Como aproximar os torcedores do interior dos principais clubes do Nordeste?

Os clubes do eixo Sul/Sudeste dominam os interiores dos estados no Nordeste

Foto: Felipe Oliveira / Divulgação EC Bahia

Em busca de assuntos para tratar em meio à pandemia de Coronavírus, sigo procurando informações que podem ser úteis de alguma maneira, para estabelecer situações que possam ser abordadas e que de algum modo, possam auxiliar os clubes do estado no tema em que vou abordar, que é a distância que os principais times do estado têm com as cidades do interior. Procurei numa base de dados estatísticos referentes à situação demográfica do estado da Bahia. Um levantamento da Pluri Consultoria aponta seis clubes do Nordeste com torcidas acima de 1 milhão. Esse site é especializado e divulga periodicamente pesquisas sobre as torcidas no Brasil e por região.

 

O estudo, publicado em janeiro de 2020, estabelece um ranking com número absoluto de torcedores em 2020: 1º) Flamengo – 17,96% (37,90 milhões); 2º) Corinthians – 13,44% (28,37 milhões); 3º) São Paulo – 8,11% (17,12 milhões); 4º) Palmeiras – 6,21% (13,12 milhões); 5º) Vasco – 4,57% (9,65 milhões); 6º) Grêmio – 3,80% (8,03 milhões); 7º) Cruzeiro – 3,43% (7,24 milhões); 8º) Internacional – 3,02% (6,39 milhões); 9º) Santos – 2,60% (5,50 milhões); 10º) Atlético-MG – 2,38% (5,03 milhões); 11º) Fluminense – 1,39% (2,95 milhões); 12º) Botafogo – 1,33% (2,82 milhões); 13º) Bahia – 1,27% (2,68 milhões)14º); Sport – 1,14% (2,42 milhões); 15º) Vitória – 0,71% (1,50 milhão).

Na região Nordeste, o Esporte Clube Bahia é o primeiro colocado em números absolutos, seguido do Sport de Recife, Esporte Clube Vitoria, Ceará, Santa Cruz, Fortaleza, Náutico, que somam menos que 5% da população nacional, sendo que o Nordeste representa um universo de 60 milhões de pessoas, ou seja, não chega nem a 10 milhões de torcedores legítimos, não mistos, dos clubes do Nordeste.

Os clubes do eixo Sul/Sudeste dominam os interiores dos estados no Nordeste, sendo que dos 9 estados que compõem o Nordeste, em apenas três há uma torcida mais maciça pelos clubes dos seus estados, com destaque aos estados de Bahia, Ceará e Pernambuco, contudo nas regiões metropolitanas geralmente. Como explicar tal déficit e como é possível expandir para os interiores uma relação mais próxima com as cidades do estado natal?

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que são décadas de determinismo estabelecido pela mídia Sul/Sudeste em sugestionar ídolos desses clubes como representantes nacionais, desde a popularização do Rádio e TV, a informação disseminada a essa localidades se destinam efetivamente a propagar notícias do Rio de Janeiro e São Paulo. A informação veiculada e o tempo destinado para tratar de nossos clubes sempre foram exíguos, até o advento da internet e dos aplicativos de rádio, que hoje permitem acesso irrestrito à noticias locais, coisa impensada há 10 anos atrás, por exemplo.

Os interiores sempre foram fortemente influenciados pela mídia carioca e paulista, que não trata dos clubes do Nordeste e os noticiários esportivos nesses centros sempre deram pouco espaço para informar sobre clubes nordestinos, apenas flashes de poucos segundos ou os gols apenas, dando destaque maior, por vezes, quando os times daqui dão uma porrada significativa nos clubes de lá, abrindo um pouco mais de espaço nessas transmissões de alcance nacional, mas sempre em seu texto evidenciando a derrota sofrida pelo clube de lá, raramente atribuindo o triunfo a competência de nossos times, mas sempre elencando os erros cometidos pelas equipes de lá por ter perdido .

As diretorias dos clubes do Estado da Bahia, em especial, que possui mais de 400 municípios, poderia explorar de maneira mais efetiva esse público, se aproveitando da acessibilidade que a internet tem, fazendo parcerias com rádios regionais pulares desses municípios ou micro região, estimular as embaixadas a fazer movimentos e expandir a marca dos clubes do Estado nas suas cidades, ou seja, mostrar que existe futebol profissional de qualidade no seu do Estado da Bahia sem que seja preciso recorrer a outras regiões para isso.

Sabemos que não é um processo simples, muito menos imediato, mas deve ser intermitente, para assim, alcançar sócios, ainda que a distância seja grande, com planos específicos e acessíveis para esses locais mais distantes, estabelecendo assim uma relação mais próxima do clube da capital com os entusiastas e apaixonados torcedores desses lugares. Um exemplo, a possibilidade de débito em conta nos bancos estatais, Caixa e Banco do Brasil, e os maiores bancos privados também entrariam nesse rol.

Embora o Bahia, que é meu clube, tenha feito a associação à R$ 10, outros clubes já a fizeram e quando você tem R$ 10 debitados em conta corrente, são 120 por ano, multiplicados por 10 mil, são R$ 1.200.000 caixa, livres, bastando apenas para isso a emissão de carteirinha e alguns brindes oficiais, pouco onerando o clube e estreitando a ligação entre torcedor e clube, afinal, ninguém vai reclamar de 10 reais debitados em sua conta, é apenas um exemplo grosseiro. Essa primeira associação dá ao clube acesso ao torcedor e permite intervenções futuras para que estes migrem de plano sem maiores contestações.

Um marketing eficiente rende frutos, já é provado em diversos setores produtivos, com o futebol não pode ser diferente, e a desconstrução de conceitos estabelecidos, embora difícil, é possível e pode ser feita num universo de 16 milhões de baianos, que preferem times distantes e sem relação direta com sua realidade, do que os clubes do Estado que podem ser muito mais acessíveis e próximos da sua realidade.

O time de transição também pode ser usado para que estas cidades tenham maior aproximação com a torcida, e durante sua existência, pode atuar em cidades do interior, em parceria com as prefeituras, para que não haja ônus e a marca seja disseminada cada vez mais e presencialmente, com jogadores empunhando a camisa do clube ao vivo para quem não têm oportunidade de ir a salvador, em especial, jovens torcedores.

Os times preferidos dos baianos do interior são clubes onde as maiorias dos torcedores jamais irão conseguir assistir em um estádio de fato, são quimeras movidas pelas mídias de massa, que não se relacionam diretamente com esse torcedor. O caminho, volto a repetir, é longo, mas tem que ser observado, porque além de ser uma fonte de receita extra é uma reafirmação da baianidade de cada um, é o orgulho do estado natal representada pelo time de seu estado de nascimento, não de clubes distantes, pouco presentes e que extraem das regiões hospedeiras recursos valiosos que poderiam ser empregados em beneficio dos nosso clubes.

Diego Campos, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.

 

Autor(a)

Redação Futebol Bahiano

Contato: futebolbahiano2007@gmail.com

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