Reminiscências, fatos e "causos" do Futebol Baiano e do Rádio Esportivo

Reminiscências, fatos e “causos” do Futebol Baiano e do Rádio Esportivo

Histórias do nosso futebol e do rádio baiano. Por: José Antônio Reis

Reminiscências, fatos e “causos” do Futebol Baiano e do Rádio Esportivo

Sou um assíduo e pertinaz ouvinte de rádio desde meados dos anos sessenta quando o rádio era, praticamente, o único meio de comunicação de massa da população, numa época em que os baianos só dispunham da então TV Itapoan Canal 5, inaugurada em 1960 e, no final dessa mesma década, entrava no ar a TV Aratu Canal 4, na época, ambas às emissoras só iniciavam às suas transmissões a partir do meio-dia, com imagens em preto e branco. Enquanto isso, às emissoras de rádio de Salvador, principalmente, as quatro que tinham equipes de esporte que na época eram Rádio Sociedade da Bahia (a então PRA-4, que pertencia ao grupo das Emissoras & Diários Associados), Rádio Excelsior da Bahia, Rádio Cruzeiro da Bahia e Rádio Cultura da Bahia, as quais, invadiam os lares baianos.

 

As mais potentes que operavam através das antigas ondas médias, curtas e tropicais, transcendiam as fronteiras do território baiano com o seu sinal chegando a outros estados, enquanto as de menor potência que só operavam em ondas médias, o seu sinal era restrito a Salvador e adjacências, época em que, a Capital Bahiana contava com nada mais, nada menos com seis clubes de futebol: Bahia, Vitória, Galícia, Botafogo, Leônico (o Moleque Travesso) e o “caixa de pancadas” São Cristóvão que depois, foi substituído por outro “caixa de pancadas” chamado Redenção, cuja sede, ficava no Largo da Cruz da Redenção, em Brotas.

No período compreendido entre a década de sessenta e início da década de setenta, mesmo em se tratando de futebol profissional, ainda era tão elementar aqui na Bahia que, a maioria dos jogadores de futebol era capaz de faturar mais dinheiro com os ‘bichos” que os clubes pagavam por vitórias do que com o próprio salário, época em que, a Federação Bahiana de Futebol-FBF, promovia um campeonato baiano bem disputado, quando na década de sessenta, tivemos quatro clubes diferentes conquistando o título de campeão baiano: Bahia(4x), Fluminense de FS(2x), Vitória(2x), Leônico e Galícia, cada um com um título.

Existiam, também, muitos jogadores bons de bola, pelo Bahia: Baiaco, Amorim, Jair, Biriba, Roberto Rebouças, San Felipo, Zé Eduardo, Douglas, Beijoca (iniciando à carteira) e, para não dizerem que só falei de flores, o Bahia tinha um jogador chamado Gagé, que figurava na ponta direita, o qual, nem precisa eu adjetivar porque, se invertermos às sílabas da sua alcunha, já se sabe o nome que se forma. Nos demais clubes, tinha-se como destaques pelo Vitória, Detinho, Romenil, Tinho, Kleber Carioca, Kosilek, André Catimba. No Galícia, Adilson Paredão, Nelson, Valtinho, Nelinho, Telê. No Ypiranga, Catu, Pepeta e Ventilador. No Fluminense, Ubaldo, Sapatão, Merrinho, João Daniel e Freitas. No Leônico, Didico e Nelson Cazumbá.

Mas voltando ao primeiro parágrafo, não poderia e nem deveria esquecer que convivi com grandes jornadas e resenhas esportivas nas emissoras já citadas, ouvindo grandes narradores esportivos, uns ainda vivos outros, que já se foram, enfim: Nilton Nogueira, José Athayde Costa, Djalma Costa Lino, Sílvio Mendes, Vanderley Ribeiro, Fernando José, bem como, bons comentaristas: Virgílio Elísio, Edison Almeida, Souza Durão, José Domingos, enfim, tivemos também, grandes repórteres: Osvaldo Júnior, Cristóvão Rodrigues, Martinho Lélis, Jorge San Martin, e outros que me fogem à memória.

