Já diz o ditado que “não se chuta cachorro morto”. E mesmo a minha rebeldia inata não costuma contrariar algumas máximas. Uma espécie de ressalva conservadora, que me habita. Mas deixando de arrudeio aqui, agora vou quebrar este padrão por uma causa nobre. Escrevi sobre a imoralidade da ideia da Superliga Europeia e anunciei que teria espaço para mais uma abordagem subseqüente acerca do famigerado Clube dos 13 brasileiro como ponto de partida. E é desse Clube do Bolinha nacional e adjacências que quero falar…
Em meio a todo rebuliço causado pelo anúncio e morte súbita da tal Superliga gringa, vários foram os posicionamentos de analistas e jornalistas esportivos, dada a dimensão e impacto da medida no mundo do futebol. Um deles, em especial, me chamou a atenção.
Pela personalidade do analista e pela menção ao finado Clube dos 13, que, para que fique bem claro, é o tal cachorro morto mencionado no enunciado.
Tenho profundo respeito e, em boa parcela, referência na atuação de Juca Kfouri enquanto jornalista esportivo.
Um dos principais críticos históricos aos desmandos e otras cositas màs da CBF há décadas. Muitas denúncias de escândalos, aprofundamento e combate ao esquecimento dos fatos na entidade partiram dele.
Mas, em contraponto, tudo que se situasse no lado oposto a questão CBF, também parecia “reluzir” demais ao colega.
Um desses fenômenos em que Juca sempre “dourou a pílula” é o Clube dos 13.
Nunca entendi tamanho entusiasmo dele com um projeto que já nasceu casuístico/oportunista (apenas de briga política com a CBF, sem proposta de mudança efetiva), sem motivação nobre, apenas sobrevivência elitista (apenas favorecer clubes apaniguados e hegemônicos), sem critério, ou mérito de disputa (excluindo clubes merecedores, ascendentes e por direito, “na vez”, vide o Guarani, vice campeão na bola em 86, alijado da dita “primeira divisão nacional” em 87, ano do embrião do C13).
E falando em paixões, a proposta aqui não é mexer no vespeiro sobre quem é o campeão brasileiro de 1987. Vai muito além da batalha jurídica Sport e Flamengo. Deixa isso para outra arena.
Voltando a Juca, só consigo atribuir tamanha simpatia/identificação ao C13 ao fato de que o grupo, no nascedouro, se situava em frente oposta a CBF e isso bastasse para Juca identificar um “aliado” na “cruzada” contra o pernicioso comando do futebol brasileiro. Não que seja pouca coisa, mas não é razoável a defesa cega de um pelo outro.
Eu, que não gosto de “calça de veludo, nem de bunda de fora”, rebato.
Talvez a fixação pelo finado Clube dos 13 resida também naquele orgulho tupiniquim de um pioneirismo que nunca passou de uma fantasia. Algo como um deja vu da frase clássica do “menino” Neymar: “saudade do que a gente ainda não viveu”.
Juca e boa parcela do jornalismo esportivo brasileiro alimenta um romantismo exacerbado, que na minha perspectiva é calcado única e exclusivamente em cronologia. Aquele conceito frágil de que a idéia de Liga no Brasil foi engatilhada 5 anos antes do maior exemplo mundial, a Premier League, que revolucionou o futebol inglês etc e tal.
Ora, há diferenças brutais no start de ambas propostas. A Premier já nasceu com clara diretriz de equilíbrio de forças, que no futebol passa fundamentalmente por distribuição mais proporcional de recursos, o que nunca, jamais foi princípio do Clube dos 13, muito pelo contrário.
A isso se somam diversos conceitos paralelos, bem definidos, que sequer aproximam a proposta brasileira de Clube dos 13 de algo próximo de uma organização coletiva de clubes do futebol brasileiro.
Mas, a despeito de todo histórico de defesa da justiça esportiva, de fincar pé na garantia de valores nobres desportivos nas disputas, Juca nem disfarça a contemporização (passada de pano mesmo) à desigualdade ensejada pelo C13 em 87. Cita ranking para justificar a não presença do Guarani, enaltece média de público, êxito de apelo midiático, atração de patrocinadores. Como se à Copa União e, exclusivamente a ela, valesse a concessão para os “fins justificarem os meios”.
Falando em relativismos voltemos ao que fomentou essa reflexão acima. Texto do próprio Juca sobre a natimorta Superliga Europeia: “há aspectos positivos e negativos, que precisam ser pesados a luz dos novos tempos”. Na mesma análise ele considera o tempo de apresentação inoportuno, mais que o projeto em si. Fala até mesmo em semente libertária. A quem?? A meia dúzia, ou mesmo uma dúzia inteira, de clubes??
Há situações em que o “nababesco” é aceitável, caro Juca??