Já aconteceu muitas guerras e tragédias em todos os continentes do mundo: guerras mundiais, continentais, terremotos, enchentes, múltiplas epidemias e muitos crimes ambientais como aconteceu há alguns meses, com toneladas e toneladas de óleo lançadas no mar, mas, seus maléficos efeitos e reflexos econômico-sociais estão muito aquém das perdas já causadas por essa pandemia que vem assolando o planeta e que tem nome (Covid) e, sobrenome (19) ou, simplesmente, Coronavírus, doença que pelos estragos que tem feito, já pode ser considerada como a hecatombe econômica e sanitária do século. A partir do momento em que esse pernicioso vírus apareceu na China e de lá, sem portar nenhum passaporte, invadiu todos os continentes da massa terrestre, toda humanidade entrou em pânico e em alerta porque o “cara”, não só ataca o individual, mas, também, o coletivo. É uma ação devastadora que além de já ter infectado milhões de pessoas, conseguiu o isolamento social ou, melhor, o isolamento presencial, haja vista que, graças às redes sociais, as pessoas se interagem virtualmente, atenuando os efeitos do confinamento, ceifou milhares de vidas, sem falar no terrível baque provocado com à estagnação , tanto da economia formal como da informal.
E assim como todo segmento empresarial do mundo foi atingido, em cheio, pela pandemia. O futebol não poderia ser exceção, em função da sua dupla aglomeração, haja vista que, para realização de uma partida de futebol, além da presença no gramado dos dois times e da arbitragem, no seu entorno há um batalhão de profissionais desempenhando várias funções que, a depender do grau de importância do jogo, pode ultrapassar cem pessoas, sem contar com a imensa galera que ocupa as dependências do estádio. Infelizmente, desde o mês passado que o Corona atropelou o nosso futebol com um “carrinho” tão violento, que o obrigou sair do campo “de maca” sem que, até o presente momento, se tenha uma palpável previsão do seu retorno aos gramados.
O futebol brasileiro, por muito tempo, viveu ou sobreviveu da arrecadação de bilheteria e de alguns patrocinadores. Naquela época, além dos grandes clubes do nosso futebol serem recheados de craques, na acepção da palavra, não existia a presença das câmeras de televisão nos estádios para transmissão de jogos ao vivo. Também, ainda não havia o êxodo de grandes jogadores para o futebol internacional, principalmente, para os mercados chinês e europeu, salvo engano, a primeira grande transação ocorrida entre o futebol brasileiro e o europeu, aconteceu no final dos anos 50 quando o Flamengo negociou o passe do então atacante Evaristo de Macedo para o Barcelona que, posteriormente, jogou no Real Madrid, atuando em ambas às equipes jogando futebol de alto nível técnico, marcando época no futebol europeu, tanto que, até hoje, a marca dos seus pés se encontra nas calçadas da fama dos dois clubes. Excetuando-se essa negociação, tivemos em 1975 a ida do Rei Pelé para o New York Cosmo, fato acontecido após o craque encerrar sua brilhante carreira no Santos e, no início dos anos 80, aconteceu a venda do passe do meia Zico à Udinese da Itália, negócio que rendeu uma fábula aos cofres do Flamengo.
Mas, voltando a vaca fria, no meu entendimento, até à criação do “Clube dos Treze”, os clubes de grande, médio e pequeno portes do futebol brasileiro, perderam uma grande oportunidade de faturar grandes, médias e pequenas fatias de um milionário bolo esportivo semanal da época, promovido pela Caixa, denominado Loteria Esportiva, criada em 1970 em pleno auge da Ditadura Militar, cujas apostas, movimentavam a cada “teste”, grande fortuna que após às deduções das despesas operacionais e pagamento de prêmios aos felizardos, sobrava uma boa grana para os cofres do banco estatal. Em contrapartida, os clubes, que serviam de “roleta” para realização dos concursos, tinham participação zero na arrecadação geral, numa época em que a Caixa não tinha o rosário de loterias que ostenta no momento e a Loteca se constituía na “febre” do momento da jogatina no Brasil, sempre provocando imensas filas nas poucas casas lotéricas existentes na época, até porque, até o final daquela década, só tinha como concorrentes oficiais, a Loteria Federal e as loterias estaduais, além do jogo do bicho que, clandestinamente ou abertamente, concorre até hoje, com todas elas.