Apesar de tantos profissionais de primeira categoria que atuavam na época, quem chegou e “roubou à cena”, surgindo como, o maior mito do século no rádio esportivo da Bahia, o qual, com seu estilo próprio de se comunicar, arrebentou, revolucionou e modificou os costumes da radiofonia bahiana, através dos microfones da Rádio Cultura da Bahia, onde foi lançada a melhor resenha esportiva do meio dia, denominada “Resenha do Zé Veneno”, talvez, a primeira resenha esportiva a fazer entrevista ao vivo pelo telefone.

Esse fenômeno chamava-se França Teixeira que, juntamente, com outro radialista de nome Álvaro Martins, que ele denominava carinhosamente de “Ovaro Martins, o filho da Dona Marieta”, formaram uma ótima equipe de esporte que era líder absoluta em audiência no horário, quando em qualquer ponto da cidade, o som da emissora fazia eco. Nessa ocasião, França Teixeira, que parecia ter um olho clínico para descobrir talentos, além dos grandes profissionais que já integravam à sua equipe, resolveu lançar no rádio um garoto que na época, deveria estar com seus 12 ou 13 anos, como mais um dos integrantes da equipe da resenha que ele o chamava de “Bola de Gude”, cujo locutor-mirim, aproveitou a oportunidade que lhe foi oferecida, fez carreira e cresceu no rádio, tornando-se um respeitado cronista esportivo, um cidadão que possui DNA rubro-negro, que é o apresentador Renato Lavigne, o qual, comanda há mais de três décadas, no peito e na raça, um programa dedicado ao clube do seu coração que é o Esporte Clube Vitória.

Não poderia omitir nesse texto, dois fatos pitorescos, mas, relevantes, que aconteceram durante a brilhante passagem daquele ícone pela Rádio Cultura da Bahia que na época, funcionava na Av. Euclides da Cunha, próximo ao velho campo da Graça: O primeiro, se a memória não me traiu, aconteceu em 1969 quando o ex-preparador físico da Seleção Brasileira na Copa de 1966, Paulo Amaral, passou a ser treinador de futebol e era o técnico do Bahia, mas, França nunca conseguiu lhe”engolir” como técnico de futebol e, num belo dia, após abrir à resenha tocando o tradicional hino do Senhor do Bonfim, ele começou a criticar o treinador e, simultaneamente, rodando uma fita gravada com a “sonora” de um cavalo rinchando, o treinador ouviu, entendeu que a carapuça pegou nele e resolveu invadir o prédio da emissora, a fim de tirar satisfação com o apresentador. Este, conseguiu escapar pelos fundos da emissora e acabou não dando em nada. Já o segundo fato, este sim, agitou os bastidores do futebol brasileiro em 1971 que foi a impactante “contratação” do Rei do Futebol, pelo Bahia.

França era muito amigo do então presidente do Bahia, o magnata Alfredo Saad e este, amicíssimo de Pelé e aí, os três se combinaram e armaram a “cocó” para o torcedor tricolor. “Atenção senhores copiadores do Brasil; bomba! bomba! O Bahia está contratando o Rei Pelé e daqui a pouquinho, iremos entrevistá-lo para confirmar a negociação”! Foi mais ou menos assim, o anúncio da “contratação” do atleta do século, a qual, no final da resenha não se configurou em “Fake News” porque naquele tempo não existia rede social, muito longe disso, o que existia mesmo era “rebate falso” e foi o que aconteceu.”Ferro na boneca, minha cara e nobre família bahiana”!

Para finalizar, quero dizer aos leitores que tudo que escrevi, provém de esforço de memória, o que significa que não precisei “gugar” para obter informações, sendo a pura verdade, porque, há muito tempo – pertenço à Geração Baby Boomers – e acompanho, de perto, o nosso futebol. Pode até, haver algum equívoco de data ou do nome de algum personagem, como aconteceu no comentário que antecedeu a este quando, equivocadamente, dei o crédito a Aroldo Moreira da conquista do vice-campeonato da Copa Paulista de 2011 pelo Esquadrãozinho, quando na verdade, o técnico foi o Laércio Lopes, ao qual, peço minhas desculpas. Afinal de contas, ninguém é infalível e, se porventura, cometi algum equívoco no presente texto, já antecipo meu pedido de desculpas.

José Antônio Reis – colaborador do Futebol Bahiano.

 

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José Antônio Reis

Torcedor Raiz do Bahêa, aposentado, que sempre procura deixar de lado o clubismo e o coração, para analisar os fatos de acordo com a razão. BBMP!



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