O Esporte Clube Vitória atravessa um péssimo momento dentro e fora dos gramados. O Leão se encontra dentro da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro da Série B e vivendo um jejum de seis jogos sem vencer. Fora do campo, os torcedores protestam e seguem pedindo a saída do presidente Paulo Carneiro. Porém, por meio de nota divulgada no site oficial, o mandatário descartou renunciar à presidência e explicou a razão. Veja abaixo.
“POR QUE RAZÃO NÃO RENUNCIO
Tomei conhecimento de uma entrevista do ex-presidente Alexi Portela fazendo comentários e duras criticas a respeito da nossa gestão à frente do Vitória. E sobre essa entrevista, resolvi fazer esta nota para o nosso torcedor. Já que ele pede para eu renunciar, resolvi discorrer sobre a nossa gestão para fins de evidenciar as razões pelas quais não renuncio.
O Vitória vem atravessando um momento extremamente contraditório na sua existência. Desde que eu assumi em abril de 2019, a instituição já se apresentava com sérios problemas administrativos e financeiros, e com mais uma crise institucional. E se se fala em crise institucional, é porque mais um presidente eleito se afastava do seu comando, o quinto em 6 anos. Contudo, essa verdade não pode orgulhar ninguém. Mas é fato indiscutível que a nossa instituição adoeceu gravemente por essas questões políticas que nos afligem nos últimos anos.
Atualmente, outro aspecto vem causando nova instabilidade política ao Clube. Os resultados de campo são agora considerados em um patamar de importância que sequer se permite uma análise consciente dos atos praticados pela atual diretoria, assim como das intermináveis dificuldades que enfrentamos diariamente.
Lembro do livro do dirigente Ferran Soriano, do Barcelona, que todos deviam ler para entender a razão pela qual A BOLA NÃO ENTRA POR ACASO. Não há, nessas circunstâncias, qualquer preocupação com relação a esses aspectos. É como se a instituição, no exame de sua grandeza, se restringisse apenas na questão de a bola entrar ou não entrar. Temos o entendimento muito claro de que não acreditamos em time forte sem Clube forte.
No ano de 2014, os economistas do ITAÚ BBA, hoje a maior empresa em análise de balanços de clubes de futebol do Brasil, já se debruçavam sobre esta visão anacrônica, a ponto de, ainda em 2014, o gerente de crédito César Grafietti, em entrevista ao Jornal do Comércio, já indicar o caminho de reestruturação dos clubes: “(…) seria necessário priorizar investimento em infraestrutura, algo que também não é difícil fazer, priorizando as categorias de base, que ali na frente pode gerar recursos.” Em uma análise técnica feita por profissional altamente gabaritado se comentava em 2014 o que sempre foi luz na minha visão: infraestrutura e divisão de base. Ora, essa lição foi aprendida por nós na década de 90, quando estruturamos o clube fisicamente e formamos uma academia de futebol respeitável no país inteiro e até no exterior. Essa academia nos trouxe dividendos, parceiros comerciais e investidores. Esse cenário resultou em títulos, conquistas e recursos. Em junho de 2000, o Vitória finalizava o século XX com o privilégio de estar com as duas instituições ECV e VSA absolutamente zeradas de débitos financeiros.
Portanto, resultados de um projeto de reestruturação de um Clube recebido a beira de um colapso financeiro, não podem ser exigidos num curto espaço de tempo. A infraestrutura vem aos poucos, com a colaboração inestimável de fieis torcedores e abnegados empresários, emergindo neste mar de problemas. As divisões de base, abandonadas, vêm dando sinais de novos caminhos, com a revelação atual de jovens valores, alguns já cotados internacionalmente.
Mas a bola não entra! E porque não entra, tudo se perde, tudo se esvai. E porque não entra, os corvos que ficam à espreita, buscando uma oportunidade para retomar os seus postos em um vazio de objetivos logo se manifestam.
