“Minha ambição é colocar o Bahia na Libertadores”, diz Guto Ferreira

"Gordiola" abriu o jogo e comentou vários assuntos importantes e polêmicos

O mais novo, e nem tão novo, técnico do Esporte Clube Bahia, concedeu entrevista ao jornal A Tarde, e abriu o jogo sobre diversos assuntos, em maior destaque a saída do clube em junho para acertar com o Internacional que deixou a torcida engasgada. Guto Ferreira, de 52 anos, comentou também sobre o interesse do Santos, que depois acertou com Jair Ventura. Sobre suas metas para 2018, o treinador pensou e sonhou grande, e revelou que sua ambição é conquistar uma vaga na Copa Libertadores. Sobre as polêmicas, Gordiola admitiu problemas no grupo durante a Série B de 2016 e falou um pouco sobre a montagem do elenco para sua segunda passagem.

Veja a entrevista completa abaixo:

Como foram as negociações para seu retorno ao Bahia?

Eu estava disponível no mercado. Aí, menos de uma semana atrás, o Bahia fez um contato com o Adriano [Spadoto, seu empresário], mas a coisa esfriou. Geralmente é algo que se resolve rápido, mas ficamos dois ou três dias sem contato e aí apareceu o Santos, que fez uma sondagem. Quando o Santos chegou, o Bahia voltou. Ficou uma situação de que eu não podia dizer não ao Santos, mas já tinha colocado ao Adriano a situação de dar prioridade ao Bahia. E também pesou a questão da minha volta, do reconhecimento que tive aí.

Mas ir para o Santos poderia ser um passo importante para sua carreira. Não ficou tentado?

É que tinha uma situação dúbia. E eu teria que esperar uma posição deles. O Bahia veio mais decidido.

Qual a diferença daquele Guto Ferreira que chegou ao Bahia em 2016 para o de agora?

A essência é a mesma. Sou a mesma pessoa. Mas, logicamente, a gente amadurece com as situações que acontecem. Tem coisas que você faz e depois reflete sobre o resultado de suas decisões. Isso traz uma experiência maior, e você aprende a valorizar coisas importantes.

Citaria um exemplo?

A primeira questão é procurar estar onde você se sente bem. É isso que estou buscando nessa volta ao Bahia.

Parece genuína sua alegria pelo retorno, mas você não considera a saída do Inter para o Bahia um passo atrás?

Não. Não é um passo atrás porque, se você analisar o tamanho de uma instituição e de outra, talvez em termos de resultado essa outra seja maior. Mas, em questão de história, energia e momento, o Bahia é muito grande também e pode vir, sim, a alcançar o mesmo patamar dessa outra instituição.

Em entrevista ao programa de rádio oficial do clube, você praticamente se desculpou com o torcedor do Bahia por conta de sua saída para o Inter. Mas essa mágoa demonstrada por muitos não é injusta, já que uma das práticas mais comuns do futebol é a demissão precoce de treinadores?

Entendo o torcedor porque torcedor é paixão. E logicamente não são todos que estão magoados, alguns se posicionaram de forma positiva sobre minha volta. Essa tomada de decisão não é fácil. Eu tenho uma história muito grande no Inter [clube no qual trabalhou na base e como auxiliar, chegando a ter suas primeiras chances como técnico interino] e voltar pra lá no momento mais difícil da história do clube foi uma valorização pra mim. Eu fiquei muito tempo lá, mas as pessoas não me viam acima das funções que eu exercia. E eu decidi sair também pra mostrar pra eles que eu era um treinador. Por isso ter voltado ao Inter foi também uma questão de orgulho pessoal. E isso pode ter feito com que eu não refletisse da melhor maneira sobre o momento que eu vivia na época.

Pode-se dizer, então, que há um arrependimento?

É difícil dizer que houve arrependimento, porque eu estaria negando aquilo que fiz, e isso faz mal. Você tem que assumir seu erro. Apesar de que eu não sei se foi erro ou acerto, mas entendo a mágoa do torcedor. E tenho que trabalhar pra reconstruir a confiança que ele tinha em mim.

No momento em que você deixou o Bahia, o time vivia sua melhor fase. Depois, teve uma queda e no fim chegou a brigar por vaga na Libertadores. Você acha que, se tivesse continuado, teria grande chance de conseguir essa vaga histórica?

Vou te confessar que minha volta ao Bahia é justamente brigando por isso. Minha ambição passa por conquistar uma vaga na Libertadores. Em 2016, cheguei na Série B para subir o Bahia e já disse isso para Marcelo [Sant’Ana, então presidente do clube]. Tenho essa coisa dentro de mim que me estimula muito. Tenho que ser mais ousado e ir atrás desse sonho.

Mas você acha que teria conseguido, se tivesse ficado?

