Após o fim de ano frustrante em 2019, pela péssima campanha no segundo turno do Campeonato Brasileiro, quando chegou a sonhar com vaga no G-6, mas teve uma queda vertiginosa de rendimento e terminou a Série A na 11ª colocação, atrás de equipes com orçamentos menores, o Esporte Clube Bahia fecha 2020 de forma ainda mais melancólica. Dentro de campo, o ano definitivamente não foi bom para o Esquadrão. Mas, certamente, ninguém imaginava que seria assim. Em janeiro, a diretoria inaugurou o belíssimo CT Evaristo de Macedo, a Cidade Tricolor, uma grande conquista do clube. Para o elenco, contratou pouco e pontual. Chegaram Daniel, Zeca, Juninho Capixaba, Jadson, Rossi, Clayson e Rodriguinho, esse último cercado de muita expectativa, afinal, tratava-se do tão aguardado camisa 10, um jogador de qualidade, ainda que viesse de uma passagem ruim pelo Cruzeiro.
Podemos separar o ano do Bahia por duas partes: antes e depois da pandemia. Antes da paralisação do futebol, o time principal do Bahia entrou em campo dez vezes, incluindo Copa do Nordeste, Copa do Brasil e Sul-Americana. Foram 6 triunfos, 2 empates e 2 derrotas, 15 gols marcados e 6 sofridos, um aproveitamento de 66,6%. Porém, as duas derrotas em sequência foram bastante sentidas pelo torcedor, a primeira pela eliminação na Copa do Brasil para o modesto River-PI e a outra para o arquirrival Vitória, no clássico BA-VI na Fonte Nova, encerrando uma invencibilidade de três anos (12 jogos) sem perder para o Leão. Esse foi o primeiro momento de crise. Porém, o time de Roger Machado se classificou para a segunda fase da Sul-Americana e caminhava para confirmar a vaga nas quartas de final do Nordestão, e o treinador seguia bancado no cargo pela direção.
O futebol foi paralisado em março e retornou em julho. A reestreia do Bahia no ano foi com goleada sobre o Náutico, por 4 a 1, pela última rodada da primeira fase da Copa do Nordeste. Depois, eliminou Botafogo-PB nas quartas de final e o Confiança na semifinal, chegando em mais uma decisão de Nordeste, buscando o seu quarto título. Aí começaram os problemas. A equipe, que já não vinha apresentando um bom futebol, sucumbiu diante do Ceará de Guto Ferreira. Perdeu o primeiro jogo por 3 a 1 e o segundo por 1 a 0, ambos em Pituaçu, segundo título de Nordestão perdido na gestão de Bellintani, que também ficou no quase em 2018 diante do Sampaio Corrêa.
Após a perda do título, a torcida protestou pedindo a demissão de Roger Machado, mas a diretoria veio a público e bancou novamente o treinador, que acabou assumindo a equipe também na reta final do Campeonato Baiano depois do fim do time sub-23 que fez praticamente toda a campanha no Estadual. E por muito pouco não perdeu o Baianão para o Atlético de Alagoinhas. Foram dois empates em Pituaçu (0 x 0 e 1 x 1) e o tricampeonato baiano conquistado nos pênaltis com o time principal em campo. A diretoria e jogadores fizeram questão de enaltecer a conquista do tricampeonato baiano após 32 anos.
Ainda com Roger e sob muita desconfiança do torcedor, o Bahia iniciou o Campeonato Brasileiro vencendo os dois primeiros jogos, contra Bragantino e Coritiba, mas sem apresentar avanço no futebol. Depois engatou uma sequência de resultados negativos, e finalmente a diretoria se rendeu, aceitando que Roger já não era o nome “ideal” para comandar o time, demitindo o treinador após a derrota de 5 a 3 para o Flamengo, em Pituaçu, pela 7ª rodada. Cláudio Prates assumiu interinamente nos jogos contra Internacional e Grêmio, até a chegada de Mano Menezes, contratação exaltada pela diretoria por ser um treinador com títulos de expressão.
Mano chegou prometendo consertar os problemas defensivos do Bahia, pediu as contratações de Anderson Martins e Elias, dois jogadores que não vinham atuando na temporada. Perdeu os três primeiros jogos: Atlético-GO, Athletico-PR e Corinthians, chegando a entrar no Z-4 depois de dois anos, e a assumir a lanterna após seis anos. Apesar dos tropeços, muitos viam evolução no time dentro de campo. Veio o primeiro triunfo, contra o Botafogo, no Engenhão, e depois de algumas oscilações, o Bahia emplacou quatro triunfos seguidos. Todos pensavam que o time estava no caminho certo, mas tudo virou do avesso novamente. Mano não conseguiu dar jeito na defesa, que seguiu tomando gols e mais gols, voltando a ter a pior defesa da Série A. Após por Melgar e Unión Santa Fé, foi eliminado da Sul-Americana pelo Defensa y Justicia. No Brasileirão, amargou cinco derrotas seguidas, culminando com a sua demissão, após revés de 4 a 3 para o Flamengo no Maracanã.
Com o Brasileirão na reta final, a diretoria decidiu não procurar um novo técnico e efetivou Dado Cavalcanti no comando do time principal. A estreia do treinador não foi nada animadora. Vimos uma equipe novamente apática, com Gregore jogando quase como um ponta, e nova derrota, agora por 2 a 1, para o Internacional, no último jogo do ano. O Esquadrão igualou a pior sequência de derrotas de sua história no Brasileiro, em 1968. Além disso, se encontra em situação delicadíssima, ocupando a 16ª colocação, com os mesmos 28 pontos do Vasco, que abre a zona de rebaixamento.
Os números do Bahia em 2020: 61 jogos, 25 triunfos, 13 empates e 23 derrotas, 48,1% de aproveitamento, 81 gols marcados e 73 gols sofridos. O Bahia se despede do frustrante ano de 2020 com muitas decepções e inicia 2021 em busca da salvação. Diante do momento, alcançar a permanência na elite pode ser tratado como um “título”. Fora do campo, o ano do Bahia foi marcado pela reeleição de Guilherme Bellintani, que mesmo diante das críticas e em meio aos protestos, obteve 86% dos votos, e vai iniciar seu segundo mandato com a difícil missão de evitar o rebaixamento para a Série B, algo que seria trágico para um clube que ainda está em reconstrução. Entre as promessas do mandatário para o novo ano, está a reformulação geral do departamento de futebol, que já iniciou com a saída de Diego Cerri, que se despediu do clube no último dia de 2020. Resta aguardar mudanças também dentro de campo para o torcedor tricolor voltar a sorrir.