O Esporte Clube Vitória precisa do apoio leal de seus verdadeiros torcedores, não de atividade sórdidas de criar instabilidades para delas se beneficiar. O Clube precisa se livrar dessa parte obsoleta que trafega sob as sombras das iniquidades, na torcida de que a bola não entre para, mascarando seus propósitos declarados em camufladas reuniões, espalhar mentiras falsidades e leviandades de toda ordem.
Somente a torcida, aquela parte que se preocupa com o clube, com o time, com a instituição, com a história, é capaz de evitar um mal maior.
A atual gestão exerceu e exerce uma constante paciência na solução dos problemas que há todo momento se apresentam e que sequer foram causados por ela. Mas permanece pacientemente firme na condução de um projeto que, não se limitando a resultados em campo, se fortalece sob um aspecto estrutural que, infelizmente, não se vê como uma bola que entra ou não, mas que se torna fundamental para um clube que não pode mais se apequenar, mesmo para aqueles que acham que tudo se resume a uma bola que não entra.
Neste contexto, sob o comando de uma visão caolha, não resultante de uma manifestação consciente, porque não se pode conceber uma pessoa experiente se expressar com tamanha desinformação, senão por mera conotação política, se busca um alicerce para a retomada de um antigo e obtuso projeto que já não deu certo.
Quero deixar claro para a torcida que os resultados de campo não são postos em um segundo plano. Mas em uma linha paralela que deve também caminhar no sentido de obtenção de êxito, mas que não necessariamente deve ser condicionante de um trabalho maior, mais amplo, de maior complexidade.
O Vitória foi forte um dia, porque existia estabilidade institucional e uma base que respondia aos seus projetos. Sem essa dualidade, convergindo em um propósito único, é impossível apenas o resultado de campo sustentar a existência saudável de um clube de futebol. Por isso, os problemas de todos eles, que hoje buscamos nos afastar.
Saibam que, se o sofrimento da torcida é presente, imaginem a angústia dos diretores do Clube que também sofrem pelos resultados e que, no dia seguinte, têm de estar novamente empenhados em construir um novo Vitória.
Por outro lado, importante que se saiba, que não se apaga a história de ninguém com afirmações que sequer se acredita, traindo-se em frágeis pronunciamentos, postados sob a soberba de cobranças que ninguém mais acredita.
Tenho defeitos, torcida rubro-negra! Mas defeitos que não podem se sobrepor aos títulos conquistados, à conclusão de estádio próprio, a hegemonia do futebol do nordeste, com a conquista de três dos quatro campeonatos, trazendo para o Clube os maiores jogadores da história da Bahia e daqui partindo jogadores da sua base e que transitaram pelas diversas categorias da Seleção Brasileira, inclusive campeões mundiais. E o mais importante, um legado de atletas formados no Clube com padrão internacional, como: Hulk, Jardel (Benfica), Wallace, Anderson Martins, David Luiz, Edilson, Xavier, Vinícius, Elkesson, Marcelo Moreno, Matusalém, Alecsandro, Leandro Domingues, Gilmar, Magno, dentre outros.
Vivemos um momento de grande transformação no futebol brasileiro com a aprovação de duas leis que vão determinar um aumento exponencial na geração de receitas e na captação de recursos milionários para capitalização e criação de sociedades empresárias para gerir os clubes de futebol. Fomos a primeira sociedade empresária do País e, através dessa experiência, temos um projeto grandioso em andamento, com potenciais investidores já acreditando na seriedade do futuro lhes apresentado.
Temos, ainda, um trabalho de reestruturação financeira e administrativa já efetivado – com contas auditadas por auditoria independente e relatório de administração publicados no site – e a iminente contratação de empresa internacional para a instalação de um novo sistema de governança; a construção da academia do futebol; além de outros tantos trabalhos formalizados, motivos para crer que esse Clube retornará à posição que um dia lhe postei internacionalmente.
São essas, afinal de contas as razões pelas quais NÃO RENUNCIO.
Paulo Roberto de Sousa Carneiro
Presidente do Conselho Diretor”