montado da mesma maneira que em edições anteriores (e sempre terminava lotado de jogadores “come-dorme”!) e o discurso de Alexi era de que nos contentássemos com toda aquela situação! Nesse ano, tivemos a mesma mescla de atletas reprovados em outros clubes (vide Tiago Humberto), com jogadores decadentes (vide Kleber Pereira e Lenílson), promessas a custo 0800 (vide Henrique), com os garotos da base (nossos melhores resultados – vide Neto Coruja e Gabriel Paulista). O que se viu foi que dessa vez a sorte não nos bateu à porta e formamos, com toda certeza, o mais fraco elenco desde 2008 (de que adianta vontade, sem qualidade técnica?). Uma campanha, na qual dos trinta e oito jogos, ganhamos apenas nove, mostra que fomos um dos quatro mais incompetentes times do Campeonato Brasileiro de 2010. Quando vi o Atlético-MG vencer o clássico contra o Cruzeiro, imediatamente liguei para Niltinho Sampaio e comentei com ele que todo mundo que estava por baixo fazia uma “gracinha”, menos o Vitória. Talvez, o único resultado realmente brilhante do Leão em todo campeonato, tenha sido aquele triunfo por 1×0 frente ao Cruzeiro em Minas Gerais! (aliás, sabe lá Deus como aquilo aconteceu!).

E quando procuramos por mais motivos, identificamos mais trapalhadas. Tivemos dois diretores de futebol e terminamos sem um profissional no cargo. Fora que os dois nomes… Pra mim, horrorosos! Um letárgico Mauro Galvão e um desequilibrado Carlito Arini. E as decisões quanto ao comando técnico? Aquela ida e volta de Ricardo Silva, com um intervalo preenchido pelo também desequilibrado Toninho Cecílio resumem e explicam o porquê da série B em 2011. Erramos e erramos muito, Alexi e Cia! E ainda por cima vejo a mesma desculpa esfarrapada da velha “improbabilidade do futebol” alegada também pelos responsáveis dos rebaixamentos de 2004 e 2005! Fala sério!

O Vitória precisa de pessoas competentes preenchendo os cargos de direito. É hora de o rubro-negro buscar gente expert para os departamentos do clube. Precisamos urgentemente de uma equipe que administre profissionalmente o futebol do Vitória. Chega de amadorismo! Alexi, se ficar, deve estar à frente da gestão do clube, e não dos departamentos, simplesmente porque ele NÃO ENTENDE DE FUTEBOL! Agir dentro da atmosfera futebolística requer visão, planejamento sólido, experiência, interação com as divisões de base, contatos, ser ousado, saber contornar situações adversas (quero ver um gestor de respeito permitir tanto corpo mole de jogador como vimos por aqui!), dentre outras atribuições. E isso, caros senhores, faltam às pessoas que hoje se encontram à frente do futebol do nosso clube.

E outra coisa merece ser destacada. De nada adianta ter alguém competente gerindo o futebol, se a estrutura e os recursos oferecidos forem insuficientes. E aí é que surge o problema. Se no ano em que mais se arrecadou, a direção alegava não poder fazer muito, o que iremos esperar para o ano de 2011, no qual as receitas serão menores? Que os nossos diretores entendam que para se ter sucesso é necessário ser ousado, por exemplo, investindo no marketing para que essa ferramenta atraia mais investidores através da marca “Vitória” que é muito forte. É preciso aprender com os clubes bem sucedidos e que se encontram fora do eixo Rio-São Paulo sobre o que é necessário fazer para se driblar as diferenças de receitas e ao mesmo tempo fazer frente aos maiores do nosso futebol. Caso contrário, vamos virar um time de segunda divisão, fazendo apenas campanhas medianas e perdendo, cada vez mais, espaço no futebol brasileiro.

Observem o exemplo do Guarani. Por lá existe um tal de Leonel Martins que através de sua teimosia e centralização de poder (algo que hoje também ocorre no Vitória) vem colocando o bugre cada vez mais no fundo do poço. Já havia rebaixado o verdão de Campinas no primeiro semestre no paulistão e não se contentando, colocou o clube também na segundona do brasileiro do ano que vem. Tudo por causa de um modelo de gestão (e será que tem?) fracassado, que não contribui coisa alguma para o crescimento da instituição e que não busca evoluir.

A sorte de vocês, caros diretores, é que comandam um clube que possui uma das mais apaixonadas torcidas do país. Domingo, após o apito de final do juiz, eu vi muita gente aos prantos nas arquibancadas do Barradão como se algo valioso tivesse sido extirpado de suas entranhas! Havia muita dor! A sorte é que vocês não comandam um Grêmio Prudente da vida que fica de cidade em cidade mudando de nome e em busca de estádio e torcida, senão estariam ferrados! E não tenho dúvidas que todos os rubro-negros estarão unidos na Campanha do “Vamos subir Nêgo (Parte II)”, até porque o fanatismo e a paixão desse povo são infinitos. Mas, fiquem sabendo também, que quanto maior é o clube, maior é a responsabilidade de gestão. Hoje, vocês que fazem o Vitória, têm a obrigação de levar o Rubro-Negro baiano de volta à série A em 2012. Espero que vocês tenham aprendido a lição e levem como exemplo para a próxima temporada, o pensamento de minha mãe. Segundo ela, “às vezes é preciso cair para aprender e se reerguer!”. Agora, com esse modelo de gestão, baseado na conta de palito e sem ambição alguma, o caminho será muito mais difícil!

Força, Vitória!

Saudações Rubro-Negras!
Renato dos Anjos Ribeiro
Rubro-negro e fisioterapeuta.
E-mail: [email protected]

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