Sou um eterno apaixonado pelo futebol e tenho observado que, dos 1001 males, tragédias e transtornos que essa pandemia tem trazido à humanidade, infectando milhões e ceifando a vida de milhares e milhares de pessoas, além de causar estragos em todos os setores da economia, quebrando empresas e multiplicando o desemprego, tenho absoluta certeza de que um desses males atingiu, em cheio, o futebol que sempre foi considerado o “esporte das multidões”, em função de atrair milhares de torcedores aos estádios, mas, por ironia do destino, “multidão” é um dos termos mais execrados pelos cientistas e infectologistas, em função de ter tudo a ver com “aglomeração”, um entrave que, além de contrastar com o distanciamento social, tão preconizado pelos agentes sanitários, se constitui no maior vetor de transmissão da doença, sem falar do convencional aglomerado das 25 pessoas, somando o trio de arbitragem e jogadores que atuam dentro das quatro linhas, situação agravada pelos fortes e constantes contatos físicos entre atletas, muito comum durante uma partida de futebol.
A tristeza e a desolação, não se restringe, apenas, ao time mandante do jogo que quando entrava em campo já estava acostumado (pelo menos o meu Bahêa), a ser recepcionado pelo carinho do seu torcedor que já promovia uma festa, bem antes da bola rolar e mesmo durante o jogo, por mais que se apele a tecnologia do som ou vibração virtual, expediente muito utilizado pelas emissoras de TV, durante a transmissão de um jogo, ainda assim, fica muito distante da vibração presencial, de corpo e alma do torcedor. Também, bate uma tristeza no torcedor ao ligar a TV para assistir um jogo de futebol e, independentemente, dos times que vão jogar e ainda que perceba o barulho virtual e extensas bandeiras do clube estendidas nas arquibancadas, pode visualizar que as dependências do estádio se encontram desertas, apenas, com as presenças dos profissionais de imprensa que, por questões protocolares, não podem mais ficar à beira do gramado ou então, as presenças de alguns cartolas dos clubes que estão jogando, principalmente, o presidente do Bahia que nos últimos jogos, vem se constituindo no torcedor de maior protagonismo nas arquibancadas do estádio de PituAÇO.
Ademais, os transtornos causados ao futebol pela pandemia, não se limitam às situações supracitadas, haja vista que, torna-se incalculáveis os prejuízos financeiros que tem tido os clubes, federações e confederações, por conta dessa ausência de público no estádio, que tira a receita de bilheteria e, quem acompanha futebol sabe e, sabe muito bem que, se antes da pandemia, com o torcedor frequentando os estádios, gerando receitas nas bilheterias, os custos operacionais de um jogo de futebol já eram muito altos, imaginemos agora com tantas despesas pertinentes aos protocolos, testes e exames feitos em atletas, comissões técnicas, integrantes da arbitragem, enfim, quem está bancando toda logística que envolve um jogo de Série A B ou C, cujas competições já estão em andamento e, sem receitas oriundas das bilheterias, quem vem bancando essa conta? E ainda, tem o alto custo operacional do uso do VAR que, embora os jogos das Séries, B, C e D não tenham o privilégio de contar com sua a sua atuação ou a sorte de não contar, mesmo com seu altíssimo custo operacional, vem sendo utilizado em todos os jogos da Série A. Será que esses custos são deduzidos das cotas dos clubes ou bancados pela CBF?
Vale salientar que, como o futebol é uma atividade macro, um enorme empreendimento que movimenta, diariamente, incalculáveis fortunas, além de comandar um conglomerado diversificado de grandes, médios e pequenos negócios, dentre estes, estão às entidades que o administram, os clubes afiliados, atletas, arbitragem e já partindo para o estádio e seu entorno, quadro móvel de pessoal em dias de jogos, bares e ambulantes credenciados para vender nas dependências do estádio… E aqueles que comercializam suas bugigangas nos arredores do estádios: vendedores ambulantes que vendem o tradicional “churrasquinho de gato”, a água mineral, cerveja e refrigerante, caldo de cana, pipoca, acarajé, “amendoins” torrados ou cozido e o escambau de mussurunga, sem esquecer de taxistas, moto-taxistas, motoristas de aplicativos, guardadores de carros… Como se encontram essas categorias, que mesmo se quisessem tentar trabalhar no entorno do estádio em dias de jogos, seriam impedidas por conta da aglomeração! Certamente, uns estão sobrevivendo com o auxílio emergencial do governo, enquanto que outros, só Deus sabe! E qual o economista que seria capaz de calcular ou estimar esse enorme prejuízo motivado pela pandemia?
Para finalizar, é fato, que sempre em situações difíceis e negativas, extrai-se coisas positivas e, esses jogos que têm acontecido sem público nos estádios, têm causado situações neutras ou benéficas à muita gente. No caso de mando de campo, acho que o aparente favoritismo do mandante do jogo de vencer, foi descaracterizado, em função da ausência e incentivo do torcedor. Quanto as situações positivas, o que esses jogos sem público tem “livrado à pele” de treinadores e jogadores que estão com o conceito em baixa diante da torcida, não está em nenhum gibi. Imagino, após o Bahia ter jogado aquele pífio e improdutivo futebol e ter tomado 2 x 0 do Ceará, enfrentar o Palmeiras sábado em Pituaçu, com um público que estaria no estádio mais para protestar do que apoiar o time ou o seu treinador, que pressão esses caras seriam submetidos até o término do jogo, dependendo do placar.
Isso vale também, para o torcedor, o fator positivo de estar ausente do estádio, enfrentando os transtornos naturais para assistir um jogo de futebol e, quando a bola começa à rolar, se estressar e perder a paciência, ao assistir um futebol de péssima qualidade e, nesse caso, seria melhor está no conforto de seu lar, assistindo pela telinha, pois, se o jogo não estiver agradando, existe variadas opções de canais.
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.