Baiaco – o marcador que parou Pelé

Paysandu e Tuna, do Pará; Sampaio Corrêa, do Maranhão; América, do Rio Gande do Norte; Sport Club Recife, de Pernambuco; Vitória e Esporte Clube Bahia, da Bahia. São esses os únicos clubes do Norte e Nordeste brasileiro, que já conquistaram o título de campeão nacional de futebol.

Mas, campeão brasileiro “mesmo” em disputas envolvendo os principais clubes do Brasil, apenas o Esporte Clube Bahia, em todo o N-NE. Foi campeão brasileiro da antiga Taça Brasil, derrotando o Santos Futebol Clube, com Pelé e todos os outros astros reluzentes da época, com o gol único da vitória assinalado pelo cearense de Maracanaú, Alencar, no estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro).

Depois, foi campeão brasileiro sob o comando de Evaristo de Macedo, contando com o fisicultor cearense José Carlos Queiroz – em 1989, técnico do Maranhão Atlético Clube, naquela decisão inesquecível contra o Moto – e com o lateral-direito Tarantini, ex-Sampaio Corrêa e com o lateral-esquerdo Paulo Robson, ex-Santos e Imperatriz.

Pois, entre esses dois importantes títulos do Bahia no futebol brasileiro da primeira linha, alguns jogadores, de forma individual, foram de extrema importância para essas conquistas. No primeiro, além de Alencar, o Bahia tinha também Léo, Marito, Biriba, Osvaldo Baliza, Henrique e outros.

No segundo, além de Beijoca, Bobô, Douglas, André Catimba, Paulo Robson e outros, individualmente um jogador era preponderante: Baiaco. Jogador de reconhecida importância em todas as conquistas do Esporte Clube Bahia nas décadas de 70 e 80. Isso sem contar a longevidade, como jogador que vestiu apenas duas camisas: a do “Tricolor de Aço” da Boa Terra e, no encerramento da carreira, em 1981, a do Leônico.

Nascido a 7 de julho de 1949 em São Francisco do Conde/BA , Edvaldo dos Santos, o “Baiaco” foi um dos principais responsáveis pela conquista do inédito título de heptacampeão (sete vezes seguidas) da Bahia nos anos de 1973, 74, 75, 76, 77, 78 e 79. Isso sem contar que, antes, participara de forma decisiva na conquista do bicampeonato de 1970/71. Decididamente, 1972 veio para atrapalhar.

Jogador de pouca técnica – em relação aos muitos que por ali passaram -, Baiaco tinha “conhecimento” de todos os “atalhos” e de todos os “recursos” para marcar bem um atacante adversário, ou quem quer que fosse, que desejasse “derrubar” a meta do goleiro tricolor.

Como todo bom “operário” do futebol, Baiaco era um predestinado, e bons fatos sempre marcaram sua longa carreira no futebol da Bahia. Em 1969, com 999 gols, Pelé “poderia” marcar o milésimo gol numa partida contra o Bahia, fato que colocaria o estádio da Fonte Nova na história do futebol brasileiro. O jogo era válido pelo campeonato nacional.

“Poderia”. Nem mesmo a imprensa do país que, ansiosa para registrar o fato, estava presente em peso ao estádio, nem o próprio Pelé contavam com a marcação implacável daquele baixinho magrinho, que escondia uma determinação invejável, que acabou se transformando no grande nome do jogo.

Baiaco, não apenas evitou o que “poderia” ter sido o gol mil do Rei do Futebol, como também marcou o gol que garantiu o empate do Esporte Clube Bahia, um dos seis únicos da sua longa carreira.

Fazer gols Baiaco não sabia. Tinha certeza que essa era uma tarefa para os atacantes. Por isso, marcou apenas seis ao longo de treze anos como profissional. Talvez por isso, também não deixasse os outros “faturar”, e tenha-se tornado o melhor cabeça-de-área da história do futebol baiano.

Baiaco, um dos grandes ídolos da torcida do Bahia em todos os tempos, um marcador implacável. Ainda hoje é saudade e um dos mais lembrados pelo futebol simples, eficiente e ao mesmo tempo deslumbrante.

Mas não era só no “ofício” de fazer gols que Baiaco era fraco. Homem de pouca ou nenhuma leitura, tropeçava muito nas palavras, falando. Fugia das entrevistas, mais pela simplicidade e pouco estudo do que por timidez.

Tinha medo do mundo: nunca deixou sua pequena São Francisco do Conde, a 70 Km de Salvador, onde virou estátua e hoje empresta seu nome a uma praça, homenagem de reconhecimento recebida do povo e do torcedor baiano.

Já se passaram muitos anos desde que o pequeno “Baiacu” deixou a pequena cidade baiana de São Francisco do Conde (quando tinha apenas 16 anos) acompanhado do amigo Caetano (que não era o Veloso) para fazer testes no Bahia. Baiacu – apelido recebido como “prêmio” da avó, que o via “inchadinho como um baiacu” quando nasceu -, ficou, e Caetano voltou.

Passou a ser chamado de Baiaco, e se tornou um dos maiores ídolos da história do Bahia. Lá, acumulou títulos, vitórias e glórias. Foi lembrado para a Seleção Brasileira e tentado pelo Vasco da Gama. Mas nunca saiu. Nem conseguiu juntar dinheiro.

Atualmente, longe do futebol, Baiaco é um cidadão simples e pobre. Consegue sustentar a si e a família com o salário de funcionário público na Prefeitura de São Francisco do Conde e de uma aposentadoria do INAMPS, como jogador do Leônico, clube onde encerrou a carreira.Jornal Pequeno

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