Dentre as diversas máximas proferidas pelo saudoso governador Octávio Mangabeira, teve uma que se notabilizou e sempre é lembrada quando algum absurdo é registrado em nosso estado. O “Filósofo da Baianidade” como foi denominado o governador, sempre dizia: “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente! Ou, como diz o título da linda canção, “Só se vê na Bahia” letra de autoria do saudoso poeta, compositor e emérito professor de Língua Portuguesa, Jorge Portugal que nos deixou recentemente.
Fiz esse preâmbulo, por entender que tem tudo a ver com o comportamento desvairado do torcedor do Vitória nos últimos cinco dias, após as duas derrotas do Bahia diante do Ceará, vexame que, além de colocar em xeque o trabalho do treinador Roger Machado, que vem sendo muito questionado para continuar no Bahia porque não foi competente para conquistar o tão cobiçado título de campeão da Copa do Nordeste, o que deixou a sua torcida furiosa, não só pela falta de pragmatismo do time, mas, também, pelo futebol de várzea apresentado nas últimas partidas disputadas no PituAÇO, um estádio que o torcedor do Bahia tem um enorme carinho, pois foi lá que conquistamos o acesso em 2010, após sete anos ausentes da Série A.
Sabemos que é comum a rivalidade existente em várias capitais do país, onde há polarização de dois clubes de grandes torcidas como acontece com Grêmio e Inter em Porto Alegre, Coritiba e Atlético em Curitiba, Fortaleza e Ceará em Fortaleza, Remo e Paissandu em Belém, América e ABC em Natal Sergipe e Confiança em Aracaju, Atlético e Cruzeiro em BH – aliás, essa rivalidade é tão acirrada que, dizem que o torcedor do Atlético, quando está cantando o Hino Nacional e, chega na estrofe que diz: “A imagem do Cruzeiro Resplandece” é omitida para não “enaltecer” o rival -, sem esquecer de Bahia e Vitória, cuja rivalidade, é tão aguda que, tem torcedor que fica mais satisfeito com a derrota do rival do que o triunfo do seu próprio time.
De 2004 a 2010 quando o Bahia passou cinco anos na Série B e dois anos na Série C e, o pior, sem conquistar nenhum título, tomei meu “simancol”, tive a hombridade de reconhecer o fracasso do meu time de coração, adotei o silêncio e só me restou cumprir minha “sentença”, até o Bahia superar às dificuldades, demorou mas, superou e retornou à elite do futebol brasileiro. Lembro-me, muito bem, que foi uma época em que, o Vitória chegou a ser “solidário” ao Bahia em 2006 habitando, também o inferno da Série C, mas, foi competente e em 2008 já estava de retorno à Série A, enquanto que o Bahia, ainda se arrastava na Série B, situação que me deixava sem nenhuma razão ou moral para tirar sarro com o torcedor do Vitória, porque meu time permanecia numa divisão inferior e o rival já na Série A.
De uns tempos pra cá, os papéis se inverteram, mas, infelizmente, não tem existido “Simancol” alguns torcedores do Vitória. O time, nos últimos anos, vem comendo o pão que o diabo amassou, tanto nos gramados como no campo político, quando nos últimos sete anos, o clube já teve seis presidentes e a bancarrota do clube permanece, uma situação financeira tão grave que um ex-presidente da instituição chegou à expressar sua preocupação temendo o futuro do clube que pode se transformar num Galícia ou Ypiranga, sem falar que o time não conquista mais nada, nem competição à cuspe à distância porque, o único título que ainda conquistava era campeonato baiano e, além de já está com três anos sem conquistar nada, nos últimos dois anos, ficou em 5º lugar, não chegando nem às semifinais.
Mas, mesmo diante de todo esse quadro sombrio, com o time já na repetência na Série B, e sem perspectivas de lograr o acesso, com ameaças de perdas de pontos na competição em função de dívidas denunciadas na Fifa, salários de jogadores atrasados e o pior, na dependência do Bahia ser Campeão estadual para poder entrar direto na Copa do Nordeste 2021, porque se o time de Alagoinhas sagrar-se campeão, o Vitória terá que disputar à Pré para tentar se habilitar à competição. Diante de todo esse quadro de sofrimento e angústia o seu torcedor, aliando o maniqueísmo ao masoquismo, ainda se mostra alegre e feliz da vida e ainda tem a coragem e o prazer de fazer inúmeras gozações com o torcedor do Bahia que, apesar do time está convivendo com esse momento ruim, está num patamar muito superior ao do Vitória. Mas, como os absurdos têm precedentes no nosso estado, esse tipo de masoquismo, só se vê na Bahia.
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.