As eleições do Esporte Clube Vitória que acontecem no próximo dia 24 conta inicialmente com os candidatos Paulo de Souza Carneiro e Raimundo Viana como os mais fortes candidatos na preferência dos sócios. Ambos são da velha guarda, com o status de ex-presidentes e títulos conquistados. Por fora, corre a radialista Isaura Maria da chapa “Vitória, uma história de amor e paixão”. Herval Jodson Silva Rego completa a chapa na vice-presidência. Acredito ser pela primeira vez em toda a historia da Bahia que uma mulher se aventura numa área tradicionalmente ocupada por homens.
Aliás, no Brasil que me recordo apenas a ex-nadadora Patrícia Amorim presidiu o Flamengo durante três anos, entre 2009 e 2012. Existem rumores em São Paulo que empresária Leila Pereira, da Crefisa, principal patrocinadora do Palmeiras, tem planos para chegar ao cargo máximo do clube a partir de 2021, essa, apenas uma promessa. Na Europa algumas ocupam o cargo, porém em clubes de menor expressão na Espanha como Leganés e Eibar, além do Monaco na França, neste caso, uma cidadã russa não só preside como também é a dona clube décimo sexto colocado na liga francesa.
Isaura Maria concedeu entrevista aos jornalistas Rafael Teles e Amanda Souza do jornal A TARDE, onde falou das suas expectativas além de conta um pouco sobre a história dela no clube e avisou que caso eleita, uma das suas principais prioridades são as divisões de base do clube.
Para que o torcedor te conheça, quem é Isaura Maria? Qual sua relação com o Vitória?
Meu trabalho foi começar a aparecer quando ia para a divisão de base, ficava lá o dia inteiro, só saía junto com o último aluno. A base tinha dificuldade financeira, e aí nós fizemos um grupo que arrecadava dinheiro. Começamos a comprar televisão, beliches. Nessa época, eu também ia para a cozinha, fazia lanches para eles. Dava apoio de escola para eles estudarem.
Qual o sentimento de ser a primeira mulher na disputa pela presidência do Vitória?
O preconceito é muito grande contra nós, mulheres, mas vou fazer do mesmo jeito que fiz no meu trabalho, vou encarar. Perdendo ou ganhando, eu vou encarar, porque eu não estou sozinha, estou com pessoas competentes. Eu estou decidida e vou até o fim. Não esperava que a repercussão fosse tão boa como está sendo. (…) O Vitória não tem uma diretora mulher, só tem funcionária. Nós precisamos levar a mulher para dentro do clube, valorizar. Se vamos ter a primeira mulher presidente, vamos ter também as primeiras diretoras.
Qual sua maior motivação para participar do pleito?
É o futebol. É reaver a divisão de base. Hoje, você procura e não encontra ninguém para vender na divisão de base. O ídolo tem que sair de lá. Não é justo ter a estrutura que o Vitória tem e não ter divisão de base. Você vem do mais novo ao mais velho e não tem um atleta para colocar no profissional. Aí, quando vem o Campeonato Brasileiro precisa contratar.
Na sua opinião, qual foi o maior erro da atual gestão?
Olha, eu nunca deixei de conversar com nenhum presidente. Todos me chamaram para conversar, mas esse de agora nunca me recebeu. Então, acho que a falha dessa gestão foi ele [Ricardo David] não ouvir as pessoas que estão no Vitória. Ele não participar, não interagir com as pessoas. Aí, fica difícil você gerir assim.
Se for eleita, qual é seu projeto para o Vitória?
Uma organização de gestão. A gente precisa fazer alguma coisa para que o torcedor volte. Apostar no marketing 100%, também. Por exemplo, nós temos uma representante mulher fantástica: Ivete Sangalo. Mas você não vê, ela não participa. O marketing do Vitória não se preocupa. (…) Nossa gestão tem um diferencial, que é valorizar os conselhos. É inadmissível que o Conselho Diretor traga um atleta sem aprovação do Deliberativo e do Fiscal. Então, vamos ouvir o treinador, mas a conversa vai envolver também Conselho Diretor, Deliberativo e Fiscal. Só assim as contratações vão poder ser realmente bem feitas.
Existe algum projeto para o Barradão?
