Quando se aventa à possibilidade de um clube do Nordeste conquistar um título de âmbito nacional, do calibre do Campeonato Brasileiro da Série A, surge logo as dificuldades enfrentadas pelos clubes nordestinos em montar times competitivos para conquistar títulos tão expressivos, haja vista que concorrem com os chamados gigantes do Sul/Sudeste do país, clubes sediados em estados que integram as duas regiões de maior expressão econômica e de maior densidade populacional do país, cujo PIB nacional, representa um índice superior a 70% da riqueza do país, se somarmos o potencial econômico dessas duas importantes e potentes regiões desse imenso Brasil.
Na atual edição do Brasileirão, o mapa que representa a elite do futebol brasileiro está configurado com 2 clubes da região Centro-Oeste, 4 da região Nordeste, 4 da região Sul e 10 da região Sudeste, isso porque, ocorreu uma grande baixa em 2020 com o Cruzeiro debutando na Série B, mas, em contrapartida, houve o acesso do Bragantino que não disputava a Série A há mais de trinta anos e, mesmo não integrando à grade dos grandes clubes paulistas, é um clube emergente, de propriedade de um forte grupo econômico multinacional, com orçamento anual superior a 200 milhões de reais e pela campanha que vem realizando na competição, dá fortes indícios que veio para ficar.
O orçamento anual de um clube de futebol para um exercício fiscal, consiste numa estimativa de receitas previstas e aleatórias como, também, custos fixos previstos, não previstos e eventuais, cujos componentes, fazem com que se chegue a um valor presumível de uma receita que se não for o valor suficiente, seja o necessário para desembolsar durante todo o exercício e, dentre os vinte clubes que disputam à Série A, existem orçamentos e ORÇAMENTOS, haja vista que, enquanto o modesto Atlético Goianiense trabalhou em 2020 com um parco orçamento de 40 milhões de reais, o todo-poderoso Flamengo trabalhou com um orçamento de 726 milhões de reais, ou seja, uma receita dezoito vezes superior ao do clube goiano.
Já o Esporte Clube Bahia, estabeleceu para 2020, um orçamento de 179 milhões de reais, ou seja, quase cinco vezes a mais que o valor trabalhado pelo Atlético-GO. E é nesse parâmetro, que entro no cerne da questão, por entender que, enquanto o Dragão, sem nenhum jogador de destaque nacional, com uma folha de pagamento módica, dentro da sua realidade financeira, comandado por um treinador que fez carreira nas Séries B e C, vem fazendo uma campanha digna e segura, já flutuando na zona de classificação da Copa Sul-Americana, enquanto o nosso Super Homem vem agonizando na zona de rebaixamento ou próximo dela, com a segunda defesa mais vazada da competição, com chance real de rebaixamento, com jogadores badalados tipo Gilberto e Rodriguinho, pagando altos salários incompatíveis com o péssimo rendimento dos jogadores em campo, em síntese, um time apático, antipático, mambembe, covarde, conformado, sem vontade e sem tesão nenhum pra jogar futebol. Em contrapartida, salários pagos em dia, ótima estrutura para treinamento, mas, a resposta em campo é essa que o torcedor não suporta e nem tolera mais ver.
Citei como exemplo o Atlético Goianiense porque, além de ter o 20º orçamento dos clubes que disputam o Brasileirão, antes da bola rolar, naquelas tradicionais mesas redondas de TV e até, nas “resenhas” entre torcedores, o time goiano era tido como o “patinho” mais feio da competição, já que era considerado como um dos primeiros a ser rebaixado à Série B até porque, veio oriundo dela. Ledo engano, o time, repito, não possui nenhum medalhão, é organizado taticamente dentro de campo e é treinado por um profissional pouco conhecido no futebol brasileiro que é o Marcelo Cabo que, inclusive, já conseguiu um acesso do Dragão à Série A. Outro exemplo é o Ceará, que também tem o orçamento muito inferior ao do Bahia, mas tem um time muito superior, sendo campeão do Nordeste em cima do Tricolor em Pituaçu e atualmente brigando por vaga na pré-Libertadores.
Certa feita, ouvi uma fala do presidente Guilherme Bellintani, quando ele dizia que, a classificação dos clubes nordestinos no Brasileirão estava atrelada à injusta divisão das cotas de TV que sempre privilegiaram os grandes clubes do Sul/Sudeste do país, em detrimento aos clubes do Nordeste e demais regiões do país, mas, contrariando a tese de Bellintani de que os clubes com maiores orçamentos têm obrigação de obterem melhores classificações, o Bahia que tem o maior orçamento do Nordeste, era para conquistar todo ano o título da Copa do Nordeste, aliás, de 2013 para cá, só foi campeão em 2017, sem falar que em 2018 perdeu o título para o modesto Sampaio Correia em plena Fonte Nova, em 2016 foi eliminado nas semifinais pelo Santa Cruz na Fonte Nova, em 2019 foi eliminado na primeira fase pelo Sampaio Correa e em 2015 e 2020 perdeu o título para o seu carrasco Ceará.
Então, por tudo que já citei, chega-se à conclusão de que: o Bahia tem o maior orçamento dentre os clubes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, tem um excelente centro de treinamento, uma grande, fiel apaixonada e apaixonante torcida, mas, infelizmente, nas competições que vem disputando ao longo desses últimos três anos, não tem tido futebol para competir nem em campeonatos regionais, como aconteceu no ano passado, quando optou em participar do Baianinho jogando com o time sub-23 , mas, na hora da onça beber água, ou seja, na decisão do título, foi obrigado a utilizar o time principal que conquistou o título com as calças na mão, numa acirrada disputa de pênaltis, com o Atlético de Alagoinhas que foi muito superior nas finais da competição e o mesmo time principal que já tinha dado vexame na Copa do Brasil, sendo eliminado logo na estreia pelo River do Piauí entregou, de bandeja, ao Ceará o título da Copa do Nordeste, jogando com a mesma “raça”, “força”, “garra”, “disposição” e “vontade de vencer”, como temos observado ao longo do Brasileirão.
Em contrapartida, clubes como o Ceará, Atlético de Goiás, Fortaleza e Sport, com orçamentos muito inferiores e, consequentemente, com folhas de pagamento muito menores, estão na frente e têm tudo que o Bahia não têm: gestores que podem até gostar de marketing, mas, o futebol está sempre acima de tudo; têm uma política de contratações definida que consiste em contratar o jogador QUE É E NÃO O QUE JÁ FOI; tem jogadores que entram em campo, honrando e suando a camisa que veste e correspondendo ao salário que recebe, fazendo de cada jogo uma decisão, enfim, têm em seus quadros de jogadores à dirigentes, profissionais que se respeitam e respeitam o torcedor. Fortaleza e Sport, hoje são concorrentes do Bahia, mas pelo futebol apresentado, demonstram muito mais garra e vontade de querer fugir do rebaixamento, frisando que o time pernambucano há muito tempo sofre para quitar os salários, ainda assim, os atletas jogaram com raça e venceram o Bahia.
O Bahia é o maior clube do Nordeste, mas, vem sendo um time pequeno e acabrunhado que se acostumou e se acomodou em perder, sem mostrar reação, por isso, está fadado ao fracasso. É lamentável, mas, é fato consumado ou, a se consumar!
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.