Em 1987, os grandes clubes do futebol brasileiro, cansados de dar murros em ponta de faca, em função do péssimo tratamento dispensado pela CBF, entenderam que era hora de dar um “basta” na entidade máxima do nosso futebol e, num diálogo entre o então presidente do São Paulo, Carlos Miguel Adair e Márcio Braga, então presidente do Flamengo, surgiu a ideia da criação de um seleto grupo dos grandes clubes do futebol brasileiro, não só para atuar em bloco, batendo de frente com as imposições da CBF como, também, para ter força em negociações com emissoras de TV na discussão de cotas para transmissão de jogos ao vivo nas principais competições nacionais e internacionais, sendo privilegiados com cotas diferenciadas dos demais clubes que não pertenciam ao grupo. E, de imediato, sem ser necessário consultar o ranking de clubes da CBF e, atrelados ao rotineiro corporativismo do Sul/Sudeste, chegaram a conclusão que seriam 12 clubes: os quatro grandes do Rio de Janeiro , os quatro principais de São Paulo, mais os dois de Minas e os dois do Rio Grande do Sul, todos com títulos de campeão brasileiro, com exceção do Corinthians, que, em compensação, tinha e ainda tem, a segunda maior torcida do Brasil.
Só que antes que fosse formatado o grupo, o então presidente do Bahia, Paulo Maracajá, entrou em ação e argumentou que, o “Bahêa”, além de já ter sido Campeão Brasileiro, tinha, tem e sempre terá a maior torcida do Nordeste, convencendo os seus confrades à sua inclusão no grupo, ficando nosso querido Esporte Clube Bahia como o 13º integrante da União dos Grandes Clubes do Futebol Brasileiro, entidade que ficou mais conhecida como o “Clube dos Treze”.
E agora, como recomeçar, após essa tremenda tempestade provocada pela pandemia?
Nas Escrituras Sagradas, consta uma parábola dando conta de que “Depois da Tempestade, vem a Bonança”. Como já disse aqui em outro comentário – que chegou a provocar o deleite de um amigo -, tive que divergir da tese dessa inerrância bíblica, por entender que há muito tempo, deixou de existir espaço para esse tipo de comodismo de ficar esperando que as providências divinas caiam do céu para solucionar os graves problemas ocorridos na terra. Na minha concepção, depois da tempestade, tem que vir é uma boa governança, principalmente, no tocante ao nosso futebol, que vem sofrendo o efeito dominó, oriundo dessa pandemia que desequilibrou a economia mundial.
Ninguém, de sã consciência, vai imaginar que os clubes de futebol sejam eles, de grande, médio ou de pequeno portes, estejam com boa saúde financeira, muito pelo contrário, a situação é preocupante para todos: uns já ligaram o sinal de alerta, outros estão em situação grave, enquanto outros já se encontram em situação gravíssima, prestes à decretar a falência e encerrar suas atividades, um quadro desalentador que, mais do que nunca, requer de gestores capazes e capacitados para bater de frente com todas às adversidades, haja vista que, é muito fácil entrar numa bancarrota, fato que pode se configurar de uma noite para o dia enquanto que para recuperar um baque financeiro em um clube de futebol, demanda um longo tempo, isso quando ainda tem a sorte de recuperá-lo.
Quanto surgiu a notícia que o Corona estava infestando o Brasil, muita gente imaginou que se tratava de um vírus irrelevante, uma nuvem passageira, incapaz de causar estragos. Entretanto, quando a situação foi ficando aguda e os cartolas perceberam que o “buraco era mais embaixo”, percebendo que, pelo andar da “coronagem”, não se tinha noção de quando ia acontecer a retomada do futebol, trataram logo de negociar redução de salários de jogadores e comissão técnica e, posteriormente, conceder férias, entretanto, essas férias já estão chegando do fim, jogadores e comissões técnicas estarão retornando aos centros de treinamentos mas, o mais importante de tudo e o que todo mundo quer, é saber quanto a bola vai voltar à rolar para valer, lembrando que alguns estádios do Brasil, foram transformados em hospitais de campanha para atendimento de infectados, não se estimando o prazo em que esses empreendimentos esportivos voltem às suas funcionalidades normais.
Para finalizar, sabemos que é das grandes crises e dificuldades que se extrai algo de positivo e quando acontecer à retomada do futebol, seus dirigentes terão a grande oportunidade de “virar um jogo” que vem derrotando os clubes, há muito tempo e a virada desse jogo tem que ser agora. Refiro-me ao ridículo mecanismo que sempre foi utilizado no processo de contratação de um jogador ou de um treinador quando, quem deveria estabelecer o salário e a duração do contrato era o clube, como ocorre em qualquer empresa pública ou privada, mas, o futebol é uma atividade eivada por tanta boçalidade e vaidade que a situação é inversa, quem faz a proposta é o empregado, ficando a contraproposta para o empregador. Então, chegou a hora dos clubes, não só estabelecerem tetos salariais mas, também, propor ou impor salários e condições salariais para o seu futuro empregado, até porque, com essa quebradeira mundial, vai ser difícil a captação de recursos em todas as fontes possíveis: bilheteria, quadro associativo de torcedores, patrocínios, cotas de TV, vendas de camisas, enfim, o vislumbre de um futuro sombrio, onde cada gestor, vai ter que “segurar a cabeça de mamãe”, como diria o extrovertido e irreverente Locutor-show, Silvio Mendes.
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.