E.C Vitória: as dívidas que ninguém vê

A transação de compra e recompra,
passivo e ativo, Vitória S/A e Esporte Clube Vitória, Paulo Carneiro e Carlos
Falcão voltam a ter destaque em matéria assinada por Adalton dos Anjos e
veiculada no Metro 1, na sua edição impressa desta sexta-feira. Assunto que
foge, em certo ponto, do torcedor comum, pois é preciso entender de administração
financeira e fiscal e, sobretudo, dos assuntos internos do Esporte Clube Vitória.

De um endividamento de R$86 milhões em 2007, para R$10 milhões em 2011. A redução brutal das dívidas do Esporte Clube Vitória ainda impressiona e levanta questionamentos entre torcedores, funcionários e opositores da atual diretoria do clube. Em uma década de muita transição na área contábil rubro-negra, com processos trabalhistas e compra e recompra de ações, sobram críticas à administração do clube.

O ex-presidente Paulo Carneiro é um dos que apontam problemas nas contas do clube. “Eles quiseram passar uma imagem para a comunidade esportiva de que o Vitória é um clube saneado. A vida do clube aparentemente é só que ele é sucessor da dívida do Vitória S/A”, afirma. O vice-presidente Carlos Falcão, no entanto, rebate a crítica e diz que o Vitória está com seus pagamentos em dia.

A verdade é que dois modelos de administração distintos para o clube fizeram com que hoje o Esporte Clube Vitória, que controla o Vitória S/A desde 2004, tenha que lidar com um passivo (despesas, dívidas, encargos e outras obrigações a pagar) de R$ 40 milhões, além de 113 ações trabalhistas ativas.

Segundo os opositores, grande parte das dívidas do clube está no Vitória S/A e não são divulgadas no Balanço do Esporte Clube Vitória. Já a atual diretoria diz que as dívidas foram renegocia das e que houve um aumento no faturamento de R$ 6 para R$ 34 milhões nos últimos cinco anos.


Vitória S/A: “Herança maldita”

Em 2000, o Esporte Clube Vitória fez um movimento inédito no futebol brasileiro ao ceder 50,1% das suas ações junto com os artigos de marca, contratos, publicidade, comunicação e receitas ao recém-criado Vitória S/A. A empresa de capital aberto tinha captado um fundo de investimento argentino — o Exxel — e passou a administrar o futebol rubro-negro. Segundo o presidente do clube na época, Paulo Carneiro, a negociação foi de US$6 milhões, e para o Esporte Clube Vitória sobrou apenas o patrimônio e o controle da equipe de remo.

 Para a atual diretoria, a venda das ações do clube deixou uma “herança maldita”. “A criação do Vitória S/A foi o maior erro cometido na história recente do Vitória, porque o clube abriu mão dos benefícios fiscais que tinha por ser uma entidade sem fins lucrativos”, opina Carlos Falcão. Já Carneiro diz que parte das dívidas é resultado da não negociação entre o clube e os trabalhadores.


Recompra de ações e clube-empresa

Quatro anos depois da venda das ações ao Vitória S/A, Paulo Carneiro decidiu recomprar as ações para o clube, que virou sócio único da empresa. “Renegociei as ações um ano antes de sair. As ações que vendi por US$6 milhões, recomprei por US$ 500 mil”, diz Paulo. No entanto, o valor divulgado pela imprensa ao fim da parceria com o Exxel foi de US$7,5 milhões — R$2,25 milhões de sinal e o resto em cinco anos.

Até 2010, o Vitória S/A administrou o futebol e, assim, o clube ficou quase sem atividades econômicas e dívidas. “Como eles já tinham resolvido o problema com os argentinos, não tinha sentido continuar com o [Vitória] S/A operando o futebol”.

“Eles voltaram a operar com o clube, porque o clube ficou como único sócio de futebol”, lembra Carneiro. Ele acrescenta que só os ativos foram transferidos de volta e as dívidas ficaram à sombra do Vitória S/A.


O futuro fim do Vitória S/A

Carlos Falcão e Paulo Carneiro concordam que o Esporte Clube Vitória é o responsável pelas dívidas do Vitória S/A. “Todo mundo que entra na Justiça contra o Vitória  S/A entra também contra o Esporte Clube Vitória”, afirma Carneiro.

Apesar disso, o atual dirigente tenta afastar o Esporte Clube Vitória do Vitória S/A, dizendo que a empresa tem uma administração própria e ressaltando os prejuízos milionários da diretoria anterior.  No entanto, Falcão admite que pretende encerrar a empresa que controlou o futebol rubro-negro durante quase dez anos. “O Vitória S/A está em fase de fechamento e, tão logo sejam resolvidos todos os problemas, será extinto”, revela. Enquanto tiver dívidas, porém, o Vitória S/A não pode ser fechado.

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