O cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol para ter uma maldição, já os últimos mandatários estiveram ou estão metidos em algum rolo que passa pela gatunagem tradicional, surrupio de variados tipos, corrupção, lavagem de dinheiro, talvez por ser uma entidade privada e fora do alcance dos órgãos de controle. Os clubes? Ah, os clubes sempre estão prontos para prestigiar os presidente da CBF mesmo estando foragido ou dentro de uma cadeia nos EUA. Inovando no delito o atual, Rogério Caboclo é acusado de assédio moral e sexual contra uma secretária e o funcionário Fernando França, ambos os processos tramitam no conselho de ética da entidade e em ambos o presidente nega.
Porém, além destas acusações que são graves de acordo informações do Jornal Estado de São Paulo, o “presida” utilizou o avião da entidade ao menos 28 vezes entre junho de 2020 e junho deste ano para transportar parentes, amigos e até mesmo seu cachorro.
O jornal paulista teve acesso ao histórico de uso da aeronave oficial. De acordo com os registros, Paçoca, o cachorro da família, foi quem mais viajou: ele esteve presente em todas as vezes que o jatinho foi utilizado. A quilometragem percorrida de avião pelo animal corresponde a uma volta ao mundo.
As planilhas de voo obtidas pelo jornal são parte de auditorias internas que vêm sendo realizadas pela entidade com o objetivo de colaborar com a Comissão de Ética do Futebol para elucidar o caso da compra de uma aeronave que custou cerca de R$ 72 milhões à vista 4 dias antes de ser afastado do caso.
Conforme consta nos registros, o uso do avião da instituição era tão frequente que a esposa de Caboclo chegou a viajar sem o marido no dia 19 de janeiro de 2021, quando fez o trajeto do Aeroporto de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, ao Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo. A ponte aérea Rio/São Paulo era o itinerário padrão da família, que tem casa na zona oeste da capital paulista.
De acordo com a CBF, Caboclo tinha autonomia para decidir como utilizaria o serviço de transporte aéreo. A aeronave, porém, segundo a entidade, “não deve ser utilizada para fins não relacionados aos interesses da CBF”.
Caboclo explicou em nota que a CBF, entidade privada, disponibiliza o avião para o presidente fazer o trajeto entre a sede da confederação e a cidade de sua residência -que, no caso de Caboclo, fica em São Paulo. Como o presidente passa muitos dias no Rio de Janeiro por causa do trabalho, diversas vezes a família o acompanhou, ficando na residência do Rio e usando o espaço vago no avião para os trajetos de ida e volta
As viagens ocorriam geralmente aos sábados e, ao menos uma vez por mês, se tornavam um programa da família inteira. Era comum que o avião da entidade fosse usado para transportar o pai e a mãe de Caboclo, assim como a sogra, o filho, a nora e até os amigos do filho. Paçoca, o cachorro, estava presente em todos esses voos.
A presença de familiares e do cachorro do presidente afastado da CBF ocorria até mesmo em viagens com outros funcionários da entidade, como a realizada no dia 12 de novembro de 2020 – de Jacarepaguá a Congonhas – em que a esposa do dirigente o acompanhou em um voo com mais sete pessoas e a tripulação – sempre composta por piloto e o copiloto, além do cachorro Paçoca. Nesse dia, o Walter Feldman, então secretário geral da entidade, estava presente.
Os deslocamentos de membros da família entre o Rio de Janeiro e São Paulo eram constantes. De junho do ano passado a junho deste ano, ao menos um integrante da família fez uso da aeronave pelo menos uma vez por mês, com ou sem a presença de Caboclo. A frequência das viagens, no entanto, caiu este ano. Se em 2020 era comum que os integrantes da família viajassem uma vez por semana, em 2021 os deslocamentos se tornaram mensais.
O último registro data do dia 4 de junho deste ano, dois dias antes do afastamento de Caboclo de suas funções na presidência da entidade. Após a denúncia da secretária, as provas de uso indevido da estrutura da instituição em benefício próprio começaram a se avolumar.
Além disso, no período em Caboclo que geriu a CBF, foram gastos cerca de R$ 100 mil na aquisição de 171 garrafas de vinho com valores unitários que variavam de R$ 250 a R$ 1,8 mil.
As garrafas de vinho compradas pela CBF são citadas no depoimento prestado à Comissão de Ética do Futebol Brasileiro pela denunciante de assédio moral e sexual de Rogério Caboclo, que relatou episódios de consumo excessivo de vinho do chefe. O documento foi compartilhado com o Ministério Público Federal.