É inegável que o Campeonato Baiano, como os demais certames estaduais de outros estados, já tiveram seu charme, seu glamour, enfim, já marcaram época com seus momentos de glória que ficaram registrados nos anais da história do nosso futebol. Acompanho os campeonatos regionais e, em especial, o Baiano, que é minha “praia”, desde o tempo dos famosos torneios inícios, quando na abertura da competição, jogavam todos os clubes participantes do certame que acontecia em tardes históricas no então estádio Octávio Mangabeira, a velha Fonte Nova, Não recordo o tempo que perdurava cada confronto, talvez, uns 20 minutos e após acirradas disputas, era conhecido o campeão do torneio. Isso tudo, acontecia com o estádio cheio e não se registrava nenhum fato ou ato desumano como nos dias atuais. Não sei se era porque, na época, existia o recíproco respeito entre os seres humanos; se era porque existia amor ao próximo ou se às pessoas eram educadas, tolerantes e civilizadas. O fato era que a democracia clubística imperava, tanto nas dependências do estádio como no seu entorno.
Nas arquibancadas do lado direito das cabines de rádio, se postava à torcida do Bahia, intercaladas pelas cadeiras especiais e logo do lado esquerdo, às arquibancadas destinadas à torcida do Vitória, ficando do lado oposto do estádio, a geral, onde se alojava gregos, troianos, baianos e soteropolitanos, ou seja, os “Geraldinos” que representavam os matizes de todas as torcidas, enfrentando chuva ou sol ardente, mas, ninguém brigava, todo mundo se entendia, se unia e se divertia e a única “alteração” que podia existir na aglomeração, era o arremesso de copos descartáveis contendo aquele maldito xixi, no momento em que se comemorava um gol.
Naquela época, havia um número excessivo de clubes na nossa Capital. Salvo engano, uns sete ou oito: Bahia (Esquadrão de Aço), Vitória (Leão da Barra), Galícia (Granadeiro), Leônico (Moleque Travesso), Ypiranga (Amarelo e Preto), Botafogo e Redenção. Já no interior do Estado, só as cidades de Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Vitória da Conquista, Jequié e Atlético de Alagoinhas, tinham representantes na competição: Fluminense (Touro do Sertão), Bahia de Feira (Tremendão), Colo-Colo e Flamengo de Ilhéus, o Itabuna, o Jequié o Atlético de Alagoinhas (Carcará).
Naquele tempo, ao contrário do que acontece nos dias atuais, o que não faltava era data no calendário da Federação Bahiana de Futebol-FBF para realizações de jogos, muito pelo contrário, acho até que sobravam datas, até porque, todos os jogos realizadas na Fonte Nova se constituíam em rodada dupla, com a preliminar que a gente chamava de “aperitivo” e o jogo principal que era a partida de maior importância. E a verdade era que o nosso campeonato começava e parecia não acabar mais: porque, eram quatro turnos, divididos em duas fases para cada turno, tinha BAVI a rodo, enfim, era uma verdadeira maratona de jogos até chegar às etapas das fases semifinal, final e finalíssima, para se conhecer o campeão.
Assim como o saudoso Dorival Caymmi tanto exalta na sua canção “Passar uma tarde em Itapuã, ao sol que arde em Itapuã…”, – é lógico que cada um se inserindo no seu contexto -, passar uma tarde dominical de sol na velha Fonte Nova curtindo uma rodada dupla com um forte “aperitivo” tipo Galícia x Leônico com um BAVI na principal, era de arrepiar, era emoção do princípio ao fim; desde à chegada no estádio quando a gente apostava (nem que fosse uma cerveja), no “palitinho” ou no “par ou ímpar” para ver quem dava à saída do jogo, quem faria o primeiro gol, enfim, tudo era diversão, sem deixar de consumir os roletes de cana, aquele gostoso sorvete natural, Pipocas, “amenduís” cozido ou torrado, limonada, torcendo quê chegasse logo o intervalo do jogo para chegar naqueles bares e “molhar a palavra” com Brahma Chopp, Antártica ou Chopp 70 que eram as cervejas da época.
