Somente quem conhece o sabor indigesto de chegar ao fundo do poço, saberá o verdadeiro significado de dar a volta por cima e superar as mais tenebrosas adversidades. Não seria diferente com o Esporte Clube Bahia, primeiro campeão brasileiro, dois títulos nacionais, indiscutivelmente a maior força do futebol nordestino e, sem dúvidas, a maior torcida da região. Mas por trás de uma linda história de triunfos no cenário nacional, em condições financeiros inferiores aos grandes do Sul e Sudeste, o Bahia viveu uma fase de 7 anos fora da primeira divisão e ao chegar à terceira divisão, por dois anos seguidos, ficou perto de ter suas portas fechadas após amargar dívidas e atrasos de salários.
Quis o destino e, de forma dramática, arrastado por sua apaixonada torcida, o Esquadrão conseguiu o acesso à Série B, em 2007. Dois anos depois retornou à elite, com anos sofríveis, posteriormente. Então em 2013, o clube deu aquele que seria o maior passo fora de campo, até então, a democratização e abertura societária.
A última vez que o tricolor foi competitivo no cenário nacional foi em 2001, há 18 anos atrás. Naquele ano, projetou aquele que seria, posteriormente, o lateral mais importante do mundo, Daniel Alves, tantas vezes eleito o melhor lateral direito do mundo pela FIFA e que foi vendido precocemente por um valor irrisório. No Campeonato Brasileiro daquela edição, chegou até as quartas de final após se classificar entre os oito melhores.
O Bahia de Guilherme Bellintani e Roger Machado está tendo uma temporada, até agora, incontestável. A imprensa nacional começou à valorizar mais o clube, com muitas inserções na mídia, convites à programas, destaques em muitos jornais e sites especializados, resgatando o respeito e o peso da camisa.
O presidente buscou renegociar direitos de TV, ter o maior orçamento da história, 144 milhões de reais, romper com empresas de material esportivo que nunca valorizaram à instituição e criar o próprio material esportivo. Também será capaz de mudar toda a estrutura para a Cidade Tricolor, projeto em andamento, e colocar posteriormente o Fazendão à venda. Ter duas estruturas com grandes dimensões não é salutar para um clube que ainda tem orçamento significativamente abaixo de outras grandes forças do futebol nacional. Além de tudo, trouxe o Roger, por um contrato de 2 anos, uma dupla cartada que tem se demonstrado ser assertiva.
Já Machado, veio na hora certa. Com sua experiência de ex jogador e ao mesmo tempo profissional de educação física, consegue ter uma leitura do jogo que poucas vezes se viu em treinadores que passarão pelo Fazendão, além de saber analisar por conta própria a condição física dos atletas. Talvez esteja imbuído em fazer história com sua estratégia inovadora na postura tática do elenco.
Ainda assim, o futebol é muito volátil, então é preciso ter pés no chão, pensar jogo à jogo, ter o máximo de consistência ao longo do brasileirão e continuar firme na reta final da Copa do Brasil. Mas nada disso tira o brilho de ver o torcedor de alma lavada, depois de tantos anos de sofrimentos nos torneios nacionais, com a autoestima elevada, lotando o estádio, buscando uma associação em massa. Sim, com total capacidade de passar dos 100 mil sócios adimplentes.
Para ter uma noção de quanto a adesão ao plano de sócios traria de impacto as contas do clube, no atual modelo, vendendo todo o estádio, com o sócio garantido, mas o saldo com sócios contribuintes, daria uma receita anual, estimativa, de 40 milhões de reais. Isso é quase o valor do orçamento do arquirrival na atual temporada. Dinheiro que poderá ser usado para contratação e retenção de talentos.
O futebol profissional é um esporte muito caro. Portanto, o torcedor que ama o Esquadrão, precisa contribuir financeiramente para reduzir o disparate financeiro em relação aos demais grandes clubes brasileiros.
Luigi Bispo – 30 anos, Tecnólogo em Processos Gerenciais, Especialista em Gestão Esportiva, MBA em Gestão Executiva e Liderança Estratégica, Sócio Torcedor do Esporte Clube Bahia e Atleta Amador de Corrida de Rua.