Olha, agora eu não tenho. Hoje, você tem que ver como está a condição do Vitória. O Vitória não está para festa, não está para fazer nada de modificações. O que temos lá é satisfatório. O que temos que focar é o futebol, a divisão de base e o marketing. A gente precisa colocar o pé no chão, até porque o Vitória está na UTI, e a gente precisa tirar.
Quais os seus planos para a Arena Fonte Nova?
Sou contra [jogar lá]. Nós temos a casa da gente. A Fonte Nova não tem dono, é do Estado. No dia que eu quiser jogar lá, é um direito que nos assiste. Mas eu tenho minha casa, vou jogar na minha casa, fazer uma festa lá.
Em suas propostas, você fala da importância de valorizar o torcedor. Como vai ser isso?
A primeira coisa que vamos fazer é uma sala pra receber o torcedor, valorizá-lo. Por exemplo, o Vitória é campeão baiano. Quem é que vai entregar a taça? Não é o torcedor, são pessoas que você nunca viu. Criar uma estrutura no Barradão, naquele estacionamento onde fazem churrasco, aquelas coisas, melhorar aquilo ali para o torcedor.
Outra proposta sua é criar uma metodologia para a base. Que metodologia é essa?
Pelo trabalho que temos acompanhado, a gente compara com alguns clubes do futebol brasileiro e sabe como o Palmeiras joga, como o Corinthians joga, São Paulo, Grêmio. Pode chegar o treinador que for, o jeito do time jogar não muda. Você olha para o Vitória e não encontra isso, cada treinador que chega traz uma ideia nova. Não é o clube que tem que se enquadrar na filosofia do jogador, é o atleta que precisa se enquadrar no clube.
E qual deve ser esse perfil?
Queremos aproveitar a categoria sub-23, que existia e foi acabada por essa gestão. Nós defendemos a ideia de aplicar essa filosofia desde os sete anos, que é a menor categoria, até o sub-23. Aí, teremos, no mínimo, 50% de jogadores da base no elenco principal. Os outros 50% você contrata dentro do perfil de trabalho do Vitória. Hoje, o futebol é forte no meio-campo, então, nossa filosofia é reforçar esse setor, volantes fortes, meias de qualidade. Queremos construir esses jogadores desde a base.
Como será o espaço para outros esportes?
O clube é o futebol, então não dá para pensar em outras coisas. Apesar de que hoje temos outros esportes. O basquete deixou muita saudade, eu torcia muito. Vai voltar, é a primeira coisa. Eu tenho vontade que o basquete volte, mas com a mesma filosofia do futebol, vai começar da base até chegar no profissional. E não vamos esquecer do futebol feminino. Essas meninas precisam de mais atenção, mais oportunidades.
Como fazer para recuperar as receitas do clube?
Dentro do nosso clube tem várias maneiras de ganhar dinheiro. Nós temos uma casa maravilhosa. Ali tem local para ganhar dinheiro com show. O Vitória está de férias, faça dois ou três shows no Barradão. Tem o Lollapalooza em São Paulo, não tem? Por que a gente não pode fazer no Vitória para ganhar dinheiro? Podemos fazer também a excursão interna. Os torcedores de fora pagam ao clube para visitar, porque ele tem vontade de conhecer o clube. A concentração do Vitória é coisa de cinema. Podemos também explorar o marketing com artistas rubro-negros. Fazer uma parceria, trazer cantor rubro-negro para fazer show no Barradão.
O novo presidente vai assumir às vésperas da estreia na Série B. Há alguma medida emergencial a ser tomada?
Fica até difícil de dizer, porque o Vitória está tão conturbado que acho que tem que mudar tudo. A primeira partida, dois dias depois do presidente tomar posse, tem que ser como está, mas depois é preciso sentar para conversar. Neste momento, eu estou interessada nas eleições, depois vou entender o que posso fazer.
E sobre Cláudio Tencati?
Vamos chamar o treinador para conversar e dar paz para ele. Não há razão para demiti-lo neste momento crucial. Ele vai nos ajudar a implantar nossa filosofia. Ele faz parte dos planos, pode até vir a não ficar, mas tudo vai depender de nossa conversa.
Os dois últimos presidentes foram eleitos democraticamente, mas não tiveram sucesso. Acredita que esse é o melhor caminho para o Vitória?
Eu sou muito a favor da democracia, mas com respeito. O presidente não é eterno. Se fez errado, tem que ser destituído. Em uma empresa, se você faz algo errado, é chamado no RH. No Vitória não é assim que está funcionando.