Mas, como alguém já disse que “Tudo nessa vida é passageiro, menos motorista e cobrador”, não é no futebol que vai ser diferente. O futebol mudou e mudou muito, dando um giro de 360 graus e, com essa brusca mudança, os campeonatos estaduais começaram a agonizar e se não houver ações ou reações dos cartolas ou gestores que comandam esse apaixonante e indescritível esporte, essas competições que já empolgaram milhões e milhões de torcedores em todo Brasil, do Oiapoque ao Chuí, mais cedo ou mais tarde, lamentavelmente, chegarão ao fundo do poço, tornando inviável suas realizações.
Com muito amor, prazer e orgulho, sou torcedor do Esporte Clube Bahia, mas, esse bônus não me impede de gostar de um outro clube, sendo que essa agremiação é o Botafogo de Futebol e Regatas, o que me obriga acompanhar o outrora empolgante Campeonato Carioca, o qual, atualmente, só tem o Flamengo como protagonista do futebol carioca, os demais que formavam aquele quarteto dos grandes clubes do Rio de Janeiro, estão todos em processo de decadência, tanto técnica como financeira, além da falta de identificação com o seu torcedor.
Como minha “praia”, é o futebol da Bahia, doa em quem doer, na minha visão e opinião, nos últimos anos, o futebol da Bahia tem crescido muito, só que, trata-se de um crescimento semelhante a rabo de cavalo, que só cresce para baixo. Primeiro, não sei como funciona o regimento ou regulamento que norteiam o tempo de mandato de presidente na sua entidade máxima que é a FBF, mas, acho inadmissível, uma aberração, um presidente permanecer por dezoito anos no cargo como aconteceu com o antecessor do atual presidente. Não quero aqui, entrar no mérito da questão quanto à competência e seriedade de quem passou quase duas décadas presidindo à entidade máxima do futebol da Bahia, mas, acho que esse tipo “longa metragem” de gestão, além de se tornar nefasta aos objetivos da entidade na condução dos rumos de uma administração, é totalmente incompatível com os ditames evolutivos do futebol, em pleno Século XXI. Ę é nesse viés que vejo, no conjunto da obra, que essa longa gestão a que me referir, teve conotação negativa no desenvolvimento do nosso futebol.
Não quero, de forma nenhuma, creditar à mencionada gestão que os sete anos seguidos que o Bahia ficou ausente da elite do futebol brasileiro ou até mesmo, pelo fato do Vitória, ter se especializado a partir de 2010, num verdadeiro ascensorista para ficar interligando o elevador da Série A ao elevador da Série B e vice-versa. Sei que são fatores restritos às más gestões que, infelizmente, ainda existem dentro do futebol mas, também, assim como o “Futebol Bahiano” é considerado o melhor Blog esportivo do Nordeste, o futebol baiano sempre foi protagonista do futebol nordestino. Mas, não deve ser por acaso que hoje, vemos Fortaleza com dois times na Série A, vimos no ano passado, Maceió com o CSA na Série A, fato que não acontecia há quase quarenta anos, sem falar que o CRB, eterno integrante da Série B, sempre está mordendo à corda para acessar à Série A, enfim.
Enquanto nós aqui, mesmo já com o Bahia no quarto ano consecutivo na Série A e, com boas perspectivas de se consolidar, de uma vez por todas, na elite do futebol brasileiro, temos o rival com dois anos consecutivos na Série B , sendo que seu acesso esse ano, ainda é uma incógnita, haja vista que, à essa altura da temporada, ainda não tem um time bom e encorpado que já esteja apto para disputar uma competição do calibre da Série B, já faltando menos de sessenta dias para o seu início.
Para minha alegria, porque sou, genuinamente, nordestino, vinha assistindo Recife participando todo ano, sempre com um ou dois representantes na Série A. Para minha tristeza, no ano passado, passou em branco, com seus três principais clubes jogando nas divisões inferiores do futebol brasileiro, mas, no final da temporada, deu à volta por cima, respectivamente, com os acessos do Náutico à Série B e o Sport à Série A, fazendo com que, esse ano, o futebol pernambucano esteja no mesmo patamar do futebol baiano, cada estado, com um clube na Série A e outro na Série B,
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.