(risos) O que tô te falando deixa a entender isso. Agora, os problemas que a equipe enfrentou eu poderia ter enfrentado também. O importante é você lembrar que um ano atrás o Bahia estava na Série B e agora almeja coisas muito maiores por conta da mentalidade vencedora de quem vem dirigindo o clube.

Você também falou no programa de rádio sobre um plano de se enraizar num clube. Houve conversa com o Bahia sobre o assunto (o contrato assinado é até o final de 2018)?

Não. Do jeito que interrompi o contrato neste ano, acho que não tenho direito de pedir mais do que o Bahia propõe. A partir do momento em que eles acharem que mereço um vínculo maior, conversaremos.

Em uma entrevista na época da efetivação de Preto Casagrande, Marcelo Sant’Ana afirmou que você não era “tão querido” pelos jogadores, mas era respeitado. É por aí?

Sempre me vi respeitado, mas é difícil liderar um grupo. Sempre vão ter 11 felizes e 19 não tão felizes. Ou infelizes. E a maneira que a gente trabalhou num primeiro momento, com decisões tomadas para buscar respostas mais rápidas, acabou gerando um desgaste. O ambiente durante a Série B foi difícil. Já em 2017 foi mais tranquilo, mas sempre houve o respeito.

Aconteceu algum problema com os jogadores?

Não. Nenhum. Incomodados sempre existem, tipo quando um pai está educando um filho. Vai haver conflito de ideias, mas não pode ter confronto.

Ainda no rádio, você comemorou o fato de contar com uma espinha dorsal, com mais de 50% dos titulares mantidos para 2018. Assim, a ideia tática segue a mesma, com marcação pressão e transição rápida?

Pelo que tenho conversado com Diego [Cerri, diretor de futebol], vai ser nessa linha mesmo. Mas também depende de quem vai chegar, pois o Bahia perdeu peças importantes. Renê Júnior era uma peça-chave. Mendoza também tinha uma importância grande. Tem que sentir o momento pra ver se o processo será seguir essa linha ou mudar.

Seriam as prioridades do mercado encontrar substitutos para Renê e Mendoza?

Depende. Às vezes você perde uma peça e acha que o time vai sofrer uma queda, mas o grupo reage e acaba saindo mais forte. E vai haver crescimento dos atletas que ficaram. Pela campanha de 2017, a confiança vai aumentar. É claro que precisamos projetar o futuro, mas nunca dá pra ter certeza.

O melhor momento do Bahia em 2017 veio quando Edigar Junio passou a atuar como centroavante, no lugar de Hernane. Concorda?

O resultado mostrou que isso foi importante para o time, mas não dá pra dizer que com Hernane não daria certo. Hernane teve momentos importantes também, mas, com a entrada de Edigar, foram acrescentados alguns detalhes táticos. O time perdeu em algumas coisas e ganhou em outras.

O deslocamento de Edigar aconteceu de forma casual, com a lesão de Hernane e a expulsão de Gustavo no primeiro Ba-Vi semifinal do Nordestão. Mas você já estava pensando nessa alternativa?

A gente sabia que ele jogava ali. Tinha feito isso no Joinville e também no Bahia. E alguns amigos da bola já tinham vindo me falar: ‘Você não acha que o Edigar faz isso?’. E eu dizia: ‘acho’. Agora, mais do que o encaixe de Edigar, foi decisivo o crescimento de Zé Rafael. A partir do momento que percebeu que era ‘o cara’, ele se soltou e foi muito importante para o time.

E Hernane? Você conta com ele [o atacante tem contrato até o fim de 2018]?

Essa questão foi conversada ainda de forma superficial. Algumas posições radicais vamos tomar a partir de terça-feira [dia 2, véspera da reapresentação]. Hernane tem seu valor, foi um cara importante, mas, se vai continuar ou não, é preciso analisar. Tem algumas coisas sobre sua condição que preciso saber mais detalhadamente.

Queria finalizar a entrevista perguntando sobre a meta para 2018. Mas você já falou lá atrás, né?

(risos) A meta é fazer um ano melhor do que 2017, mas meu sonho é a vaga na Libertadores. Se o clube vai definir isso como meta, ainda será conversado. É um sonho, mas, com sete vagas, vejo o Bahia com condições. Além disso, é buscar o título no regional e no estadual, e fazer campanhas que elevem o nível do Bahia na Copa do Brasil e na Sul-Americana. Sempre gosto de colocar uma meta alta. Tem que mirar a lua, pois, se você errar e acertar as estrelas, tá valendo. E, quando você corre atrás de um sonho, o caminho é mais leve do que quando corre atrás de uma obrigação.

Autor(a)

Fellipe Amaral

Administrador e colunista do site Futebol Bahiano. Contato: futebolbahiano2007@gmail.com

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