A posição da direção do Bahia acerca do suposto caso de racismo envolvendo o volante Gerson, do Flamengo, e o meia Ramírez, do Bahia, não é unanimidade entre os torcedores do Bahia, notadamente pela demora para se posicionar e, sobretudo, pelo afastamento do jogador tendo com base única, a palavra do acusador, aliás, um afastamento que seguramente vai prejudicar clube num momento crucial do Campeonato Brasileiro, onde está agarrado e abraçado com o Vasco da Gama na portaria do Z4, sendo que o time carioca ainda tem um jogo a menos que o tricolor de aço. No entanto, é verdade, que existe ainda que diminuto segmento da torcida, quase todos sócios e eleitores apoiam a medida, ainda que o caso ainda esteja em fase de apuração e o próprio jogador do Bahia negue veementemente qualquer tipo de racismo.
Por outro lado, a imprensa do eixo Rio-São Paulo, já condenou o jogador do Bahia, alguns inclusive profetizando que ele encerrou sua carreira em solo brasileiro. Porém, o Bahia ficou bem na fita e até reforçou o que foi denominados pelo clube de políticas afirmativas.
Um exemplo é do texto opinativo do jornalista Erich Beting, especializado em jornalismo de negócios do esporte um dos responsáveis do site Maquina do Esporte que elogia a coerência do atual presidente do Bahia.
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Um dos legados que a pandemia começa a trazer para a sociedade é a do empoderamento da vítima de preconceito. O preconceito não vai ser erradicado do planeta, mas a reação a ele começa a crescer.
Gérson, do Flamengo, se revoltou ao ter sido chamado de negro pelo atleta do Bahia, o colombiano Índio Ramírez. Foi tirar satisfação com o jogador, e o bate-boca com o banco de reservas do time Tricolor começou. O que se viu a partir dali foi uma aula de racismo estrutural do técnico Mano Menezes.
Quando Gerson relatou o porquê da revolta, Menezes desdenhou com um extenso “aaaah”. Depois, interpelou: “agora virou malandragem?”. As reações são típicas do comportamento preconceituoso inerente à sociedade. Primeiro por considerar que chamar o outro de negro não é uma ofensa. Depois, ao usar o termo “malandragem”, que tem origem na forma pejorativa de se referir ao escravo recém-liberto pela abolição em 1888.
Mano não percebeu que foi preconceituoso. Não dá para saber se sua demissão do Bahia foi vinculada a esse episódio, já que o time não vai bem no campeonato. Mas o Bahia deu uma aula de como agir contra o racismo depois do caso.
O clube ouviu o seu jogador, que disse não ter chamado Gerson de “negro”. Mesmo assim, o Bahia afastou Ramírez e justificou a decisão dizendo que “é indispensável, imprescindível e fundamental que a voz da vítima seja preponderante em casos desta natureza”.
O Bahia é hoje o único clube brasileiro que, de fato, se preocupa com a transformação social a partir de suas atitudes. Já tem alguns anos que o clube se posiciona em defesa de minorias. Em novembro, lançou o primeiro processo seletivo exclusivo para negros. Agora, mostra como temos de encarar o racismo. Sempre dar voz para a vítima é o primeiro passo.
Não é difícil que Ramírez tenha se arrependido do que fez. Da mesma forma, Mano Menezes deve estar desgostoso pelo que aconteceu e pela maneira como não respeitou a dor de Gerson. São aprendizados duros, mas que são muito menos difíceis do que a violência diária que os negros sofrem.
O preconceito só será erradicado do planeta quando entendermos que ninguém é melhor ou pior do que o outro. O Bahia deu mais uma aula de coerência com os valores que prega no dia a dia. Se tem algo que estamos aprendendo, pelo menos, é dar voz a quem é sufocado.