É justo o salário de um jogador de futebol?

Inglês ganha por semana o que um craque brasileiro leva alguns meses

Recentemente, o ministro do Esporte da Inglaterra, Gerry Sutcliffe, ficou indignado com os valores que cercam o futebol inglês. Disse achar obsceno o salário do jogador John Terry, capitão da equipe do Chelsea, que recebe mais de 200 mil euros por semana (cerca de R$ 500 mil por semana). O ministro inglês ainda lembrou que os Blues possuem um passivo de 360,5 milhões de euros (que equivalem a mais de R$ 900 milhões), concluindo que “uma dívida desta dimensão não é viável”.

Logo que soube da declaração do ministro de seu país, o presidente do sindicato dos jogadores, Gordon Taylor, se apressou em defender os ganhos dos atletas e quis saber se o ministro iria questionar os rendimentos do piloto de F-1, Lewis Hamilton ou do jogador de rúgbi, Johny Wilkinson, e acrescentou: “se há tanto dinheiro envolvido no jogo, não é justo que eles tenham algum”?

Estima-se que nesta temporada 2007/08 os salários de jogadores na Inglaterra giram em torno de R$ 4 bilhões. O salário de Terry é apenas um dos casos. Se compararmos com a realidade brasileira, o jogador britânico ganha numa semana o que vários craques dos principais times do Brasil recebem em alguns meses. Hoje, no país, são raros os casos dos atletas que conseguem ganhar mais de R$ 200 mil por mês.

Na temporada 2005/06, o clube inglês que mais arrecadou foi o Manchester United (242,2 milhões de euros), seguido pelo Chelsea (221 milhões de euros) e Liverpool (176 milhões de euros). É bom lembrar que a Premier League é o campeonato mais rico do mundo e para manter esse nível de receita, as equipes não medem esforços em contratar jogadores de alto nível.

Este fato, na verdade, é um dos dilemas da economia do futebol, pois se os gestores da equipe forem conservadores nos gastos com atletas, os times não serão competitivos e, conseqüentemente, o interesse dos torcedores em prestigiar sua agremiação nos estádios tende a diminuir, provocando uma queda no faturamento do Matchday (dia do jogo – que engloba não apenas a receita advinda com ingressos, mas também catering e outros itens). Se somarmos o faturamento desses três clubes apenas no item Matchday, chegaremos a um valor de 233,7 milhões de euros (quase R$ 600 milhões), na temporada 2005/6.

No caso do Manchester United, o dia do jogo é algo especial. Na temporada analisada, os Red Devils faturaram 103,1 milhões de euros (mais de R$ 260 milhões), contra 65,9 milhões de euros (R$ 167 milhões) da televisão e 73,6 milhões de euros (R$ 187 milhões, aproximadamente) em marketing. O Chelsea apresentou a seguinte receita: 83,4 (matchday), 76,1 (TV) e 71,5 (marketing). Liverpool: 47,2 – 72,0 – 56,8 – nos mesmos quesitos.

Brasil

De acordo com o especialista em marketing e pós-graduado pela Universidade de Barcelona, Amir Somoggi, da Casual Auditores Independentes, somando-se os valores dos 21 clubes brasileiros que mais faturaram em 2006, temos uma receita de R$ 987 milhões, sendo que apenas dois clubes ultrapassaram a casa dos R$ 100 milhões: São Paulo (o que mais arrecadou) e, logo atrás, o Inter de Porto Alegre.

Já os maiores salários do país, pertencentes a reduzidíssima elite, variam entre R$ 1 milhão por a R$ 3 milhões por ano. Mas, o fato é que quase a metade dos atletas em atividade no país vive de salário-mínimo (quando recebe). Quem sabe, este fato, ajude a explicar o motivo que leva os nossos jogadores a tentarem a vida no exterior.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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